O ano correu muito bem a...
Sobrinho Simões, o cientista que não presta atenção aos prémios
Foi considerado o patologista mais influente do mundo pelos seus pares.
O instituto, que continua a dirigir, está prestes a “perder visibilidade”. Mas é por um bom motivo. Vem aí “algo maior”, diz. E isso entusiasma-o. Manuel Sobrinho Simões recebeu o PÚBLICO na mesma tarde em que o I3S, o superlaboratório do qual o Ipatimup é um dos três fundadores, era apresentado aos colegas da universidade e a empresas e outros parceiros. A inauguração oficial só deverá acontecer em Março, mas a abertura operacional, que aconteceu na semana passada, marcou o ponto final de um processo de mudança iniciado há três meses. Desde então, o novo edifício, contruído no pólo universitário de Asprela, no Porto, recebeu os equipamentos dos três centros que deram origem ao novo superlaboratório: o Ipatimup, o Instituto de Biologia Molecular e Celular e o Instituto de Engenharia Biomédica.
Um investimento de 21,5 milhões de euros permitiu juntar debaixo do mesmo tecto cerca de 800 investigadores, envolvidos em 192 projectos de investigação. A equipa de 160 funcionários de apoio e os custos anuais de funcionamento de pelo menos os 18 milhões de euros permitem compreender a dimensão da nova estrutura. Sobrinho Simões está entusiasmado, mas está também assustado. “É uma responsabilidade horrorosa. Passamos de uma operação pequenina, para uma operação gigantesca”, salienta. A mudança vai permitir “ganhos de escala brutais” e juntar “gente extraordinária” e essa é a sua principal mais-valia.
O novo o I3S organiza-se em torno de três grandes programas: cancro; neurociências e doenças degenerativas; interacção entre hospedeiro, patogénicos e dispositivos médicos, que juntarão investigadores dos três laboratórios de origem. Sobrinho Simões vai continuar a liderar a área do cancro e a sua intenção é aproveitar as condições proporcionadas pelo novo centro se constituir como um centro de excelência internacional no chamado cancro familiar.
Essa designação engloba não só os cancros hereditários – que têm uma explicação genética – mas também aqueles em que há um fenómeno de clustering familiar. Ou seja, por muito que não se conheça o gene que provoca o cancro, encontra-se uma relação forte na sua prevalência em membros das mesmas famílias, como nos casos dos cancros da próstata ou da tiróide. “Queremos ser o sítio da Europa aonde toda a gente recorre quando tem um cancro familiar”, sintetiza. Sem capacidade de competir com os grandes centros de investigação médica mundiais nos cancros mais frequentes, nem nos mais mortais, o I3S vai concentrar-se num nicho.
De volta à política. Sobrinho Simões foi uma das primeiras vozes críticas da política científica seguida pelo Governo liderado por Pedro Passos Coelho nos últimos quatro anos. Há dois anos, numa entrevista ao PÚBLICO, denunciou o que considerava ser “uma espécie de destruição criativa” na ciência, antecipando o movimento de contestação aos cortes no financiamento público e às novas regras de apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia a investigadores e laboratórios que acabou por dominar o ano seguinte no sector. A esta distância, o cientista comenta: “Tinha razão”.
Classifica a tutela de Nuno Crato sobre a ciência como “terrível”: “Estimulou o individualismo num país que já tem tendência a ser minifundiário”, avalia Sobrinho Simões. E destruiu instituições “fundamentais” para o sistema científico nacional, acrescenta. Mesmo que estejam a ser capazes de atrair cada vez mais financiamento de projectos europeus para a sua actividade, "os investigadores portugueses precisam de instituições que os acolham. A ciência não se pode fazer no deserto”, defende.
Não podia, por isso, estar de acordo com a orientação dos últimos anos. E “viu com bons olhos” a mudança política que permitiu ao PS formar Governo, recuperar o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – que não existia no organograma do anterior executivo – e escolher Manuel Heitor como ministro. Manuel Sobrinho Simões conhece bem o novo titular da pasta. Aprecia-o por ser “seríssimo, inteligente e com muito traquejo de organizações internacionais”. E também lhe merecem elogios o passado do governante como “investigador a sério” e a “sensibilidade para as ciências sociais e humanas”. “Não escondo que estou muito entusiasmado com esta escolha”, acrescenta.
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