Hoje o PÚBLICO lança-se numa aventura inédita. Para nós e para Portugal. Com o Museu Nacional de Arte Antiga e a ajuda de parceiros preciosos, vamos tentar mobilizar Portugal inteiro e comprar uma obra de arte que está na posse de um coleccionador privado e entregá-la a um museu público.

Para que todos a vejam.

A campanha chama-se Vamos pôr o Sequeira no lugar certo. Esta é uma frase estranha para um jornal. Normalmente, estamos fora deste tipo de equações. Não pomos quadros em lugares certos ou errados – fazemos jornalismo. E, por regra, mantemo-nos à distância.

Desta vez, fizemos o contrário e quisemos fazer parte da notícia.

Temos um único objectivo: se todos contribuírem, o quadro Adoração dos Magos, do pintor Domingos Sequeira, será comprado aos herdeiros do duque de Palmela e passará a integrar a colecção do Museu Nacional de Arte Antiga. Esse é o lugar certo para Domingos Sequeira.

Não será fácil. Domingos Sequeira não é uma pop star nacional. É talvez o mais importante pintor português do século XIX, mas mais portugueses conhecem o nome de Rembrandt do que o de Domingos Sequeira.

Ver a Adoração dos Magos é um bom ponto de partida para descobrir este pintor. Os especialistas falam em obra-prima extraordinária; notam a luz mística que dissolve as figuras; o céu que é em si uma lição de pintura; a sua modernidade transformadora; e sublinham que esta é uma obra de que nos podemos orgulhar.

A campanha – e as contas – são simples. Somos dez milhões e o quadro custa 600 mil euros. Se cada português patrocinar com seis cêntimos, o quadro passa a ser um privilégio de todos – e não de apenas alguns.

Queremos que 2015 fique inscrito na história da arte portuguesa como o ano em que a Adoração dos Magos foi comprado por todos nós, o ano em que todos nos tornámos patrocinadores de uma obra-prima.

É a primeira vez que em Portugal se faz uma campanha nacional – apelando à contribuição de todos os cidadãos – para comprar uma obra de arte para um museu público. No Reino Unido, a primeira operação deste tipo aconteceu em 1906, quando o Art Fund apelou à participação de todos os cidadãos para comprar a Vénus ao Espelho, de Velázquez, que hoje está na National Gallery. Foi a primeira de muitas.

Acreditamos que a campanha para “pôr o Sequeira no lugar certo” será, também, a primeira de muitas. Acreditamos que sem cultura não nos resta nada e que do nosso presente só ficará a cultura. Acreditamos que há bens que são de todos e que devem ser partilhados. Acreditamos em mecenato e na força da cidadania. É por isso que, desta vez, além de escrevermos a notícia, quisemos fazer parte dela.