Teatro
Escolhas de Gonçalo Frota, Inês Nadais e Jorge Louraço Figueira
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NELSON GARRIDO10
O Misantropo
De Molière; Ao Cabo Teatro; Nuno Cardoso (encenação)
Teatro Nacional São João, Porto (7 a 24/04); Teatro Municipal de Vila Real (7/05); São Luiz Teatro Municipal, Lisboa (11 a 15/05); Teatro Viriato, Viseu (20 e 21/05); Teatro Municipal de Bragança (2/06); Centro Cultural Vila Flor, Guimarães / Festivais Gil Vicente (4/06)
Nuno Cardoso juntou vários dos suspeitos do costume para mais uma averiguação cénica dos papéis de culpado e de vítima, contando com Molière para proferir a acusação. O réu é o ego de cada um dos espectadores, apanhados com o pé na pista de dança, o ursinho de peluche na cama e os versos alexandrinos para fugir à situação. Jorge Louraço Figueira
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ALÍPIO PADILHA9
Zululuzu
De Pedro Zegre Penim, José Maria Vieira Mendes e André e. Teodósio; Teatro Praga; Pedro Zegre Penim, José Maria Vieira Mendes e André e. Teodósio (encenação)
Teatro São Luiz, Lisboa (15 a 25/09); Teatro Municipal Rivoli, Porto (30/09 e 1/10)
O Teatro Praga lança-se num ataque feroz aos clichés, expondo-os e apontando-lhes o dedo até se tornarem algo de grotesco. Fernando Pessoa é chamado à cena para a espalhar a sua heteronímia pelo palco e recusar ser aquele tipo de óculos e bigodinho dos pacotes de açúcar. África é savana e zebras? Claro, e é um par de sapatos também. Gonçalo Frota
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8
A Lição
De Ionesco; Teatro Meridional; Miguel Seabra (encenação)
Escola D. António da Costa, Almada / Festival de Almada (8/07); Teatro Meridional, Lisboa (13 a 31/07)
Miguel Seabra, Sara Barros Leitão e Elsa Galvão apropriam-se tão bem do texto que o espectador facilmente reconhece, do dia-a-dia, as figuras deste professor, desta aluna e desta criada. Apesar do insólito da situação, reforçado pelo desenho do espaço, da luz e do som, a violência é familiar e quotidiana. J.L.F.
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7
A Noite da Dona Luciana
De Copi; Teatro do Eléctrico; Ricardo Neves-Neves (encenação)
Teatro da Politécnica, Lisboa (24/02 a 19/03); Teatro Cinema de Ponte de Sor (11 e 12/03)
A energia exuberante, o humor vertiginoso e o ritmo delirante que a música imprime às encenações de Ricardo Neves-Neves encontraram em Copi um parceiro ideal. Se o texto avança mais rápido do que o pensamento, caótico e desgovernado, a mão do Teatro do Eléctrico não ampara o desequilíbrio, antes dá um empurrão adicional. G.F.
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JOÃO TUNA6
Cordel
De José Carretas e Amélia Lopes; Panmixia; José Carretas (encenação)
Teatro Nacional São João, Porto (15 a 25/09)
José Carretas e Amélia Lopes recuperaram a tradição de narrar em verso os escândalos mais escabrosos e, a partir dessa forma popular, vendida em folhetos pendurados num cordel, por cegos que percorriam, rimando os casos, as feiras e adros, criaram um almanaque de paixões e ódios exemplares. J.L.F.
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5
Città del Vaticano
De Falk Richter e Nir de Volff
Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa / Festival de Almada (8 e 9/07)
O Vaticano é puxado para o título mas o espectáculo do alemão Falk Richter incide sobretudo numa generalizada recusa de simplificação do mundo e de maniqueísmos populistas. Uma celebração da Europa como espaço de liberdade individual e de desprezo pelas fronteiras, tão provocatória quanto comovente. G.F.
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4
Ivanov
A partir de Tchékhov; Mehr Theatre Group; Amir Reza Koohestani (encenação)
Teatro Nacional D. Maria II, Lisboa (10 a 12/03); Teatro Municipal Campo Alegre, Porto (5/03)
Este Ivanov de auscultadores, condenado a aprender inglês para sobreviver ao Irão, deu o seu corpo a metáforas antigas mas também a uma apatia muito do nosso tempo, que Amir Reza Koohestani, na sua primeira passagem por Portugal, faz implodir numa peça tão em surdina que convida o espectador a fazer-se também ouvinte – e a descobrir que tinha saudades disso. Inês Nadais
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ALINE MACEDO3
E se elas fossem para Moscou?
A partir de Tchékhov; Cia. Vértice de Teatro; Christiane Jatahy (encenação)
São Luiz Teatro Municipal, Lisboa / Alkantara Festival (25 a 27/05)
No seu engenhoso vaivém multimédia entre teatro e cinema, ou seja entre presente e passado, o díptico que a brasileira Christiane Jatahy construiu a partir de As Três Irmãs radicalizou a experiência do clássico de Tchékhov aos olhos do espectador contemporâneo, elevando-a, para lá de todos os efeitos especiais, a uma exponencial potência melodramática. O protesto final contra o impeachment já depois das palmas só tornou ainda mais de carne e osso os desejos de Olga, Maria e Irina. I.N.
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2
Moçambique
De Jorge Andrade; Mala Voadora; Jorge Andrade (encenação)
Teatro Municipal Rivoli, Porto (16 e 17/09); Teatro Maria Matos, Lisboa (23 a 27/09); Teatro Viriato, Viseu (4 e 5/11)
Alterando um dado da sua infância, Jorge Andrade e a Mala Voadora ficcionam o que teria sido a sua vida se tivesse partido para Moçambique para viver com os tios. Mais do que qualquer biografia, pelo meio de danças nativas e anúncios televisivos discute-se com verve e humor o papel do indivíduo na História e da História no indivíduo. G.F.
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PAULO PIMENTA1
Os Últimos Dias da Humanidade
A partir de Karl Kraus; Teatro Nacional São João; Nuno Carinhas e Nuno M. Cardoso (encenação)
Teatro Nacional São João, Porto (27/10 a 19/11)
Seguramente a mais ambiciosa produção do São João da era Nuno Carinhas, a encenação do irrepresentável texto que Karl Kraus escreveu em cima das ruínas da Primeira Guerra Mundial não tem como não ficar inscrita, para memória futura, como caso de estudo da prática teatral enquanto serviço público. O monumental empreendimento dramatúrgico da casa encontraria a sua forma acabada numa encenação tão prodigiosamente invisível como surpreendentemente afirmativa para quem conhece a discrição de Carinhas (é certo que Nuno M. Cardoso também estava nos bastidores…), mas por trás desse objecto de palco que preservou toda a ira e toda a desolação do texto original, e também toda a sua poesia, esteve um inestimável trabalho de tradução e de edição de que resultou finalmente a edição integral da obra em português. Os “valores de produção” da instituição talvez pudessem ter-se sobreposto um pouco menos à vertigem de montar um texto impossível e à pulsão um tanto suicida de sujar a mão nas entranhas da Europa no preciso instante em que a Europa volta a desmoronar-se, mas essas e quaisquer outras objecções serão sempre mesquinhas perante que uma operação é tudo o que se deve poder esperar de um teatro nacional. I.N.
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