O ano correu muito bem a...

Paulo Lima: O antropólogo que conquistou a UNESCO com o chocalho

Alentejano antropólogo, filho de pastores e pescadores, que coordenou as duas últimas candidaturas à UNESCO, alerta que o país que Michel Giacometti percorreu nos anos de 1960 a 1980 em recolhas etno-musicais já não existe. Quem detém este património está hoje circunscrito a lares e centros de dia.

“A UNESCO viu nas duas candidaturas portuguesas factores de coesão e de combate à exclusão social” Adriano Miranda

É nesta circunstância de grande fragilidade que vivem estas pessoas, depois de as terem desligado das suas raízes, e é assim que as encontram quem busca o que resta das tradições. “Por vezes, não temos consciência que “o mundo por onde o etnomusicólogo Michel Giacometti andou já não existe”, observa Paulo Lima, sublinhando que “é neste contexto que os prémios da UNESCO “significam a última esteva, a última barreira antes do deserto onde não se vêem árvores nem pessoas.”

Apesar da importância e do contributo que as decisões da organização das Nações Unidas têm na salvaguarda do património imaterial, “continua a faltar uma estratégia de valorização do que já foi alcançado, sobretudo para o cante” adverte o coordenador da candidatura. É uma exigência que aquele organismo coloca a quem integra a lista do património imaterial. Dentro de cinco anos saber-se-á se um tal objectivo foi alcançado. “O que neste momento mais me preocupa, confessa Paulo Lima “é a valorização do trabalho feito e envolver nele as populações para que o cante ou a arte chocalheira não sejam retirados da lista”.

O antropólogo não se dá por satisfeito com o trabalho realizado e já elaborou programas para as candidaturas das festas do povo de Campo Maior, das jangadas de S. Torpes, dos tapetes de Arraiolos e da coudelaria de Alter. Mas não deixa de se interrogar sobre o que considera ser uma corrida à lista da UNESCO, facto que lhe suscita um apelo: “É altura de parar e pensar nas estratégias em torno do património.”

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