A Europa democrática: a nova utopia?

Entre os riscos que a Europa corre, o maior será "o desenvolvimento do egoísmo alemão", escreve o ex-director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia e actual comissário das conferências de Serralves "Tendências Mundiais 2030"

Reuters

É aos críticos do actual estado de coisas, aos europeístas do contra, que se deve ir buscar a vontade reformadora necessária a uma nova refundação da Europa. O aparecimento de novos partidos democráticos, anti-racistas e críticos da falta de alternativas (como o Podemos e o Ciudadanos, em Espanha), são sinais de que a contestação ao sistema actual pode ter uma saída democrática. A recente mudança governamental em Portugal também é reflexo dessa procura de um sistema político que garanta uma real alternativa democrática.

Estes novos partidos procuram corresponder à vontade de participação dos cidadãos, empoderados pela educação, as tecnologias de informação e a emancipação das mulheres, cuja melhor expressão são os activistas das ONG, das redes sociais e do jornalismo cidadão.

A sociedade civil europeia é hoje, perante as hesitações e retrocessos dos Estados, a melhor portadora da utopia europeia, na forma como promove a paz, os direitos humanos, a fraternidade e a hospitalidade, como se vê na sua mobilização para receber os refugiados ou na defesa da pátria comum – para utilizar a expressão de Edgar Morin – que é a Terra, contra o aquecimento global.

O projecto europeu sempre foi, de alguma forma, marcado pelo idealismo, mesmo que a sua concretização se tenha caracterizado sobretudo pelo pragmatismo. A Europa democrática, imperativo da paz, continua a ser uma utopia, não no sentido de quimera irrealista ou da perversão totalitária da sociedade perfeita, mas sim no sentido original de Thomas More: um grande projecto humanista capaz de superar os grandes males da Europa.

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