Parece uma singela coroa, assim vista dos céus, com a estrada que a rodeia a separar a auréola arredondada dos cabelos de prado. O verde do diadema a condizer com o verde do corpo. Tem porte real, a caldeira da Graciosa. Tanto do alto do pequeno avião que nos liga à Terceira em meia hora, como do interior da bacia vulcânica, onde a natureza, quase sempre mansa e rasteira no resto da ilha, se altiva, pujante, com ares de floresta. Ao centro, escondido debaixo da terra, o tesouro real.
Falamos da Furna de Enxofre, ex-líbris turístico da Graciosa, uma ampla cavidade vulcânica com cerca de 200 metros de diâmetro e 40 metros de altura na parte central.
No interior da gruta, coração oco de pedra, é sobretudo o imenso tecto abobadado que impressiona, considerado “a maior cúpula vulcânica da Europa”, indica Lizete Albuquerque, a nossa guia na ilha.
Apenas duas largas fendas rasgam a pele desta cave natural e a escassa iluminação vai emprestando sombras fantasmagóricas ao basalto amarrotado que nos rodeia. A um canto, uma “poça de lama quente” espreita por entre as rochas, outro pormenor exclusivo da furna graciosense. É a única na Europa a possuir uma “fumarola” no seu interior, responsável pelo cheiro a enxofre (que lhe dá nome) e pelos gases nocivos que ali se aprisionam, silenciosos e inodoros. É por isso que não é possível descer até ao lago de águas pluviais que se aninha lá em baixo, o barquinho solitário de acesso exclusivo a investigadores. No moderno Centro de Visitantes, dois ecrãs vigiam continuamente o interior da furna e monitorizam os gases acumulados (quando os níveis dióxido de carbono são ultrapassados, o espaço é encerrado temporariamente ao público).
Voltamos antes pelo íngreme caminho de terra e rochedos soltos até à entrada da gruta, onde nos espera uma subida de 183 degraus em caracol. Desde 1939 que o acesso à cavidade vulcânica é feito através desta torre de alvenaria de pedra, com 37 metros de altura e janelas simétricas em cada patamar (para vistas, e pausas abençoadas, sobre a gruta). Até lá, era necessário descer por uma longa escada de corda através da fenda mais pequena, método utilizado pelo príncipe Alberto I do Mónaco quando esteve na Graciosa no final do século XIX, altura em que visitou várias ilhas açorianas no decurso dos seus trabalhos de hidrografia e estudo da vida marinha. “Um milagre único da natureza”, escreveu em Campagnes Scientifiques.
Aqui próximo, na orla da caldeira, fica a Furna da Maria Encantada: tubo lávico com cerca de 60 metros de comprimento, lenda local e uma das melhores varandas sobre a cratera coberta de criptomérias, acácias, pinheiros e incensos (lá em baixo, junto à estrada que percorre o interior da caldeira, uma zona de merendas e recreio infantil convida a piqueniques). Todos estes locais podem ser palmeados num percurso pedestre circular de 9km, com dificuldade fácil e duração média de três horas (PRC2).
Centro de Visitantes da Furna do Enxofre
Caldeira da Graciosa - São Mateus
Tel.: 295 714 009
Email: pngraciosa.furnadoenxofre@azores.gov.pt
Horário: de 1 de Maio a 14 de Junho - terça a sexta entre as 9h30 e as 13h e as 14h e as 17h30 e sábados das 14h às 17h30; de 15 de Junho a 15 de Setembro – todos os dias das 10h às 18h; de 16 de Setembro a 30 de Abril – terça a sábado das 14h às 17h30
Preço: 3,50€
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