O ano correu muito bem a…

Miguel Oliveira: A confirmação do português “voador”

Nunca houve um piloto português com a dimensão e o potencial de Miguel Oliveira no motociclismo de velocidade. Já era assim quando começou a dar nas vistas ainda durante a adolescência, mas foi preciso aguardar mais algumas primaveras para confirmar as expectativas ao mais alto nível.

Miguel Oliveira: nunca houve um português no motociclismo de velocidade com esta dimensão e potencial Nuno Ferreira Santos

No último dia de Maio de 2015, no circuito italiano de Mugello, Miguel Oliveira tornou-se, aos 20 anos, no primeiro piloto nacional a vencer uma prova de MotoGP, a Fórmula 1 das duas rodas, na categoria de Moto 3. E seria apenas o início. Seguiram-se mais cinco triunfos que culminaram com o vice-campeonato mundial, o reconhecimento internacional como uma das maiores esperanças da modalidade e a confirmação de que nunca houve um piloto português com a sua dimensão e potencial no motociclismo de velocidade.

“Talvez tenha protagonizado um dos finais de temporada mais dominantes que já se viram em Moto 3. Isso deixa-me orgulhoso, mas com um sabor agridoce na boca por ter falhado por tão pouco o título”, admitiu Miguel Oliveira no final de uma época que encerrou a escassos seis pontos do primeiro lugar. Vai abandonar a Moto 3 como um piloto de referência e chegará com estatuto reforçado à categoria intermédia de Moto 2 em 2016. O último degrau antes da classe rainha de MotoGP, onde sonha chegar a tempo para partilhar as pistas com o seu grande ídolo de sempre Valentino Rossi.

Tudo isto não passava de uma miragem em Dezembro de 2005, quando o lendário motociclista italiano acabara de reclamar o sétimo título mundial da sua carreira (e somaria mais dois) e Oliveira, com apenas 10 anos de idade, enfrentava o seu primeiro grande teste internacional. Em Valência, cenário da sua última vitória no campeonato deste ano, o franzino português da Charneca da Caparica venceu categoricamente a III Edição do Metrakit MiniGP World Festival, destacando-se entre 192 dos melhores jovens pilotos mundiais, concluindo as nove voltas da corrida com 17 segundos de vantagem sobre o segundo classificado e a 19 do terceiro. Pressentia-se que estava a nascer uma estrela.

“Ele não tinha muita noção do que acabara de fazer”, contou ao PÚBLICO António Lima, presidente do Motor Clube do Estoril, que acompanhou de perto as primeiras curvas de Oliveira nas pistas. “Falei com ele ao telefone pouco depois de ter acabado a corrida e ele disse-me: ‘Havia ali uns meninos a correr comigo, a corrida foi boa e ganhei’.” Para Paulo Oliveira, pai de Miguel e principal impulsionador da sua carreira, a história começa aqui: “Esse foi o primeiro passo que fez as pessoas olharem para ele. Venceu com tanta facilidade que, no final da corrida, até o quiseram desclassificar por acharem que a mota estava alterada. As verificações confirmaram que estava tudo dentro do regulamento e que o Miguel tinha feito mesmo a diferença, ganhando tudo o que havia para ganhar: pole position, recorde da pista e triunfo na corrida. Foi o início.”

Seria, de facto, o primeiro de muitos êxitos. “Aos poucos e poucos foi ganhando as competições onde participava, quer em autódromos quer em kartódromos. Notava-se que tinha uma força de vontade enorme e sempre demonstrou grande maturidade para a idade. Desde miúdo que não ficava muito exuberante quando ganhava, nem muito deprimido quando perdia, apesar de chorar às vezes”, confidenciou António Lima, que recordou também o primeiro contacto com o piloto: “A minha mulher, que trabalha na federação de motociclismo, acompanhava as competições de jovens. Um dia disse-me que havia um miúdo a correr que tinha muito jeito. Eu acabei por ir ver o Miguel a rodar num treino, tinha ele sete ou oito anos. Pela forma como fazia as trajectórias e abordava a pista demonstrava capacidade para a competição, apesar de ser ainda uma criança. Ele era muito pequenino e quase não chegava com os pés ao chão nas partidas. Numa corrida no Kartódromo de Palmela acelerou demais no arranque, a mota fez um cavalinho e foi por ali fora, deixando o Miguel sentado no chão.”

As competições em Portugal, país sem tradição no motociclismo de velocidade, tornaram-se redundantes para o crescimento do piloto, nomeado em 2004 como “Jovem Promessa” pela Confederação do Desporto. “Percebemos rapidamente que o Miguel, para evoluir, teria de sair de Portugal. O nível do motociclismo em Espanha não é comparável com nenhum outro país do mundo. Ali está montada uma autêntica fábrica de pilotos, desde os oito anos até chegarem ao MotoGP”, explicou o responsável do Motor Clube do Estoril.

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