Durante o século XX, assistiu-se a uma forte variação na tendência populacional da cegonha-branca, a qual foi testemunhada em toda a área de ocorrência da espécie.
Até meados da década de 80, o número de cegonhas diminuiu drasticamente e a espécie chegou mesmo a desaparecer de alguns locais de nidificação. Face a tão acentuado declínio, chegou-se a temer pela extinção da cegonha-branca, tendo sido realizadas várias campanhas de conservação e sensibilização dirigidas à espécie.
As causas apontadas para esta redução populacional são as mais variadas. A principal responsável deverá ter sido a seca prolongada do Sahel Ocidental, na África subsariana, onde a espécie inverna tradicionalmente. Este fenómeno climatérico traduziu-se numa menor disponibilidade de alimento e, consequentemente, na maior mortalidade da espécie.
A utilização de pesticidas generalistas que afectaram toda a cadeia alimentar, assim como a destruição dos habitats naturais (em particular dos habitats aquáticos interiores) e a perseguição da espécie por abate a tiro e a armadilhagem, parecem também ter contribuído para o declínio da espécie.
No final da década de 80 houve uma inversão desta tendência negativa e aos poucos a cegonha-branca começou a reocupar antigos ninhos e colónias. Em simultâneo verificaram-se alterações significativas nos hábitos da espécie no nosso país. O lagostim-vermelho do Louisiana (Procambarus clarkii), uma espécie exótica invasora que foi introduzida na Península Ibérica na década de 70, passou a ser uma importante fonte de alimento desta ave. Por outro lado, as cegonhas-brancas começaram a alimentar-se em lixeiras e, mais tarde, em aterros sanitários, aproveitando os desperdícios orgânicos.
Estes novos recursos alimentares e a grande adaptabilidade da espécie podem mesmo explicar porque são cada vez mais as cegonhas que passam o Inverno em Portugal.
Actualmente, a população da cegonha-branca continua a crescer. No último censo nacional, realizado em 2004, constatou-se que a espécie aumentou cinco vezes face à década de 80, para valores semelhantes aos de metade do século XX.
Com o sucesso em termos da recuperação desta espécie, iniciou-se assim um novo capítulo na história da cegonha-branca. Em Portugal, esta carismática espécie está hoje classificada com estatuto de conservação “pouco preocupante” pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.