Pedo-espanque, uma modalidade com futuro

Alguma vez terá havido Governo mais empenhado na saúde dos portugueses? Não creio. Este ficará na história por ter lançado a maior campanha de incentivo à prática da actividade física.

Vê-se que o empenho do Executivo é total quando até o Ministério da Justiça (MdJ), que não teria nada que ver com o assunto, se envolve com tanta dedicação na causa. Designadamente, através da elaboração da (irrepreensível a nível atlético) Lista de Pedófilos.

Para estimular os portugueses a porem-se em forma, já se apelou ao medo (perigos da obesidade), à ganância (baixa do IVA dos ginásios) e à vaidade (moda das calças skinny fit). Sem resultados. Foi preciso vir gente de outro sector, com uma abordagem arejada, para perceber que a melhor motivação é o ódio.

Com base nisso, os técnicos do MdJ cruzaram tendências da Educação Física e da justiça popular e criaram o pedo-espanque, uma mistura de cross fit com linchamento. Também inclui informática: antes de iniciar o treino, há que aceder à lista de pedófilos da área de residência e seleccionar o condenado por crime sexual a quem se vai dar uma carga de pancada.

O pedo-espanque é uma actividade completa que vai buscar movimentos a vários desportos. A perseguição implica running ou spinning (o pedófilo anda muito de bicicleta). A surra propriamente dita envolve boxe (socos), futebol (pontapés) e judo (depois de esmurrar, tira-se o cinto e aplicam-se valentes nalgadas). Requer ainda domínio do halterofilismo (técnicas de levantamento para erguer contentor do lixo), basquete (para afundá-lo na cabeça do molestador) e pilates (usando o core). Do ioga importa a paz de espírito. E da zumba traz a alegria contagiante.

É um exercício que melhora o tónus muscular, fortalece as articulações e ajuda a construir um mundo melhor. Além de prevenir o aparecimento de doenças cardiovasculares. Muitos AVC são causados pela notícia: “Diz que o vizinho do 5.º andar é pedófilo.”

Como todas as modas de ginásio, há o risco de o aumento de praticantes gastar o stock de pedófilos disponíveis. Aconteceu o mesmo quando houve a mania do vibroplate, a placa vibratória que fazia tremer a chicha. Na altura, esgotaram-se as peças para arranjo das máquinas de lavar a roupa, avariadas por desportistas que se sentavam em cima delas durante a centrifugação, para enrijarem as coxas.

Se acabarem os pedófilos, o MdJ publicará listas com outros meliantes a sovar, tipo agressores domésticos, condutores embriagados, recicladores baralhados ou atravessadores fora da passadeira. O que vai tornar o pedo-espanque ainda mais eficaz: às tantas, um atleta que se exercite a perseguir um estacionador em segunda fila pode estar a ser perseguido por ser reincidente a não apanhar o cocó do cão. Como presa e caçador, exercita-se a dobrar.

Já está em fase de testes uma daquelas apps* irritantes que avisam os amigos de quanto durou o treino e quantas calorias foram gastas. Também permite avaliar o pedófilo que se perseguiu e postar logo crítica no Facebook. Dá até para elencar uma lista de favoritos, com apreciações sucintas: “Aníbal Sousa: corre muito, esconde-se bem, mas, uma vez agarrado, não se defende. Ideal para treino de resistência aeróbia.”

* A app só estará online em 2016. Foi encomendada à mesma empresa que instalou o Citius

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