Vamos colocar este Sequeira no lugar certo

Porque é que eles querem patrocinar o Sequeira?

Quais são as razões que levam as pessoas a participar na campanha pública de angariação de fundos Vamos Pôr este Sequeira no Lugar Certo? A resposta é dada ao PÚBLICO pelos próprios patrocinadores, cerca de duas semanas depois de o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) ter lançado a iniciativa para comprar a Adoração dos Magos (1828) do pintor português Domingos Sequeira (1768-1837), à venda por 600 mil euros, e actualmente nas mãos de um privado que quer manter o anonimato. 

Pixel a pixel, os patrocinadores da campanha compraram, nos últimos 18 dias, 8,6 % da obra - o que corresponde a um donativo total de cerca de 55 mil euros, mais precisamente 55.808,66 €, e a 903.114 pixéis num total de 10, 8 milhões de pixéis. A iniciativa, que junta também o PÚBLICO, a Direcção-Geral do Património Cultural e tem como parceiros a agência de publicidade Fuel, a Fundação Millenium BCP e a RTP, persuadiu particulares e empresas, portugueses e estrangeiros – pessoas seduzidas pela inovação da campanha e motivadas pelo gosto e valorização da arte, espírito de cidadania, orgulho na produção artística nacional e histórias de família.

 

Teresa Freitas, 24 anos: "Os museus são tesouros partilhados com o público"

“Para além de ser inédita, [a campanha] é uma alternativa viável para um museu fazer crescer a sua colecção. A ideia foi brilhante, pois permitiu que todos os portugueses contribuíssem para colocar uma obra importante nacional no museu certo. Os museus são tesouros partilhados com o público, e há um espaço muito especial para esta jóia. É uma obra excepcional e foi uma forma inteligente de fazer com que muitos portugueses passem a conhecer a obra de Sequeira. Num sentido mais egoísta, gosto de pensar que contribuí para isso! Uma pequena, pequeníssima, parte do quadro - que é muito importante para a história da arte portuguesa - é minha.”

Luís Miguel Côrte-Real, 25 anos: "Pioneira pela forte aposta nas redes sociais"

“Considero a campanha pioneira pela forte aposta na mobilização via redes sociais. O grande ponto positivo de uma campanha como esta foi a capacidade de gerar muito interesse em prol de um quadro que para muitos era desconhecido mas que se assume como um bastião da cultura e da arte clássica portuguesa, tudo isto de uma forma simples, directa e online. A minha opinião é a de que, enquanto cidadãos, temos que ter uma consciência mais activa em defesa da arte portuguesa e isso passa por aproveitarmos uma oportunidade como esta para nos manifestarmos a favor de esta obra poder ficar à disposição do público em geral. O Museu Nacional de Arte Antiga já é um dos melhores museus do país mas poder dar o meu contributo pessoal para o ajudar a aumentar o seu espólio e o nosso património colectivo e sociocultural de uma forma tão directa foi o factor decisivo para mim.”

Henrique Pereira, 26 anos: "A contribuição é importante seja qual for o montante"

“Considero que esta campanha é um ponto de viragem para o marketing do MNAA, ou seja, leva a uma aproximação mais ‘pessoal’ da população e apela à importância deste tipo de aquisição de bens culturais que são propriedade de todos nós e aos quais temos o direito de aceder e o dever de proteger. O uso da tecnologia faz esta mediação para ‘seduzir’ e ‘atrair’ todo o tipo de pessoas (muitas das quais se calhar até nem conhecem o autor ou a obra), que contribuem de maneira quase 'instantânea'. A instituição oferece regalias para quem fizer contribuições, o que também torna isto mais do que uma simples doação. Além disso, o reconhecimento dos patrocinadores como ajudantes na salvaguarda deste tipo de bens ajuda a demarcar o MNAA como uma instituição que procura modernizar-se e tornar-se ainda mais acessível e importante como marco da cultura portuguesa. Até ao momento a adesão tem-se mostrado bastante popular, o que também ajuda mostrar a preocupação que a população portuguesa tem por este tipo de bens. No fundo, só trouxe benefícios para todos nós. Contribuí porque sou uma pessoa licenciada em História da Arte, reconheço pessoalmente o valor da obra do Sequeira não só enquanto artista, mas também por ser uma mais-valia no espólio cultural de obras do MNAA. Além disso, reconheço a dificuldade de aquisição deste tipo de obras.”

António Mont’Alverne, 27 anos: "A minha família paterna é Sequeira"

“Creio que a campanha foi algo totalmente inovador em Portugal. O facto de cada português poder contribuir para que uma obra de tal importância possa vir a estar exposta no Museu de Arte Antiga é algo que nunca me passaria pela cabeça. Por pouco que seja, acho que todos deveríamos ajudar e assim chegar ao valor necessário. A minha família paterna é Mont'Alverne de Sequeira, de maneira que apesar do Domingos não ser meu parente directo (uma vez que adoptou o sobrenome de um Padrinho Cerqueira, e posteriormente o alterou para Sequeira) despertou em mim um interesse já há vários anos, pois sou um interessado por genealogia e mal vi uma rua no Porto com o nome Domingos Sequeira, procurei imediatamente saber mais sobre o mesmo. Mal soube da campanha não hesitei em participar, pois sendo um artista de renome internacional, vi nesta campanha uma forma de todos os portugueses poderem actuar de forma directa na cultura do nosso país, fazendo com que uma das obras mais importantes de Domingos Sequeira possa ser visível a qualquer cidadão, seja ele português ou não.”

Sílvia Dias, 29 anos: "Um agradecimento pelas iniciativas do MNAA"

“Acho a iniciativa óptima. Primeiro, é uma boa forma de fazer com que as pessoas se sintam mais ligadas ao quadro. Não é todos os dias que podemos passar por um quadro deste calibre e dizer 'olha, aquele bocadinho ali que comprei é meu, e é também por minha causa que este quadro pode ser visto por todos'. No fundo, é impossível não nos sentirmos parte de um bem maior. Depois, porque sei como os museus em Portugal têm lutado contra a falta de verbas que existe na área da cultura, e se o Governo não os apoia e se quem ama a cultura puder apoiar nem que seja com menos de um euro, porque não? É menos um café nesse dia e é mais uma ajuda a quem precisa. Decidi participar porque acho o quadro incrível e é uma pena que não esteja no museu onde deve estar. Também encarei a minha participação como um agradecimento pelas iniciativas do MNAA, especialmente esta última Coming Out, em que levavam a arte às ruas. Acho essa integração da arte no dia-a-dia uma coisa que pode e deve ser incentivada e louvada. Por outro lado, acredito que se todos dermos um bocadinho, o fardo torna-se mais leve. Mas esta minha visão não se aplica só a isto, aplica-se a outras áreas da sociedade, por isso esta participação foi algo natural e lógico para mim.”

Gonçalo Correia, 35 anos: "Em Portugal há muito pouco mecenato"

“Acho que a campanha é muito interessante e de louvar já que em Portugal há muito pouco mecenato comparando com outros países. O mecenato em modo de fundraising é bastante apelativo porque faz gerar um movimento de apoio em torno de um determinado objecto ou investimento que ajuda a justificar a importância do financiamento e a identificar esse mesmo objecto com as pessoas que poderão dele usufruir no futuro. Não sou da opinião de que apenas o orçamento central deve financiar os museus ou que os mecenatos devam ser distribuídos de forma proporcional pelos vários museus nacionais. Tem de haver espaço para a criatividade das equipas museológicas, no sentido de organizarem melhor as suas exposições e criarem verdadeiras dinâmicas em torno dos seus acervos. Os que melhor fazem esse trabalho devem ver o retorno directo do seu esforço. Decidi contribuir porque o museu é um dos meus favoritos em Lisboa. Sou lisboeta mas encontro-me a dar aulas na TU Delft na Holanda. Apesar da distância, quero o melhor para o Museu de Arte Antiga e quero que a colecção continue a melhorar de ano para ano. Já estive em muitos museus do mundo e sei que este tem muita qualidade. Tudo o que pudermos fazer por pouco que seja para o fortalecer, devemos fazê-lo. E assim não dá trabalho nenhum. Cinco euros não são nada para mim mas contribuem para trazer este quadro para dentro das Janelas Verdes. Além de tudo isso sou um patriota, quero sempre ver o meu país melhor do que estava no passado.”

Bruno Mendes, 38 anos: "Campanha simples, directa e inteligente!"

“Eu acho a campanha muito boa. Penso que é positivo envolver mais a sociedade civil nestes temas e tornarmo-nos também mais responsáveis no enriquecimento cultural da nossa sociedade. Acho que a forma como a campanha foi montada - o dinamismo no contributo, sob a forma de parecer que estávamos a ‘comprar’ uns pixéis da obra - também contribuiu muito para o seu sucesso! Decidi contribuir porque me identifiquei com o espírito da campanha e com a forma como foi elaborada - simples, directa e inteligente! Acho que, cada vez mais, nós cidadãos temos que contribuir com o que pudermos para estas e outras questões da nossa sociedade.”

Miguel Jalôto, 39 anos: "Gostaria só de ter mais dinheiro para ajudar mais"

“Acho a campanha uma iniciativa fantástica, pois responsabiliza-nos, como cidadãos, pela salvaguarda do património comum, e estabelece um objectivo partilhado, que promove e valoriza valores mais elevados como a Arte e a Beleza, que tanto falta no nosso dia-a-dia. No entanto esta forma de colaboração da sociedade, que deve ser repetida e incentivada, não pode substituir a acção do Estado. Dedico a minha vida profissional à preservação e divulgação do património artístico nacional na área da música, logo sinto-me particularmente sensibilizado para um apelo deste tipo. O MNAA é um museu maravilhoso que todos temos obrigação de acarinhar e ajudar e a actual direcção está a fazer um trabalho a todos os níveis extraordinário, pelo que esta iniciativa, que também se insere no excelente marketing da 'marca' MNAA, era impossível deixar-me indiferente. Ademais, conheço e admiro muito a obra de Sequeira, que é inquestionavelmente um dos nossos maiores pintores, e sempre gostei particularmente desta Adoração dos Magos. Gostaria só de ter mais dinheiro para ajudar mais, e vou tentar contribuir ainda mais, nem que seja divulgando a campanha.”

João Luís Canais, 43 anos: "Como cidadão e pai fazia todo o sentido"

“Mais do que uma campanha temporária, deveria ser algo recorrente, que de uma forma complementar ao inquestionável e obrigatório papel do Estado na preservação do património nacional, permitisse atingir um maior número de situações similares. Evitando assim a perda de património nacional, material ou imaterial, muitas vezes para fora do país. Isto porque, infelizmente, nem o Estado pode “ir a todas”… Como cidadão, como pai e interessado no património e cultura portuguesas, fazia todo o sentido a minha participação na campanha. Com muito ou pouco dinheiro, devemos é dizer presente.”

Paulo Ruivo e Silva, 44 anos: "Se estivesse em causa um Miró não teria contribuído"

“Acho [a campanha] muito meritória. Num país pobre e sem recursos como Portugal, considero importante que a sociedade civil se mobilize por causas como esta. O crowdfunding para recuperação de uma tela de Bento [Coelho] da Silveira da Igreja de S. Cristóvão foi outra acção meritória, para a qual também contribuí. Está em causa património português relevante, e como tal, faz sentido resgatá-lo. Se estivesse em causa um Miró não teria contribuído, por muito interessante que seja ter [obras de] Miró nos nossos museus. Neste caso existe critério, coisa que me parece fundamental na aquisição de obras de arte, daí o meu apoio. Finalmente, [também contribuí por] razões emocionais: a minha mãe viveu a sua infância junto às Janelas Verdes e tem uma relação emocional com o museu. Foi ela que me pediu que contribuísse. No caso da tela de S. Cristóvão, idem: nasci no prédio ao lado.”

João Gundersen, 44 anos: "Criar laços mais duradouros entre a sociedade e a cultura"

“Acho esta campanha uma excelente iniciativa, que seria interessante repetir. Em bom rigor é mesmo algo que tardava em Portugal e nos museus portugueses já que em muitos outros países é uma prática comum. Já existiram algumas iniciativas do género, lembro-me do Museu do Caramulo usar crowdfunding para restaurar o ‘Messi’ [um carro de 1958], e existem outras. Claro que já existia alguma participação através de mecenato, quer de empresas, quer de particulares. Parece-me uma forma de participação cívica muito interessante e que pode, mais do que enriquecer as colecções dos museus, criar laços mais duradouros entre a sociedade e a cultura. Faço até uma certa questão de andar a aborrecer os meus colegas e amigos com isto. Foi aliás por isso que tornei pública a minha participação, normalmente preferia manter-me anónimo.”

Ana Mendes da Silva, 51 anos: "Um legado aos meus descendentes"

“Achei a campanha inteligente e interessante. Inteligente porque apela à nossa responsabilidade enquanto cidadãos capazes de resolver problemas e de intervir activamente, ao invés de transferirmos sempre o ónus para os outros. Inteligente também porque apela a algo a que todos nós, em maior ou menor grau, somos sensíveis - a vaidade (associada ao orgulho). Isto porque nos permite deixar a nossa marca física no quadro ao escolhermos os pixéis que patrocinamos. Interessante porque replica um modelo usado em países em que as artes são muito apoiadas e isso permite que nos sintamos parte de um mundo muito mais 'civilizado'. Por último, interessante também porque é uma obra do único autor português representado no Louvre e que mostra aquilo que de melhor o autor pintou. E ainda porque é uma forma de deixar um legado aos meus descendentes e que ficará à disposição de todas as futuras gerações. Para terminar, contribuí porque tenho orgulho em ser portuguesa e acredito que a arte é a única coisa que ultrapassa ‘a espuma dos dias’.”

Nuno Roby Amorim, 52 anos: "Tenho uma visão muito ‘socializante’ do património"

 “A minha formação académica é em História /Arqueologia e sem ser, obviamente, contra a iniciativa privada ou mesmo contra o coleccionismo, tenho uma visão muito ‘socializante’ do património num país como Portugal onde se registam ainda graves lacunas culturais. Defendo que o Estado deve ter sempre uma palavra a dizer em relação às questões relacionadas com o espólio do país. Posso afirmar que tive muita sorte pelo facto de o Domingos Sequeira ter-se cruzado com a minha família. Realizou um retrato de um meu tio-avô (João Roby), que ainda se encontra em posse da família em Braga. Desde muito cedo convivi com a sua obra. Contribuí para esta campanha porque todos sabemos que o Estado está falido. O MNAA apenas tem verbas para pagar os salários dos seus funcionários. Esta foi uma forma criativa de tentar resolver um problema que presentemente não pode ter uma solução convencional. Foi uma óptima solução e espero que os portugueses sejam generosos.”

Pedro Abreu Peixoto, 53 anos: "Modesta contribuição com o espírito de cidadania"

“Acho que a campanha é uma boa forma de conseguir que as gerações vindouras possam ficar, num espaço público, com mais uma obra fantástica, de um dos nossos mais espantosos pintores. Decidi contribuir, assim, para que com uma modesta contribuição e com espírito de cidadania pudesse fazer com que esta obra fizesse parte do espólio artístico comum do país e igualmente pelo enorme prazer de fazer parte da primeira aquisição em fundraising que uma grande instituição nacional faz a favor da arte e da cultura nacionais.”

Luiz Filipe Rainha, 55 anos: "Ver o donativo representado na própria pintura digitalizada"

“Achei a campanha muito engraçada e simpática, pois cada participante pode contribuir com o valor que entender, com mais ou com menos, e depois ver o seu donativo representado na própria pintura digitalizada, resida ele(a) próximo ou não de Lisboa. Este tipo de mobilização de donativos tem ainda o efeito de divulgar a actividade do museu junto de um público mais vasto. Decidi contribuir porque, sendo o país parco de património cultural, e sendo legítimo que o quadro seja vendido pelo seu proprietário, gostaria que ficasse em Portugal. E surgindo a oportunidade de poder ser adquirido por um museu com a credibilidade do MNAA, não devemos deixar passar esta oportunidade. Além do mais, entendo que a arte contribui fortemente para o desenvolvimento do país, e por outro lado tem a propriedade de tornar a vida das pessoas mais feliz.”

Manucha Magalhães, 57 anos: "Valores ao alcance de qualquer pessoa"

“Num país como o nosso em que o Estado se demite do seu papel de preservar a nossa cultura, seja por falta de fundos, seja por aplicar os poucos recursos existentes em projectos pouco interessantes e/ou de valor duvidoso, cabe ao cidadão minimamente esclarecido e que ainda mantém algum poder de compra contribuir para não deixar que peças importantes do nosso património cultural saiam do nosso país. Quanto à campanha, acho-a extremamente inteligente e apelativa. Tem também a grande vantagem de permitir a qualquer pessoa contribuir pois os valores mínimos aceites estão ao alcance de qualquer pessoa.”

João Carlos Antunes, 64 anos: "Fiquei seduzido pela campanha"

“A campanha foi um achado. Sei que é uma fórmula já utilizada noutros países, mas não deixa de ser original. Até porque é uma boa oportunidade de envolver a sociedade civil nestas questões do património cultural. [Contribuí porque] primeiro fiquei seduzido pela campanha. Eficaz. Depois, porque o valor individual envolvido era baixo, semelhante a uma despesa de mesa de café. Se for necessário, pondero adquirir mais uma meia dúzia de pixéis... Finalmente, há o sentimento de partilha e de pertença. Uma coisa é certa, na primeira oportunidade hei-de ir ao Museu de Arte Antiga admirar a obra.”

António Pedreira Marques, 74 anos: "Uma obra valiosa de um grande pintor português"

“Para mim foi inédita [a campanha], mas muito criativa para angariar fundos para poder [adquirir] uma obra valiosa de um grande pintor português. Decidi contribuir porque entendi que uma pintura destas deveria ficar no nosso país e ao mesmo tempo aumentar o acervo do MNAA.”

Maria Amélia Sarmento, 76 anos: "O quadro é lindo"

“Acho uma ideia brilhante, já que Domingos Sequeira é um dos raros pintores portugueses com uma qualidade fora de série... O quadro é lindo, tendo uma luz maravilhosa... Foi uma minha prima que me alertou e achamos realmente que o Sequeira só ficará bem no Museu de Arte Antiga, sítio onde infelizmente nunca o poderei ir ver, dadas as minhas condições físicas. Teria a maior pena que, por falta de dinheiro, ele fosse para o estrangeiro.”

Editado por Isabel Salema

Comentários

Os comentários a este artigo estão fechados. Saiba porquê.