Teatro
Escolhas de Gonçalo Frota, Inês Nadais e Jorge Louraço Figueira
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10
Muro
De Ricardo Alves, Teatro da Palmilha Dentada; Ricardo Alves (texto e encenação)
Teatro Nacional S. João, Porto / FITEI (17 de Junho); Armazém 22, Gaia (19 a 28 de Junho)
Os quatro membros da Palmilha encontram na depreciação do seu trabalho um recurso perene para a comicidade e para a afirmação do grupo, um pouco à maneira da desvalorização da moeda por via da redução dos salários. É a melhor maneira de satirizar a vanglória nacional e local, que nos há-de tramar a todos. Jorge Louraço Figueira
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9
Ganesh vs. the Third Reich
De Back to Back Theatre; Bruce Gladwin (encenação)
Culturgest, Lisboa (14 e 15 de Maio)
O encontro entre um deus hindu e a mais definitiva e totalitária encarnação do Mal (pelo menos de que o cânone ocidental tem memória), Adolf Hitler, é apenas uma cortina de fumo: atrás dela, confrontando olhos nos olhos o espectador politicamente correcto, está uma companhia de teatro australiana composta por actores com deficiência que desmontam, mal entram em palco, as imbecis armadilhas do paternalismo. É uma jornada épica tanto para quem faz como para quem assiste. Inês Nadais
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8
Tear Gas
De Pedro Zegre Penim (texto e encenação)
Culturgest, Lisboa (13 a 15 de Fevereiro)
Tomando por modelo a epopeia clássica baseada na história pessoal, Pedro Zegre Penim coloca-se à disposição do seu teatro e justapõe dois cenários de crise atravessados por canções pop: a sua íntima ruína dos afectos (real ou ficcionada, sincera ou jocosa) é vivida na Grécia ao mesmo tempo que o país cai na desgraça financeira e social. Gonçalo Frota
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7
O Fim das Possibilidades
De O Fim das Possibilidades, Teatro da Rainha / Teatro Nacional S. João; Fernando Mora Ramos / Nuno Carinhas (encenação)
Teatro Nacional S. João (13 a 27 de Março); Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa (10 a 19 de Abril)
Fernando Mora Ramos encarna muito bem o diabo ibérico e Nuno Carinhas reinventa as coordenadas do palco dando-lhe dimensões de altura, profundidade e largura maiores do que as reais. Os dois encenadores recriam a descida aos infernos de JB (Paulo Calatré, actor indispensável) levando os espectadores pela mão. J.L.F.
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6
Swamp Club
De Philippe Quesne; Vivarium Studio; Philippe Quesne (encenação)
Teatro Municipal Rivoli, Porto (18 de Julho)
Um centro de artes com vista para um pântano — ou uma metáfora operativa, hipnótica como um sonho muito estranho, para podermos tratar desta questão (não tão inverosímil nem tão longínqua assim) da possível extinção da liberdade artística num planeta em crise sistémica (não é só financeira). De regresso a Portugal para mais um capítulo da singularíssima epopeia iniciada com L’Effet de Serge, Philippe Quesne trouxe um bocadinho de fogo-de-artifício para mostrar que a comunidade artística ainda está viva. Mesmo que a trabalhar underground, como a resistência... I.N.
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5
Pirandello
A partir de Pirandello; Mala Voadora; Jorge Andrade (encenação)
Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa (12 de Março a 4 de Abril)
Pirandello é uma patifaria irresistível: a Mala Voadora faz ao romance de Luigi Pirandello O Falecido Mattia Pascal o mesmo que o autor italiano fazia com o seu teatro. A meta-teatralidade entra em modo de sabotagem permanente, a ficção e a realidade curto-circuitam a cada fala e, mais do que um texto, celebra-se um autor fundamental. G.F.
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4
O Animador
De John Osborne; Teatro Experimental do Porto; Gonçalo Amorim (encenação)
Teatro Municipal do Campo Alegre, Porto (26 a 29 de Novembro); Teatro Nacional D. Maria II (10 a 20 de Dezembro)
Os casos verdadeiros de Billy (António Júlio), Jean (Íris Cayatte), Phoebe (Maria do Céu Ribeiro) e Frank (Manuel Nabais), cujos fados são guiados pelo pai de família e estrela de music-hall Archie Rice (João Pedro Vaz), são apresentados com comoção e contenção pelo impecável elenco, numa versão contundente de Gonçalo Amorim e Rui Pina Coelho. J.L.F.
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3
Ifigénia + Agamémnon + Electra
De Tiago Rodrigues (texto e encenação)
Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa (16 de Setembro a 4 de Outubro); Teatro Nacional S. João, Porto (22 de Outubro a 1 de Novembro)
Num sonoro anúncio do que será o Nacional sob a sua direcção, Tiago Rodrigues reescreveu e dirigiu três tragédias gregas que engrenam numa máquina alimentada por sacrifícios e vinganças. Questionam-se a memória e a razão de fazer abafada pelo instinto; procura-se a forma de estancar a destruição e ter a coragem de recomeçar. G.F.
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2
A Menina Júlia
De August Strindberg; Schaubühne am Lehniner Platz; Katie Mitchell e Leo Warner (encenação)
Teatro Municipal Joaquim Benite, Almada; Festival de Almada (13 e 14 de Julho)
Katie Mitchell não só adopta a perspectiva de Kristin, a criada e personagem secundária da peça — incluindo os sonhos dela, filmados ao vivo e reproduzidos numa tela acima do cenário realista —, como mostra a trucagem, deixando à vista as câmaras e a manipulação dos efeitos sonoros. Coisa mais materialista não há. J.L.F.
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1
Habrás de ir a la guerra que empieza hoy
De Pablo Fidalgo Lareo (texto e encenação)
Teatro Municipal Rivoli, Porto (3 de Outubro); Teatro Municipal Maria Matos, Lisboa (7 a 10 de Outubro); Teatro Académico de Gil Vicente, Coimbra (14 de Outubro); Centro Cultural de Lagos / Festival Verão Azul (23 de Outubro)
Encravada na garganta do século XX, a Guerra Civil de Espanha é um daqueles raros fenómenos que parecem ter o poder explicar tudo o que aconteceu à Europa (e ao mundo que ela ainda tinha sob a sua influência nesses anos 30). Descendente de uma família galega brutalmente tocada pelo embate entre republicanos e nacionalistas, e literalmente obrigada a lamber as feridas dos fuzilamentos e do exílio forçado, Pablo Fidalgo Lareo (Vigo, 1984) tem dedicado boa parte da sua escrita para teatro a escavar o tema, quebrando em delicados objectos autobiográficos e familiares o pacto de silêncio com que a Espanha democrática tentou arrumar o assunto de uma vez por todas. Assim descrita, a operação de resgate da memória de um país, a partir do resgate da memória de uma família, que permitiu um espectáculo tão extraordinário como Habrás de ir a la guerra... parece só mais um franchise do tão dominante paradigma do teatro documental: só que entra aqui em cena uma poética fulgurante, tanto ao nível da cena como ao nível do texto (Pablo Fidalgo Lareo foi aliás editado este ano em Portugal pela Averno), e tudo se transforma. E depois há um actor, Cláudio da Silva, cujo corpo marcado pela poliomielite e por um outro exílio ainda mais próximo (o que se seguiu à descolonização de Angola) torna excepcionalmente real, iluminando-a à luz muito concreta da nossa própria experiência como portugueses e do poderoso milagre final, esta história de gente que estará sempre a mudar de assunto, sempre a dobrar e a desdobrar, sempre com as malas feitas. I.N.
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