O ano correu muito bem a...

Catarina Martins: A protagonista que fez renascer o Bloco

Em 2015 ela herdou um partido dividido e em queda. Levou-o ao melhor resultado de sempre. E pela primeira vez o Bloco faz parte, ainda que sublinhando as “limitações”, de uma solução de Governo.

Catarina Martins levou um partido em perda ao melhor resultado de sempre Nuno Ferreira Santos

Nesse dia, votou em Gaia. A seguir, meteu-se a caminho de Lisboa, onde reuniu a Comissão Permanente do Bloco. Equacionaram os vários cenários. “Estava ansiosa, claro.” Depois foi para casa, às vezes gosta de estar sozinha. Chegou ao Cinema São Jorge, onde os bloquistas acompanharam os resultados de 4 de Outubro, sem alarido: “Fiz o que me é mais natural, diga-se de passagem.”

O BE teve, nas eleições legislativas, o seu melhor resultado de sempre. Elegeu 19 deputados (o máximo que tinha alcançado foi 16, em 2009). Em 2011, ficara pelos oito.

Já na recta final da campanha, Louçã tinha dito que o Bloco “conseguiu relançar-se, renascer, reconstruir a sua base, ser mais forte, mais amplo, ouvir mais as pessoas”.

Um dia “bonito”

O entusiasmo com que a porta-voz foi acolhida nas ruas, durante a campanha, teve eco nas urnas. Depois de ter perdido metade dos deputados em 2011, de ter ficado aquém nos resultados das autárquicas e das europeias, e de ter enfrentado uma crise de liderança, a morte do Bloco, que chegou a ser anunciada, deixou de fazer sentido a 4 de Outubro. E Catarina Martins conquistou finalmente o partido.

Recorde-se que a chegada da bloquista ao lugar de porta-voz não foi consensual. De um lado estavam Catarina Martins e João Semedo, apoiados por Louçã, José Manuel Pureza e Marisa Matias. Do outro, Pedro Filipe Soares, com Luís Fazenda e grande parte da estrutura da UDP que fundou o partido. Empataram na Convenção. O que acabou por decidir, tangencialmente, a liderança do partido foi uma diferença mínima no número de votos entre as duas moções rivais. A de Catarina Martins teve mais oito votos que a de Pedro Filipe Soares. As listas que ambos protagonizavam empataram. Foi por este triz que Catarina Martins está hoje onde está.

Para a porta-voz, porém, as notícias sobre a morte do Bloco foram manifestamente exageradas. Houve um “desfasamento” entre o que se disse e escreveu nos jornais e a forma como foi recebida nas ruas. A comunicação social “passou muitos meses a escrever sobre um Bloco que não existia”, um grupo de comentadores “decidiu que estava na altura de matar o BE, mas esse grupo não corresponde à população portuguesa”. Catarina Martins não nega, porém, que o Bloco passou por momentos difíceis.

Este foi o ano do renascimento do Bloco, da queda do Governo de direita. O dia em que a moção de rejeição ao programa do PSD/CDS-PP foi aprovada no Parlamento foi diferente e “bonito”, admite Catarina Martins. Havia uma agitação invulgar na Assembleia da República, manifestações à porta, muitos jornalistas e até curiosos nos corredores, todos queriam assistir ao momento que iria acontecer no plenário.

Nesse dia, Catarina Martins foi “festejar” para a manifestação da CGTP que decorria à porta do Palácio de São Bento. Não tem dúvidas de que estes tempos recentes fizeram a política sair à rua e puseram as pessoas a discutir problemas concretos. “Das coisas mais extraordinárias dos últimos tempos é que toda a gente discute política e discute política a sério”, diz. “E isso, julgo, é das maiores conquistas deste período eleitoral. É a democracia a funcionar”, acrescenta.

O que se passou mostrou ainda, continua, que a teoria do voto útil não faz sentido, que as pessoas devem votar no que acreditam. Isso não significa, no entanto, que durante todo o processo de negociação à esquerda não tivesse havido momentos em que pensou: não vamos conseguir. Mas conseguiram. Catarina Martins admite que o que verdadeiramente a inquieta são os resultados que tudo isto pode ter “na vida das pessoas”.

Até agora, conta, só duas pessoas a abordaram na rua para lhe mostrarem a sua discordância sobre o acordo de esquerda. Ao contrário, porém, do que a direita defende, os eleitores de esquerda não se sentiram defraudados com a solução, garante a porta-voz. Sabe-o porque, durante as negociações, calcorreou o país, em sessões abertas ao público. Conversou com as pessoas, elas fizeram perguntas. Ninguém, nesses encontros, e havia neles eleitores bloquistas, comunistas e socialistas, mostrou descontentamento com a solução em curso.

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