Dança
Escolhas de Inês Nadais, Gonçalo Frota e Luísa Roubaud
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Who said anything about dance!?
De Karima Mansour
Espaço Alkantara, Lisboa / Festival Cumplicidades (11 e 12 de Março)
Karima Mansour apresenta-se em palco numa combinação que faz soar uma série de campainhas na cabeça do público: é mulher, muçulmana e vem do Médio Oriente. Who Said Anything About Dance?! desafia as verdades assumidas por antecipação, confronta o público com essas imagens petrificadas do que significa ser uma e outra coisa, e convoca uma coreografia que não existe mas que ela sonhou fazer sentada a uma secretária em que preenche formulários de candidatura a apoios. Gonçalo Frota
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9
Dumy Moyi
De François Chaignaud
Teatro Municipal Rivoli, Porto (11 e 12 de Março)
Muito mais do que um espectáculo – François Chaignaud renegaria a palavra, como tem feito por renegar o cânone da dança contemporânea tal como a convenção ocidental o uniformizou –, Dumy Moyi foi uma aparição. Solo de dança da ordem da proeza, acontecimento visual (inspirado em rituais devocionais do Sul da Índia), e recital de canto de repertório tão heterodoxo quanto erudito, a curta peça do coreógrafo e bailarino francês restaurou uma possibilidade a todos os títulos fundadora: a dança será aquilo que fizerem dela. Inês Nadais
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8
55
De Radouan Mriziga
Teatro São Luiz, Lisboa / Alkantara Festival (8 e 9 Junho); Jardim do Torel, Lisboa / Festas de Lisboa (11 de Junho)
Radouan Mriziga, bailarino marroquino formado na P.A.R.T.S. de Anne Teresa de Keersmaeker, estreou-se na criação com um solo feito de um dispositivo minimalista. E fê-lo através de uma coreografia que se desenvolve lentamente e só aos poucos se revela com uma sensibilidade e uma beleza tocantes. Mriziga equipara-se a um artesão e faz do corpo uma ferramenta que, à medida que se aproxima do final, justifica tudo o que ficou para trás. G.F.
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BRUNO SIMÃO7
Quinze bailarinos e tempo incerto
De João Penalva e Rui Lopes Graça, Companhia Nacional de Bailado
Teatro Camões, Lisboa (13 a 23 de Outubro)
Foi uma das melhores novidades da temporada, este regresso do artista plástico João Penalva, a Portugal e à dança, em feliz parceria com Rui Lopes Graça. A elegância sóbria desta coreografia exigente e desenvolta provou ser uma das mais acertadas apostas para o repertório e o elenco da CNB nos últimos anos. Luísa Roubaud
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PAULO PIMENTA6
Antes que matem os elefantes
De Olga Roriz, Companhia Olga Roriz
Centro Cultural de Ílhavo (29 de Abril); Casa das Artes, Famalicão (28 de Maio); Teatro Camões, Lisboa (15 e 16 Julho); Teatro Municipal Sá de Miranda, Viana do Castelo (23 de Setembro)
Num ano em que as imagens de uma Alepo devastada entraram diariamente pelas nossas casas, Roriz ousou criar uma peça sobre a tragédia dos refugiados sírios. Obra espessa e opressiva, a desafiar a arte como mero desfrute estético e o conforto dos nossos (ainda) seguros auditórios, lembra-nos o quanto a apatia de uns é cúmplice da tragédia de outros. L.R.
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CHRISTOPHE RAYNAUD DE LAGE5
Archive
De Arkadi Zaides
Teatro São Luiz, Lisboa / Alkantara Festival (29 e 30 de Maio)
Foi uma das peças mais perturbadoras e desconcertantes que vimos em 2016. Arkadi Zaides passou horas e horas a ver vídeos de agressões gratuitas na Cisjordânia e levou essas imagens para o palco. Com um olhar frio e impassível, moldou o seu corpo para emular os movimentos dos agressores, imitando-os uma e outra vez até ser claro que os gestos se repetem porque sim, porque as razões já não existem e tudo se torna demasiado insuportável de ver e testemunhar. G.F.
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SUSANA PER4
Rule of Thirds
De António Cabrita e São Castro
Culturgest, Lisboa (1 e 2 de Abril); Teatro Viriato, Viseu (9 de Abril); Casa da Criatividade, São João da Madeira (14 de Maio); Teatro Aveirense, Aveiro (20 de Julho); Centro Cultural Vila Flor, Guimarães (26 de Novembro)
A partir da fotografia de Cartier-Bresson, António Cabrita e São Castro exploraram exemplarmente a relação entre dança e imagem, investigando os modos de impressão de movimento nos corpos, mas também a contradição entre a fixação de um momento na fotografia e a inevitável efemeridade da dança, combatida com a urgência da repetição. Tudo num cuidado e poético trabalho de preciosa composição. G.F.
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3
Segunda-feira, atenção à direita
De Cláudia Dias
Teatro Maria Matos, Lisboa / Alkantara Festival (3 a 5 de Junho); Teatro Municipal Rivoli, Porto (10 e 11 de Junho)
“Atirar o corpo para a luta”, o imperativo categórico de Pasolini que até hoje assombra gerações de artistas e intelectuais europeus, talvez não descreva tudo o que acontece dentro do ringue de boxe em que Cláudia Dias quis encerrar o seu regresso à dança – mas dá uma ideia da coragem pessoal que esteve por trás deste admirável empreendimento. É difícil que venha a haver uma representação mais gráfica do Portugal da crise do que este combate em que às tantas se pergunta: “Se continuarmos a deixar que nos golpeiem, isso afectará a nossa cabeça?”. I.N.
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AGATHE POUPENEY2
Sur les traces de Dinozord
De Faustin Linyekula
Culturgest, Lisboa / Bienal Artista na Cidade (1 e 2 de Junho)
Possivelmente a mais política, seguramente a mais negra, das várias visitas que o coreógrafo congolês Faustin Linyekula fez a Lisboa enquanto artista residente da cidade em 2016, Sur les traces de Dinozord encena a história por vezes clandestina, quase sempre brutal, de um país que nunca existiu – sem renunciar ao poder de exibir, na galáxia infinitamente distante que é a Europa, a violência com que essa história conformou, até fisicamente, milhões de destinos individuais. I.N.
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You are not a fish after all
De Mihran Tomasyan
Espaço Gaivotas 6, Lisboa / Festival Cumplicidades (15 e 16 de Março)
Foi discreta a passagem por Lisboa deste memorável solo que nos chegou da Turquia, mas isso em nada desvaneceu o seu fulgor. Mihran Tomasyan foi o assombroso protagonista de uma dança-performance densa mas acessível, inventiva e frugal nos meios, a um tempo testemunho político e ode ao diálogo intercultural. Com sonoplastia e efeitos luminotécnicos engenhosos que transformaram modestos objectos reciclados em poderosas metáforas, Tomasyan revelou-se um arrebatado contador de histórias: evocou o assassínio do jornalista arménio Hrant Dink (2007) para nos falar de um país tenso, mergulhado em conflitos interétnicos, e de um mundo assimétrico e cada vez mais inseguro; e de uma dança contemporânea turca em busca de vias próprias num contexto espartilhado entre a matriz europeia e o paradigma médio-oriental. Criado em residência artística num bateau-mouche, este despretensioso pequeno solo artesanal é genial. Demonstrou porque se mantém há seis anos em digressão, na rua e em espaços alternativos, e afirmou-se como o mais inesquecível e empolgante serão de dança de 2016. L.R.
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Cultura-Ípsilon
Fim-de-semana na TV: Dinastias animais, danças com Pite e O Mar Sem Fim
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Cultura-Ípsilon
Coreógrafa Vera Mantero doa arquivo a Serralves que documenta 37 anos de actividade
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Cultura-Ípsilon
Estrela do ballet russo Vladimir Shklyarov morre aos 39 anos
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Cultura-Ípsilon
Palcos da semana: do Som Riscado ao cinema do real