Flores: Olhai as Flores do mar

Pôr os pés a caminho por toda a ilha, atravessá-la por entre explosões de verde e água, cascatas, campos agrícolas, pastos e vacas, lagoas e fajãs, tudo isso é tão fácil como emocionante. Mas dar a volta às Flores em barco é abarcar-lhe a beleza de uma forma muito mais transcendental.

“Preparem-se, se já andaram pela ilha e ainda não estão convencidos, agora é que vão ter a prova derradeira desta beleza.” Quem avisa é Carlos Toste Mendes, do hotel Ocidental, nosso guia marítimo (além de especialista em actividades radicais e fotógrafo).

Entramos no barco nessa manhã nublada e saímos de Santa Cruz, rumo à costa norte e em volta até à fajã Grande. Não será pera doce, será uma viagem de vento, chuva, saltos nas ondas, voos rasantes, encostos às rochas e passagens por entre cascatas. E eu não a trocava por nada deste mundo.

Lá à frente, seguimos hordas de centenas de cagarros em ataque ao peixe. “Os golfinhos devem estar a empurrá-los”, diz Toste. Sucedem-se ravinas e precipícios, cascatas e ilhéus — até um em que vivem isoladas cabras selvagens. Entrámos pela beleza visceral da Gruta dos Enxaréus e deixamo-nos comover pela arte bruta da natureza.

É como quando Milton Barcelos, o nosso jovem companheiro do Turismo dos Açores que voltou recentemente para a ilha depois de estudar na universidade de Aveiro, olha lá para cima, para uma ponta onde está plantado o altaneiro Farol do Albarnaz, e todo o seu rosto se ilumina: “Foi além que eu cresci, foi além” (o pai era chefe do farol). “Era disto que eu tinha saudades”, ouve-se na ventania. Nós que nem nunca aqui tínhamos estado, até nós sentíamos saudades.

Antes de aportarmos na Fajã Grande, o momento-mor: contornámos e “tocámos” o ilhéu de Monchique, o rochedo mais ocidental de Portugal, o ponto final atlântico do país, um final feliz.

 

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Enric Vives-Rubio