Vontade de fazer mal e perigo iminente

“Ele que se cuide.” É isto uma ameaça? Diz o dicionário: “Palavra, gesto ou acto com que se exprime a vontade de fazer mal a alguém, caso não faça o que se pretende.” E mais acrescenta sobre (e não sob) “ameaça” — palavra de origem latina: “Manifestação, sinal que leva a acreditar que algo de desagradável ou temível pode ocorrer.” E ainda: “Advertência.”

Quem fez um “aviso” assim na terça-feira, via Diário de Notícias, foi Mário Soares, ex-Presidente da República, ao juiz Carlos Alexandre, por este ter ordenado a prisão preventiva de José Sócrates, ex-primeiro-ministro. Provavelmente, quis alertá-lo para a possibilidade de também ele poder vir a ser “ex”-magistrado.

“Carlos Alexandre que se cuide”, escreveu. A Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) não gostou e em comunicado fez saber que “os juízes portugueses não podem silenciar a ameaça proferida”. Crime (eventualmente), disseram: “O presidente da ASJP, Mouraz Lopes, admite que, ‘como é lógico e evidente lendo a lei’, as declarações de Soares poderão eventualmente configurar um crime de coacção sobre um titular de um órgão de soberania.”

O verbo “ameaçar”, ao terceiro sentido, conforme o dicionário, quer dizer: “Dar mostras de que algo de desagradável ou de temível pode acontecer.” Daí o conselho do ex-Presidente.

Sinónimos: “Intimidar” e “amedrontar”. Na linguagem europeia e em se tratando de negociações do BCE com a Grécia e outros “países falidos”, opta-se pelo verbo “pressionar”. Parece mais civilizado. É uma ameaça de gravata.     

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