Conseguimos. A Adoração dos Magos, a obra-prima de um grande pintor, pertence a partir deste instante a todos os portugueses. Domingos Sequeira deixou de estar fechado na casa de um privado e passou a estar numa casa que é de todos nós – o Museu Nacional de Arte Antiga.

Por isso, antes de tudo, há a alegria. Quase 200 anos depois, o quadro está finalmente “no lugar certo”.

A seguir vem o resto – as lições que aprendemos com esta operação inédita em Portugal. O sucesso da campanha “Vamos pôr o Sequeira no lugar certo” resulta de uma fórmula simples que até agora o país não tinha experimentado. Tem oito ingredientes. Os primeiros: a força de uma boa ideia, a solidariedade de muitos e a perseverança de alguns. Os outros: criatividade, trabalho pro bono e redes sociais. Faltam dois: os cidadãos (que confiaram) e o optimismo (que foi o cimento que “colou” esta nova comunidade de milhares de patrocinadores).

Com isto, construímos uma campanha que transformou Portugal. A partir de agora, não vamos poder dizer “isso é impossível” com a mesma leveza.

Esta foi a primeira vez que em Portugal se fez uma campanha desta dimensão para comprar uma obra de arte para um museu público. Os ingleses estrearam-se em 1906, quando o Art Fund apelou à participação de todos para comprar a Vénus ao Espelho, de Velázquez, que hoje está na National Gallery. No Reino Unido, essa foi a primeira de muitas. Em Portugal, a compra de Adoração dos Magos deve também ser a primeira de muitas. Começámos tarde, mas não devemos parar.

Falta uma coisa, a regra de ouro da filantropia: dizer obrigado. Esta campanha demonstrou que todos podemos ser mecenas de uma obra de arte. Seis cêntimos bastam. Temos de aprender a dizer em voz alta o nome de todos os que, sem a isso serem obrigados, contribuem. O mecenato precisa desta mudança de mentalidades. Começámos por ser cinco: MNAA, PÚBLICO, Fuel, RTP e Fundação Millennium BCP. E acabámos em muitos milhares.

Já agora, jornalismo também é isto.