O ano correu muito bem a...

Catarina Martins: A protagonista que fez renascer o Bloco

Em 2015 ela herdou um partido dividido e em queda. Levou-o ao melhor resultado de sempre. E pela primeira vez o Bloco faz parte, ainda que sublinhando as “limitações”, de uma solução de Governo.

Catarina Martins levou um partido em perda ao melhor resultado de sempre Nuno Ferreira Santos

Foi um ano “feliz” e “desafiante” que não terminou, porém, da melhor forma, com mais um escândalo na banca, com mais uma factura para os contribuintes pagarem com o caso Banif. O Bloco votou contra o Orçamento Rectificativo apresentado pelo PS, por não concordar com a solução encontrada para o banco.

Para Catarina Martins, o facto de haver um acordo não significa que este seja o Governo que o Bloco queria. O acordo é para travar o “empobrecimento do país”, mas é “uma solução que tem imensas limitações”, como se vê na forma de “lidar com as crises bancárias”.

“Agora, dentro dessas limitações, foi possível encontrar um consenso para parar o empobrecimento do país. Como? Recuperando rendimentos a quem vive do trabalho, em vez de os cortar, e parando privatizações.” É isto que “mede a viabilidade do acordo”, defende.

Isto significa, continua, que “este acordo e este Governo devem ter a estabilidade para produzir resultados concretos na vida das pessoas e na vida do país que parem o empobrecimento e que comecem alguma inversão de ciclo, por tímida que seja”. Não é coisa pouca, “é extraordinariamente importante”, frisa.

Catarina Martins dá como exemplos de conquistas a questão da sobretaxa do IRS: “Conseguimos um acordo que acaba por devolver aos contribuintes mais de 60 milhões de euros do que a proposta inicial do PS.” Outro exemplo: a reposição dos salários da função pública, “num período mais curto do que aquele que o PS tinha pensado”. Outro? Uma subida do salário mínimo “muito mais acelerada”. Mais um? Existir este compromisso: “não há mais privatizações”.

Mas há dossiês importantes no futuro, que vão merecer atenção do BE: a TAP, por exemplo, questão sobre a qual não têm a mesma posição que o PS. Bem como o que diz respeito às “condições orçamentais” para áreas como a Saúde, Educação, Cultura, Ciência.

De que forma tudo o que aconteceu a transformou? Há algo que Catarina Martins sabe: que “o que está a correr muito bem agora, pode depois não correr muito bem”. Sente entusiasmo com “o trabalho sobre as conquistas políticas que se vai fazendo”, mas isso não significa que queira o palco só para si. “Uma ideia política pode encontrar num protagonista a pessoa certa, e eu espero estar a sê-lo neste momento para este projecto”. Mas isso muda e esse protagonista pode, a qualquer momento, passar a ser outro. “E sobre isso não há nenhum drama, o que é preciso é que o projecto político continue a ter sentido”, diz.

Palco, drama, protagonista. A escolha dos termos não é inocente. Afinal, Catarina Martins é actriz. E o teatro é o tema que a faz fugir ao tom habitual que usa como porta-voz do Bloco. É o momento em que, de repente, fala de forma mais íntima, mesmo que esteja só sublinhar que o teatro tem muito de política, porque tem muito de grupo, de comunidade, de contacto com realidades diferentes.

Pedimos-lhe uma peça que pudesse retratar o que se passou agora em Portugal. Escolhe Orla do Bosque, da companhia Visões Úteis, na qual trabalhou. É de 2001 e, segundo nos conta, fala de um desfasamento entre uma ideia extraordinária de Europa e a realidade. Tinha uma música: Mentira, de Manu Chao. Mas, lembra a co-autora, terminava com uma mensagem de esperança. 

Comentários

Os comentários a este artigo estão fechados. Saiba porquê.