Arquivo de Manoel de Oliveira é mostrado em Serralves A Bem da Nação

O cineasta João Mário Grilo é co-curador desta exposição, que, diz, se apresenta como uma espécie de “fragmento póstumo” da obra do realizador de Aniki-Bóbó.

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Fernanda Matos é a pequena Teresinha na primeira longa-metragem de Oliveira, Aniki-Bóbó DR

Cartas, fotografias de rodagem, biblioteca pessoal, guiões e documentação para a produção cinematográfica são alguns dos objectos do arquivo de Manoel Oliveira (1908-2015) para descobrir na exposição 1. A Bem da Nação (1929-1969), em Serralves (Porto), até 17 de Setembro.

"Esta exposição é um primeiro momento de um ciclo de exposições que incidirá sobre o arquivo do Manoel de Oliveira, integralmente depositado na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, em Serralves. Prevê-se que seja o primeiro de três momentos. Haverá ainda mais duas exposições que darão continuidade a este primeiro momento", explicou nesta quinta-feira o director da Casa, António Preto, em conferência de imprensa, para apresentar oficialmente aquela mostra.

1. A Bem da Nação (1929-1969), que abre ao público nesta sexta-feira, incide sobre os primeiros 40 anos da produção cinematográfica de Manoel de Oliveira – ou seja, situa-se entre 1929, o ano em que se inicia a rodagem do seu primeiro filme, Douro Faina Fluvial (1931), e o ano de 1969, que corresponde à época em que Manoel de Oliveira realizou As Pinturas do Meu Irmão Júlio (1965) e à criação do Centro Português de Cinema, a cooperativa "responsável por um novo fôlego do cinema português e especificamente da produção de Manoel de Oliveira, que obteve o primeiro financiamento", explicou António Preto, co-curador da exposição, com o cineasta João Mário Grilo.

O primeiro objectivo desta exposição é dar a conhecer o "fragmento póstumo", acrescentou, por seu turno, João Mário Grilo, declarando que a mostra é "uma espécie de filme não filmado que Manoel Oliveira deixou" através do arquivo que o realizador fez em vida.

Sob o título A Bem da Nação, expressão conhecida durante o fascismo português e usado em centenas de documentos oficiais de que Manoel de Oliveira foi destinatário durante a ditadura de Oliveira Salazar, tal como milhões de portugueses, a exposição revela igualmente a totalidade da biblioteca do realizador. Entre as centenas de livros, destacam-se obras de literatura portuguesa, como as de Camilo Castelo Branco, José Régio e Agustina Bessa-Luís, escritores de referência para a sua cinematografia, a par de obras de literatura estrangeira de autores como Alexander Soljenítsin, e o seu Arquipélago de Gulag, Leon Tolstoi e Fiódor Dostoiévski.

Para João Mário Grilo, esta exposição é um tributo que se presta a uma "figura histórica que é incomensurável em Portugal".

Em A Bem da Nação, a mostra, acede-se à "intimidade" dos processos criativos do realizador, reavaliando as suas dúvidas e as suas convicções, as persistências e inversões de percurso que fazem dele um dos artistas mais irreverentemente inventivos dos últimos 100 anos. A exposição é um verdadeiro "desarquivar do arquivo", de "ouvir o que ele nos diz e de mostrar o que ele nos mostra". "É tanto um estaleiro como uma chamada de trabalhos, um work in progess", lê-se no dossier de imprensa entregue aos jornalistas.

"É uma obrigação da Casa do Cinema mostrar o espólio do realizador", observou João Mário Grilo, avançando que a próxima exposição vai ser sobre o filme Amor de Perdição, baseado na obra homónima de Camilo Castelo Branco, que classificou como "revolucionário" na história do cinema português, com as suas quatro horas de duração.

A filmografia de Manoel de Oliveira entre o período 1929-1969 inclui Douro, Faina Fluvial, Aniki-Bobó (1942), O Pintor e a Cidade (1956), O Pão (1959), Acto da Primavera (1963), A Caça (1964) e o já citado As Pinturas do meu Irmão Júlio.

A exposição 1. A Bem da Nação (1929-1969) vai ficar patente ao público até 17 de Setembro. É a primeira de um ciclo de intitulado Manoel de Oliveira e o Cinema Português, com o objectivo de dar a conhecer o arquivo do realizador, elaborado ao longo de mais de 80 anos de trabalho, e integralmente depositado em Serralves.

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