João Baptista – o homem que estudou as propriedades das areias de Porto Santo e criou os primeiros tratamentos com areias quentes na ilha – estava intrigado com um problema: porque é que alguns pacientes pareciam reagir mais rapidamente e ter melhoras mais depressa do que outros? “Procurámos a razão e chegámos à conclusão de que tinha a ver com algo que nós não controlávamos, os banhos das pessoas antes dos tratamentos”, conta o investigador da GEOBIOTEC da Fundação para a Ciência e Tecnologia, baseada na Universidade de Aveiro.

Foi este pequeno percalço no projecto que levou ao aparecimento da linha de produtos de cosmética Terramiga. O que a equipa de João Baptista percebeu foi que alguns pacientes usavam espumas de banho com amaciador ou passavam cremes hidratantes no corpo e isso criava uma barreira à formação de suor e à absorção das areias – ou seja, punha em causa todo o princípio dos tratamentos.

A partir daí surgiu a ideia de criar produtos próprios, ligados à ilha e às areias. “Desenvolvemos com a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto o primeiro sabonete esfoliante com areia carbonatada biogénica [a areia de Porto Santo, que resulta da sedimentação, há 35 mil anos, de algas e animais marinhos]”. Os primeiros sabonetes foram lançados em 2013, no Funchal, conta João Baptista, apresentando uma caixa que tem três sabonetes com três tons diferentes de azul.

“Personalizámos o sabonete dando-lhe a forma de um calhau rolado, que cabe dentro da mão e adapta-se bem ao rosto, e as várias tonalidades que o oceano Atlântico tem em Porto Santo e que têm a ver com a profundidade dos bancos de areia.” O azul mais claro é para o rosto, o médio para o corpo e o mais escuro para as mãos e pés – e não se trata apenas de uma questão de cor, cada um tem partículas de areia de tamanhos diferentes para fazer uma esfoliação mais ou menos profunda.

O princípio desta linha de produtos é o da “empatia do homem com a preservação dos recursos não renováveis”, como é o caso da areia de Porto Santo. Por isso, perguntam muitas vezes a João Baptista se não há uma contradição no facto de ele estar a usar essa mesma areia para fazer cosméticos. Ele garante que não. “A areia que adere aos membros inferiores dos frequentadores da praia de Porto Santo num dia de época balnear e que é removida nas banheiras das casas daria para sustentar uma indústria de sabonetes durante dez anos”, afirma.

Além disso, lembra que até há pouco tempo esta areia não era valorizada de todo. “Trata-se da mesma areia usada para deitar numa vala de saneamento básico. Nós estamos a valorizá-la milhares de vezes colocando-a na indústria cosmética.”

Criados os sabonetes, sentiram a necessidade de alargar a linha de cosméticos e foi aí que entrou em cena outro produto do arquipélago da Madeira: o mel da Laurissilva. Este surge integrado no creme de corpo, nos dois cremes de rosto e no de mãos, lançados no final do ano passado. Vem, explica João Baptista, de colmeias localizadas em zonas acima dos 550 metros de altitude e até aos 900, “em plena floresta Laurissilva” num local onde estão a salvo das radiações nocivas que têm vindo a afectar as colmeias em vários pontos do mundo.

Inscrita no Património Mundial da UNESCO desde 1999, a Laurissilva “é composta maioritariamente por árvores endémicas centenárias pertencentes às Lauráceas (Barbusano, Loureiro, Til e Vinhático), plantas de menor porte, fetos e líquenes que proliferam por toda a parte, nos taludes, nos troncos, nas rochas e nos solos”, lê-se na bula que acompanha os cremes. É nesse ambiente que as abelhas recolhem o néctar das flores que levam para a colmeia situada a uma altitude que a mantém protegida, no concelho de São Vicente, ilha da Madeira.

Por enquanto, os produtos Terramiga vendem-se em relativamente poucos lugares, mas podem ser encontrados na Madeira e em Porto Santo, próximo das areias e do mel que lhes dão o seu carácter único. E é precisamente esta ligação de uma marca com um território que João Baptista quer reforçar.

Produtos Terramiga
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