Como ir
De Lisboa para Ponta Delgada há quatro companhias a efectuar voos. A TAP voa a partir de 235€; a Sata de 150€; a Ryanair de 85€; e a easyJet de 99€.
Do Porto para Ponta Delgada as opções são a SATA desde 149€ (um voo directo diário, excepto à quarta-feira); e a Ryanair a partir de 85€.
Onde dormir
A Fugas ficou alojada no Azores Hotel Royal Garden. Duplo a partir de 79€.
www.azoreshotelroyalgarden.com
Onde comer
A Tasca
Rua do Aljube, 16
Ponta Delgada
Tel.: 296 288 880
www.facebook.com/A-Tasca
Restaurante Lagoa Azul
Rua da Caridade, 18
Sete Cidades
Tel.: 296915678
www.facebook.com/Restaurante-Lagoa-Azul
Tonys
Largo do Teatro, 5, Furnas
Tel.: 296584290
www.restaurantetonys.pt
O que comprar
Dos chás (Gorreana e Porto Formoso) aos ananases (e derivados como licores e compotas), dos queijos (como o Vale das Furnas, feito com água azeda das nascentes locais) às queijadas de inhame ou bolos lêvedos (também das Furnas), passando pela loiça das Cerâmicas Vieira, há mitos produtos regionais à escolha.
A não perder
Esta é a história de uma demanda. São Miguel é, em alguns sentidos, uma ilha “ingrata” para quem a visita. Porque é a mais conhecida do arquipélago e as suas maravilhas já tão universais e bem mapeadas que quem chega carrega dentro de si todas as imagens que quer ver. E, então, começa-se a caça aos postais que vemos tão luminosos por tudo quanto é loja de recordações logo em Ponta Delgada. Mas temos de aprender a lidar com as manhas da ilha. Daí a nossa demanda — pelo sol, ou, pelo menos, por um céu sem nuvens, ou, nem pedimos tanto, um céu aberto q.b. para que possamos pousar os nossos olhos sobre os lugares mais míticos de São Miguel. Pelo meio, foram quatro dias a invadir as entranhas e as bordas da ilha.
Lagoa das Sete Cidades
Todos os dias de manhã, a primeira tentação é seguir para a lagoa das Sete Cidades e para a lagoa do Fogo. Mas a SpotAzores desaconselha: nevoeiros cerrados. Mas no último dia, com ou sem neblina, é para lá que nos dirigimos. Com várias paragens pelo caminho: no miradouro do Pico do Carvão, onde, se não houvesse neblina veríamos as costas norte e sul da ilha, a lagoa das Empadadas (que são duas), rodeada de “paredes” de criptomérias e azáleas, o Miradouro do Pico do Paúl, onde destacamos o “lençol” negro, sulcado, troço vulcânico entre verde, a lagoa do Canário e, prosseguindo nesta espécie de parque, o Miradouro da Grota do Inferno, a grande surpresa. Há que caminhar para chegar a ele: primeiro subimos junto a um vale profundo, garganta verdejante no Verão sobrevoada por parapentes, e depois caminhamos pelo topo da montanha, trilho delimitado por varandins de madeira até ao ponto final — toda a experiência é inesquecível, a paisagem é deslumbrante, primordial. Diante de nós a Caldeira das Sete Cidades: as lagoas Rasa, a de Santiago e no fundo a Azul; as rochas aqui em cima (cobertas de musgos que são usados para as camas dos ananases), o verde escuro ou tenro no horizonte. É uma visão que tira o fôlego, comovente. A visão clássica da lagoa das Sete Cidades, lagoa verde e azul separadas por uma ponte, tem-se da Vista do Rei, junto ao abandonado Hotel Monte Palace (também ele uma imagem quase feérica). Aninhadas na cratera, entre campos e escarpas verdejantes, nem o sol tímido que encontramos retira a magia do cenário mais icónico de São Miguel.
Lagoa do Fogo
É a mais elusiva das lagoas micaelenses (é a que está a maior altitude) e tem vista desde Ponta Delgada — não a lagoa, claro, mas o cone do vulcão que a guarda e faz parte da serra da Água de Pau. Um dia, mesmo com a neblina visível, arriscamos. O nevoeiro que se move diante dos nossos olhos como uma criatura viva permite apenas distinguir contornos vagos e misteriosos; da água, nem vislumbre. No último dia, chega a redenção. Mais uma vez subimos a estrada de montanha, curvas e contracurvas, paisagem que se fecha no verde (Julho e Agosto pintado de amarelo) ou espreita por nesgas de vales até ao mar. No miradouro, somos os primeiros a chegar e temos uma “aparição”. O nevoeiro está “esfarrapado”, deixando-se entranhar pelo sol que ilumina o azul profundo das águas. O resultado é quase etéreo, luz e nevoeiro numa dança de ouro contra o azul e o verde que cobre a cratera. Um casal de caminhantes desce a encosta rumo à praia da península que se recorta um pouco adiante — meia hora para lá, 50 minutos para cá, que a subir não há santos que valham. Quando chega o primeiro autocarro, já novamente se fecharam as portas da lagoa. Não adianta, por isso, subir ao Pico da Barrosa, o mais alto da montanha. Mas fomos caçadores do sol e tivemos a nossa dose de magia.
Caldeira Velha
Na estrada que sobe até ao miraduro da lagoa do Fogo, está a entrada para um dos fenómenos do vulcanismo secundário micaelense. A vegetação é densa, a humidade alta aqui a meia encosta onde entramos para a Caldeira Velha. Até há poucos anos, o acesso era livre e gratuito, agora não. Mas não faltam visitantes neste parque que é monumento natural e onde nos primeiros metros só vemos o verde, que é como uma abóbada, e o laranja da terra, que é como tapete estendido; só escutamos o som incessante de água que corre em ribeiros acastanhados (rica em ferro) e de pássaros. Um éden, ainda para mais aquecido. Vemos a primeira piscina quente e um pouco mais acima uma pequena lagoa onde a água borbulha como num caldeirão — está entre 60 e 100 graus. Um casal de italianos interroga-se como pode haver gente na outra piscina — alguém lhes explica que a água aí tem cerca de 35 graus. Havemos de subir um pouco mais, passar por balneários improvisados, até ao ex-líbris do local: uma cascata que escorre sobre pedra laranja coberta de vegetação e se concentra numa represa que forma uma piscina natural tomada de assalto por um grupo de espanhóis que não se cansa dos 25 graus de temperatura. No recinto há um Centro de Interpretação Ambiental.
Parque Natural da Ribeira dos Caldeirões
Confessamos que não exploramos todo o parque, mas o que vimos vale mesmo a viagem até à zona de Nordeste, que já esteve tão “distante” de Ponta Delgada que os açorianos brincavam ser a 10.ª ilha do arquipélago. Mais uma vez é a água que aqui move moinhos — literalmente: no parque há vários moinhos de água. Mas a sua expressão mais espectacular são as cascatas: vemos uma não muito alta mas de volume muito abundante, desfazendo-se em espuma nas rochas até encarreirar colina abaixo, entre área jardinada q.b., ou seja, sem se impor à beleza natural do cenário. De outro ribeiro, pequeno desnível e pequeno lago, vem um grupo em pleno afã de canyoning – passam a ponte e seguem ribeira abaixo. Desse lado, as azáleas rosa povoam o parque que se aprofunda num vale e encontram-se os edifícios de apoio. Chega um novo grupo de canyoning, aventura terminada. “Super”, dizem em francês: “slide, rappele terminamos num salto”.
Ilhéu de Vila Franca do Campo
A primeira vez que o avistamos é do Miradouro do Pisão — do lado oposto àquele onde se observa Caloura, empoleirada no topo de falésias caprichosas que se recortam em grutas e se estendem em afloramentos rochosos no mar. O Ilhéu de Vila Franca do Campo fez-se famoso em todo o mundo quando foi descoberto pelo campeonato Red Bull Cliff Diving, mas nem só de penhascos vertiginosos se faz. Na verdade, os penhascos são a sua concha, a pérola é a lagoa que se formou na cratera (sim, este é um antigo vulcão submerso), águas límpidas em pleno oceano. E aqui está a confissão: só há transporte para o ilhéu entre Junho e Setembro, por isso nós só o vimos ao longe — e do alto, do Monte de Nossa Senhora da Paz, miradouro incontornável para a vila que já foi capital da ilha.
Ponta da Ferraria
Como tantas outras coisas em São Miguel, primeiro vêmo-la de um miradouro. Da Ponta do Escalvado, no caso: os ilhéus de Mosteiro de um lado, Ponta da Ferraria do outro, nas nossas costas os contrafortes do vulcão das Sete Cidades. Estamos na costa ocidental de São Miguel e vamos descer a outro “planeta”: a Ponta da Ferraria não é como nada que tenhamos visto na ilha — uma “esplanada” negra, que é como uma língua que entra mar adentro, no fundo de uma falésia da mesma cor, vertical como se feita a prumo, resultado, claro está, do vulcanismo. Se a paisagem desta fajã é alienígena, não é sequer o mais especial deste local; afinal, aqui nada-se no mar em água quente. Tudo depende das marés: com a maré baixa a água está muito quente, com a maré alta, muito fria — o melhor é entre marés. Não há, porém, apenas spa natural: em 1888 foi construído um modesto balneário, que depois de meio século abandonado foi recuperado e agora oferece tratamentos especiais, piscina exterior e uma paisagem inóspita batida pelas ondas.
Vale das Furnas
Chama-se das Furnas, mas poderia ser o vale encantado. Tem tudo o que faz uma história fantástica: bosques mágicos e jardins exóticos, lagoas (incluindo uma Seca, agora vale verdejante) e lagos, fumarolas e terra que ruge, nascentes de água e piscinas naturais quentes, ribeiros quentes e frios — e um vulcão. Na verdade, as Furnas são o local onde sentimos o vulcanismo mais à flor da pele e bem no centro da vila, nos campos fumarólicos — o borbulhar (e o esguichar) das águas, o vapor a fugir, a terra a rugir, novas fumarolas, pequeninas, a surgir, e o cheiro permanente a enxofre (a que nos habituamos rapidamente) num percurso claramente demarcado (num dos caldeiros cozem-se maçarocas de milho em sacos de serapilheira) — e até em simples tampas de esgoto, às vezes trémulas e corroídas. É também aqui que se encontram nascentes de água, quente e fria, sabores diversos ao longo de ribeiros estreitos que correm em leito laranja.
A água quente abundante é aproveitada em piscinas naturais. As da D. Beija (nome de telenovela brasileira) são um complexo moderno perfeitamente encaixado na envolvente natural, com cinco tanques em desníveis. No Parque Terra Nostra foram recentemente construídas duas pequenas piscinas, recolhidas entre vegetação abundante que funciona como biombo natural, mas a imagem de marca é o tanque principal, enorme, rematado a cantaria e cheio de águas castanhas com temperatura média de 35 graus (em algumas zonas chega a 42) e tutelado pelo “Yankee Hall”, a casa construída em 1780 pelo cônsul norte-americano. Contudo, o parque não se resume às suas piscinas, estamos num jardim botânico com 12,5 hectares onde a flora endémica se mistura com espécies de todo o mundo e convive com ribeiros soluçantes, lagos e canais (não falta um cisne negro, patos abundam), grutas ao gosto romântico.
E não podia faltar a lagoa das Furnas, que vemos rente à água (onde se faz tradicional o cozido — e o bacalhau, o pudim — que se coze debaixo de terra) e do alto, no miradouro do Pico de Ferro, varanda perfeita sobre as águas e sobre o vale de uma mansidão intensa. Tão perfeita que não faltam carrinhas desouvenirs e os autocarros (e táxis) chegam e partem em vaivém.
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