O ano correu muito bem a...

Miguel Santo Amaro: O ano de “loucura” em que a Uniplaces cresceu

Em Novembro, a empresa que oferece serviços de arrendamento para estudantes no estrangeiro angariou 22 milhões de euros. Miguel Santo Amaro é um dos principais rostos da nova vaga de empreendedorismo português.

Hoje com 26 anos, Miguel Santo Amaro criou a Uniplaces em 2012 Guilherme Marques

A Uniplaces acabou por tornar-se um serviço de arrendamento, que permite que os quartos sejam reservados online, que faz a mediação entre inquilinos e senhorios, e que tenta tornar o processo mais fácil - por exemplo, verificando as condições de alguns dos alojamentos listados. Estão longe de serem os únicos a fazê-lo. O Spot a Home é um dos serviços semelhantes. Tem presença em 12 cidades europeias.

Cerca de quatro anos após a ideia inicial, a Uniplaces ainda não é um negócio sustentável. Mas está a crescer a passo rápido. Do edifício no Bairro Alto, que é propriedade de um dos primeiros investidores, vai em breve mudar-se para a Estação do Rossio, onde ocupará o espaço de escritórios onde antes estava a Refer, a empresa gestora da ferrovia nacional. A empresa planeia ter perto de 200 pessoas a trabalhar no final do próximo ano.

A sala silenciosa onde a entrevista decorreu, alguns andares abaixo da sede da Uniplaces, foi escolhida porque em cima havia demasiado barulho. Os escritórios da startup são uma mini-babel, onde o tagarelar frente ao computador de quem faz o serviço de apoio a utilizadores é um ruído de fundo constante. O espaço está recheado de secretárias e computadores portáteis, e estende-se para um abafado terraço coberto, onde estão cadeiras e mesas desordenadas, uma bica de cerveja e uma mesa de pingue-pongue. A média de idades parece ser inferior a 30 anos. Poderia facilmente ser confundido com um bar de faculdade. Apesar dos 120 trabalhadores, o espírito da empresa é “muito pouco corporate”, diz Miguel Amaro. É um eufemismo.

A startup portuguesa tem um plano para oferecer vários serviços adicionais. Recentemente, lançou uma modalidade que dá aos proprietários dos imóveis uma garantia, caso as rendas não sejam pagas. O plano passa também por criar ferramentas para os proprietários gerirem os imóveis e para comunicarem com os inquilinos, e ainda por alargar os serviços que prestam aos estudantes, tornando-se numa plataforma de apoio a quem vai para um país estrangeiro. Isto passará, por exemplo, por ajudar os utilizadores a abrirem uma conta num banco ou a fazerem um contrato com um fornecedor de telecomunicações.

Tipicamente, o caminho de uma startup implica queimar muito dinheiro e a Uniplaces sabia que 2015 seria o ano para uma ronda de financiamento de grandes dimensões. No final de 2014, numa entrevista ao Diário de Notícias, o fundador afirmou que, no espaço de um ano, a empresa poderia valer 100 milhões de dólares. Não terá andado longe da realidade.

O cálculo de valorização de uma startup é um exercício de alguma especulação. Uma empresa que venda a um investidor 10% do capital por 10 mil euros, valerá, em teoria, 100 mil euros. Os investidores estão interessados em que a empresa entre em bolsa ou seja comprada por um montante que faça com que a sua participação atinja um valor superior ao investimento que fizeram.

Esta não é a primeira startup de origem portuguesa na qual, nos anos recentes, alguns investidores puseram dezenas milhões nas mãos. Há, por exemplo, os casos da Farfetch (a loja de moda online que está valorizada em mais de mil milhões de dólares), da Talkdesk (que desenvolve software de call centers) e da Feedzai (que cria tecnologia para evitar fraudes em pagamentos electrónicos). A estes nomes poderiam acrescentar-se vários outros de empreendedorismo tecnológico português bem-sucedido. “Ninguém acreditava que isto ia funcionar. Até 2015, toda a gente achava que isto ia morrer”, diz Miguel Santo Amaro. “Isto” é a vaga de startups dos últimos anos. O empreendedor acha que o próximo ano será de “consolidação desta nova era”.

A Uniplaces não divulgou que fatia do capital vendeu em troco dos 22 milhões, num negócio que foi anunciado em Novembro. Na altura, Miguel Amaro disse ao PÚBLICO tratar-se dos “valores habituais” para este género de transacções, indicando um intervalo “entre os 15% e os 25%”. O fundador, porém, reconhece que, poucos meses antes, a empresa não estaria apta a receber este investimento. Foi preciso um sprint no Verão para conseguir uma ronda de financiamento que a veio colocar num grupo selecto de startups portuguesas a conseguirem este tipo de montantes.

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