Pico: As memórias da baleação

Se hoje a relação dos Açores com os cetáceos se joga num campo essencialmente lúdico, com saídas ao mar para observações que cumprem normas destinadas a beliscar o menos possível a vida das espécies, convém não esquecer que a caça à baleia foi uma actividade importante e economicamente fundamental em várias ilhas. O Pico não foi excepção e ainda hoje sobram memórias do tempo em que homens duros e corajosos entravam no Atlântico munidos de arpões e lanças para combater os gigantes cachalotes.

A caça à baleia começou no arquipélago na segunda metade do século XIX e estendeu-se até aos anos 1980. No Pico, a última foi capturada em Novembro de 1987, já depois da proibição ditada por tratados internacionais em 1987. O abandono da baleação deixou cicatrizes nalguns ilhéus: pelo menos entre as gerações mais velhas, ainda é fácil encontrar quem se insurja contra a proibição da caça e quem não veja no whale watching um digno substituto para a relação dos picarotos com as grandes baleias. Para esses, para os saudosistas dos “grandiosos” anos da caça, restam as memórias – que nos últimos anos têm sido bem preservadas em diferentes espaços museológicos.

Nas Lajes do Pico, uma das vilas baleeiras por excelência, está hoje instalado o Museu dos Baleeiros, que conta um assinalável acervo ligado à actividade, entre botes, arpões, lanças e outros instrumentos usados no assalto aos cachalotes. Tem ainda um importante núcleo de arte, onde se apresentam trabalhos em marfim e osso de baleia. Vale muito a pena gastar 23 minutos a assistir ao documentário da autoria de Rob Fowler filmado nos anos de 1970 – embora se presuma que os mais impressionáveis não gostarão de ver o momento em que a baleia sucumbia ao assalto dos sete homens que se faziam ao mar.

Seja como for, este é o testemunho de como toda uma povoação vivia para o momento em que o vigia, de olhos postos no mar, lançava um foguete em sinal de baleia à vista. Parava tudo – o barbeiro deixava o corte a meio e corria para o mar. Francisco Joaquim Machado, esse mesmo barbeiro, ainda é vivo e já passa dos 90 anos. Mora numa casa com portadas verdes à entrada da vila, onde uma placa assinala que lhe foi atribuída uma comenda. Ainda lá fomos bater à porta, mas a idade não perdoa: o barbeiro não nos ouviu.

Em São Roque, na costa norte da ilha, está instalado o Museu da Indústria Baleeira, onde até 1984 funcionou a fábrica “Vitaminas Óleos Farinhas Adubos Armações Baleeiras Reunidas”. O tema é o mesmo, a abordagem é que difere: aqui o foco não está voltado para os homens, antes para os processos de transformação da baleia. Depois de mortos, os cachalotes eram levados para as fábricas e delas se extraíam os materiais rentáveis, com o óleo à cabeça. Nestas salas de São Roque são esses processos que se passam em revista.

Museu dos Baleeiros
Rua dos Baleeiros, 13
9930-143 Lajes do Pico
Tel.: 292 679 340
Email: museu.pico.info@azores.gov.pt
museus.azores.gov.pt
Horários: de terça a sexta, das 9h às 12h30 e das 14h às 17h30; sábados e domingos, das 14h às 17h30. Fecha à segunda, excepto entre 15 de Junho a 15 de Setembro.
Preço: 2€

Museu da Indústria Baleeira
Rua do Poço
9940-361 São Roque do Pico
Tel.: 292 642 096
Email: museu.pico.info@azores.gov.pt
museus.azores.gov.pt
Horários: de terça a sexta, das 9h às 12h30 e das 14h às 17h; sábados e domingos, das 9h às 12h30.
Preço: 2€

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Manuel Roberto
Manuel Roberto
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