Ecosfera

Borboletas

Imagens do Borboletário do Museu Nacional de História Natural e da Ciência

As borboletas no casamento levaram a noiva às lágrimas — e milhares de desconhecidos também

“Foi a coisa mais louca de se ver”, disse a fotógrafa Brit Perkins. “Nunca tinha visto nada assim”.

O casal Amy Rose e Matthew Perry Brit Perkins

No primeiro aniversário da morte do seu pai, uma borboleta-monarca pousou em Amy Rose Perry. Desde então, ela vê as borboletas como um símbolo do seu falecido pai. “Sempre que é um dia importante, como o aniversário dele ou o Dia do Pai, vemos sempre uma borboleta”, diz a jovem de 32 anos. “Sempre acreditei em sinais e que os nossos entes queridos ainda estão connosco e a olhar por nós.”

O pai de Amy, Nathaniel Machain, morreu, em 1999, depois de ter vivido três anos com cancro. Ele tinha 36 anos e ela 7. “Demorei muito tempo a processar o luto”, confessa Amy, a mais velha das duas filhas de Machain. “A sua morte numa idade tão jovem deu-me uma grande perspectiva sobre a forma como vivo a minha vida.”

Pouco depois de ter ficado noiva de Matthew Perry, no ano passado, quis encontrar uma forma de incluir a memória do pai na cerimónia do casamento. A libertação de borboletas-monarca, decidiu, permitir-lhe-ia “ter um símbolo tão forte dele a rodear-nos nesse dia”.

Como se veio a verificar, as borboletas não só a rodeariam, como se agarrariam a ela. Quando Amy Rose Perry abriu um recipiente de vidro para libertar cerca de 50 insectos de asas laranja e pretas, esperava que voassem para longe. Em vez disso, pousaram em Amy, na sua irmã e no seu novo marido. “Foi realmente indescritível”, lembra, com lágrimas nos olhos.

As borboletas permaneceram sobre eles durante cerca de dez minutos, enquanto Amy e os convidados do seu casamento estavam atónitos com a bela e inesperada visão. Um vídeo que captou o momento tem milhões de visualizações nas redes sociais e desencadeou uma cascata de comentários emotivos de apoio de pessoas que ficaram comovidas e partilharam as suas próprias histórias de sofrimento. “Perdi o meu pai e a minha mãe diz sempre que ele era uma borboleta”, escreveu um comentador.

Amy afirma que sabe que muitas pessoas não acreditam em sinais do universo ou em sinais de entes queridos perdidos. Mas, para ela, é algo a que se agarrou desde a infância e que a ajudou a lidar com a sua dor intensa e a sentir-se próxima do pai. “Tenho tanta sorte por ter tido um sinal tão forte de alguém que eu queria tanto que lá estivesse”, diz sobre as borboletas, acrescentando que o encorajamento de estranhos desde que o vídeo foi colocado online pela fotógrafa Brit Perkins tem sido esmagador no melhor sentido.

O vídeo, que chamou a atenção dos meios de comunicação locais e nacionais, tem mais de dez mil comentários. “O vosso pai foi uma parte muito importante do vosso dia especial. Que ele esteja a descansar em paz”, escreveu um internauta. “Isto fez-me chorar. Ele estava a rodeá-la com o seu amor”, escreveu outro. “Todas aquelas borboletas eram ele a abraçá-la... Ele estava lá e estava orgulhoso”, escreveu um terceiro.

Embora Amy tivesse o seu pai por apenas sete anos, ele deixou uma impressão profunda e duradoura nas filhas. Amy descreve Machain como “a alegria da festa”, que iluminava todas as salas com a sua personalidade vivaça. “Ele tornava os momentos normais extraordinários”.

Ela descreve o pai como um ser generoso, mesmo quando ele estava a lutar pela vida. “Mesmo quando estava a lutar contra o cancro, colocava todos os outros em primeiro lugar”, recorda.

Num dos seus últimos dias de vida, escreveu cartões às duas filhas para assinalar os marcos futuros após a sua morte, tais como aniversários, formaturas e casamentos. A mãe de Amy deu-lhe o cartão de casamento para ler depois da festa de despedida de solteira, cerca de um mês antes do cerimónia, sabendo que seria demasiado doloroso lê-lo pela primeira vez no grande dia. Ela não fazia ideia de que o pai lhe tinha escrito. “A primeira linha é: ‘De todos os cartões que te escrevi, este é de longe o mais difícil’”, cita Amy.

“Fiquei realmente a pensar na perspectiva dele e em como deve ter sido difícil para ele escrever, sabendo que nunca poderia levar-me ao altar”, reflecte. “Mas ser capaz de me dar esse presente de ter suas palavras para o dia foi realmente, realmente altruísta e corajoso e fala muito sobre quem ele era como pessoa.”

Amy também atribui o mérito à sua mãe, que a acompanhou ao altar, por ter ajudado a levar por diante o legado do seu pai. “Quando o marido estava a morrer de cancro, ela pensou em nós e tirou fotografias e fez vídeos para que pudéssemos manter viva a sua memória”, conta.

Apesar de há muito sentir um vazio no coração por causa do pai, Amy disse que, depois de ficar noiva, esse vazio aumentou ainda mais. “O processo de planeamento do casamento foi muito emotivo para mim”, conta. “Não o ter por perto para grandes marcos da vida como esse foi muito difícil.”

Em muitos aspectos, diz Amy, o marido faz-lhe lembrar o pai. Tal como o seu pai, Matthew é “incrivelmente carinhoso, paciente e correcto”. Antes de a pedir em casamento, “ele levou a minha mãe e a minha irmã à campa do meu pai para pedir autorização aos três”, exemplifica Amy.

Durante o seu casamento, em Cape Cod, no mês passado, quando ela libertou as borboletas, foi reproduzida uma gravação áudio do seu pai de um antigo vídeo caseiro. Nela, ele diz: “Um abraço e um beijo para as minhas meninas” — que é como ele costumava chamar Amy e sua irmã, Molly, de 30 anos.

À medida que as borboletas eram libertadas e depois se prendiam aos noivos, os convidados não retiveram as lágrimas. Quer sentissem o pai dela lá ou não, os convidados disseram que foi uma visão deslumbrante. “Foi a coisa mais louca de se ver”, conta Perkins, uma fotógrafa de Boston, que registou as imagens do casamento e colocou fotografias e um vídeo online para o público ver. “Nunca tinha visto nada assim.”

Leslie Ries, especialista em borboletas e professora associada de biologia na Universidade de Georgetown, explica: “Não é um comportamento que eu esperasse de todo. As monarcas não são uma espécie que costume pousar nas pessoas.” E acrescenta: “Posso sentir e imaginar como ela se sentiu naquele momento e posso entender porque foi tão profundo.”

Ries frisa que os biólogos geralmente desencorajam a libertação de borboletas por várias razões, incluindo o facto de as monarcas criadas em cativeiro poderem transportar doenças para as populações nativas. Mas diz reconhecer que as acções permitem às pessoas “experimentar a magia destas borboletas”. A empresa que Amy utilizou para a sua libertação, a Michigan Native Butterfly Farm, afirma que segue directrizes rigorosas para evitar doenças nas suas borboletas.

“Quanto mais as pessoas se preocuparem com as borboletas, mais poderemos dar grandes passos para as conservar”, observa Ries, que sugere a Amy e outras pessoas que gostam de borboletas considerem a possibilidade de criar um jardim para elas.

Durante séculos, muitas culturas e religiões acreditaram que as borboletas representam as almas dos entes queridos. Também se sabe que são atraídas para as campas por causa de certas flores e plantas.

“A morte é um conceito tão assustador e desafiante para as pessoas, e ter a esperança de que eles ainda estão connosco é incrivelmente poderoso”, observa Amy. “Tem sido muito emocional e reparador.” Até porque, diz, sentiu-se muito próxima do pai no dia do casamento, e esse é um sentimento que nunca esquecerá. “Senti verdadeiramente a presença dele, e a presença e o amor de toda a gente foi ampliado naquele momento. Foi uma das coisas mais bonitas que já vi.”


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Carla B. Ribeiro

Amy Rose Perry e Matthew Perry Brit Perkins
As borboletas ficaram com Amy mesmo depois de finda a cerimónia de casamento Brit Perkins
Nathaniel Machain com as suas filhas, Molly e Amy, numa fotografia sem data Foto de família