Harrison Ford: Star Wars “deu-me a oportunidade de ter a carreira que tenho”

Em pessoa, Harrison Ford é mais delgado do que pensaríamos, mas em todos os outros sentidos é exactamente como o imaginamos: é áspero mas não maldoso, sério mas auto-depreciativo, um homem de 73 anos que parece ter 50. É intimidador mas parece, inesperadamente, alguém que será divertido numa festa.

Num dia em que promove Star Wars: O Despertar da Força, em que regressa como Han Solo 32 anos depois de abandonar o papel que o tornou uma superestrela, Ford parece completamente recuperado de dois acidentes recentes: estilhaçou um tornozelo quando uma porta se fechou sobre ele num acidente nas filmagens e que paralisou temporariamente a produção do filme; mais tarde partiu o outro tornozelo num acidente de avião.

Ford é o único actor que não tem alguém do estúdio presente durante as suas entrevistas – odeia esse tipo de coisas. É amigável, naquela maneira distraída que têm as pessoas famosas. Nunca interrompe o contacto visual, abre a porta pessoalmente, pergunta se queremos um café – gestos comuns que, como ele seguramente tem noção, parecem extraordinários quando são feitos por uma estrela de cinema.

Perguntamos-lhe se ele exagera o seu mau humor só para aterrorizar as pessoas e ele parece ultrajado, mas ao mesmo tempo considera a ideia: “Não. Quer dizer, não sei o que sou. Sou o que sou.”

Bom, quem o convenceu a fazer isto?       
George [Lucas]. Foi provavelmente há um ano e meio ou dois anos. Ele disse: “Estou a pensar [ressuscitar Star Wars]” e eu disse: “Talvez. Não sei. Não tenho uma ideia fechada sobre isso. Há guião? Haverá um guião? OK, então falamos quando eu puder lê-lo…” Depois, entra J.J. [Abrams]; pegou no guião e fez o que tinha a fazer, e [o guionista Lawrence Kasdan] envolveu-se, e foi com base neles todos que me senti confortável.

Está surpreendido por se encontrar de novo aqui?
Nunca – qual é o ditado? Quem sai aos seus não...? É engraçado, é bizarro, é todo um novo mundo estar aqui.   

Lawrence Kasdan disse que quando se faz uma coisa grande como Star Wars, ela fica sempre connosco. Concorda? 
Como um participante, temos a escolha de o referenciar na nossa memória ou de investirmos em algo completamente diferente e não pensar nisso. Sei que, quando penso na minha carreira, algo que tento não fazer com muita frequência, a minha carreira tem como base o sucesso de Star Wars e isso deu-me a oportunidade de ter a carreira que tenho.

Nos anos que passaram, estamos a ver televisão e a mudar de canal e aparece Star Wars – já sei como acaba. Não sou nostálgico.

Mas relaciona-se com ele de forma diferente do que quando O Fugitivo está a dar na TV? Toca uma parte diferente do seu cérebro?
Hmmm, não. É a mesma parte do meu cérebro. É o meu cérebro de trabalho.

E continua a mudar de canal?
Basicamente, sim.

Então, está de novo aqui. Quando é que ser Han Solo começa a acontecer para si? Não necessariamente como nostalgia, mas há uma “memória sensorial”?
Quando visto as roupas. Há uma memória muscular que acompanha aqueles sapatos, que acompanha a forma como assentam aquelas calças. Há uma jactância que é influenciada pela arma na anca. Há comportamentos que são influenciados por nos virarmos e dizermos olá ao nosso amigo vestido de cão [Peter Mayhew, que regressa como Chewbacca]. É um mundo, e entramos naquele mundo e lembramo-nos de como era viver lá.

Pensou “Caramba”?
Sim. Muito.

Quando começam as filmagens, tem o seu acidente. Estava sempre a ver como as coisas estavam a correr na sua ausência?
Não (risos).

Sentiu-se mal?
Bom, não foi divertido sair. Sentia-me – bem, era – um grande peso nas filmagens. Estou pronto para entrar, “Vamos a isto”, e de repente bum! E tem de se fazer recuperação, blá blá blá… Bom, de qualquer forma, estou de volta.

Devemos presumir que tem contrato para fazer mais sequelas, perpetuamente?
Para sempre. Não, não devem presumir nada.

Pode morrer nos primeiros cinco minutos.
Ou nos três.  

Exclusivo PÚBLICO/ The Washington Post

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