Livros
Escolhas de Helena Vasconcelos, Hugo Pinto Santos, Isabel Coutinho, Isabel Lucas, José Riço Direitinho e Mário Santos
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10 ex-aequo
Karen
Ana Teresa Pereira
Relógio d'Água
Um dos romances em que a autora melhor leva ao extremo a sua notável capacidade de unificar vida e literatura, personagens e seres vivos. Uma troca de identidade, ou a impossibilidade de não ser personagem, no lugar onde “todas as histórias [são] uma só” e se luta futilmente contra a eternidade da ficção. Hugo Pinto Santos
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10 ex-aequo
A Vida Como Ela é…
De Nelson Rodrigues
Tinta da China
Quando em 2012, no Brasil se comemorou o centenário do nascimento de Nelson Rodrigues (1912-1980) foram antologiados alguns dos seus contos que nunca tinham sido publicados em livro e foi republicada a sua obra. Em Portugal, e pela primeira vez numa edição portuguesa, uma selecção de 60 dos seus melhores contos feita por Abel Barros Baptista que também escreveu o prefácio do livro. Isabel Coutinho
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10 ex-aequo
O Evangelho Segundo Lázaro
De Richard Zimler
Porto Editora
A história de Lázaro, o ressuscitado, amigo de infância de Jesus e objecto do seu mais estranho e perigoso milagre, é magistralmente recriada pelo autor num romance complexo, de múltiplas leituras e grande intensidade dramática. Um livro sobre o amor, a amizade e, também, sobre a opressão e o desejo de liberdade, sobre a culpa, sobre a traição e a redenção. Helena Vasconcelos
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10 ex-aequo
A Gorda
De Isabela Figueiredo
Caminho
Um romance testemunhal que não abdica dos códigos da ficção, com toda a sua idiossincrasia e no confronto com os mecanismos da autobiografia. Do encontro das duas vias, nasce um livro que refaz o caminho pela via menos fácil. Jogando com o depoimento e a exposição, subverte para recriar os géneros. H.P.S.
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9
Histórias Curtas
De Rubem Fonseca
Sextante
Num tempo de politicamente correcto e de policiamento de palavras, as Histórias curtas, do escritor brasileiro Rubem Fonseca, fazem-nos sentir vivos. Há contos como O Peido, sobre diferentes perfumes e provas de egoísmo. Mas também sobre gordos, putas e mulheres sérias, velhos ranzinzas, pobres, amputados, gagos, caolhos, zarolhos e mirolhos... I.C.
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7 ex-aequo
Deus-Dará
De Alexandra Lucas Coelho
Tinta-da-China
Romance ambicioso e proteiforme, protagonizado pela cidade do Rio de Janeiro, enquanto epítome do país-quase-continente, o terceiro romance de Alexandra Lucas Coelho é uma revisão crítica de “quinhentos anos de equívocos” luso-brasileiros. Em português transatlântico. Mário Santos
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7 ex-aequo
Passos Perdidos
De Paulo Varela Gomes
Tinta-da-China
Uma mulher misteriosa, Ana W, tempos e lugares diferentes - a ilha de Santa Helena, Paris, Antuérpia, Bruxelas, Munique e Milão na década de 1970, Bijapur, Bombaim e a ilha de Diu no final da década de 1980 - a invulgar destreza literária do autor, a sua ironia sofisticada e a sua imensa sabedoria fazem desta obra algo único e inesquecível. H.V.
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6
Escola de Náufragos
De Jaime Rocha
Relógio D’Água
Um livro que é rito de passagem na vida e na morte. Neste regresso à saga do mar, Jaime Rocha enfrenta o ciclo que une vitalismo e finitude, figurado nos gestos ritualísticos da faina. Aprendizagem da condição mortal, a vida do mar é uma esfera que alberga o corpo e lhe fornece o sangue e a assombração. H.P.S.
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4 ex-aequo
O Ruído do Tempo
De Julian Barnes
Quetzal
A relação entre arte e poder a partir da história de Chostakovitch, o compositor aplaudido no Bolshoi e perseguido por Estaline que encarava a música, e as artes em geral, como produção para massas. Julian Barnes retrata a solidão do indivíduo à mercê das directivas de um estado totalitário, ou como o espírito do tempo transforma música em chinfrim e vice-versa. Com profunda ironia. Isabel Lucas
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4 ex-aequo
A Minha Luta - Livro 4: Dança no Escuro
De Karl Ove Knausgård
Relógio D’Água
O autor norueguês continua a sua saga autobiográfica para responder à pergunta “quem eras tu quando não te lembravas que existias”. Ao quarto volume, e sempre no seu estilo lento e reflexivo que arrasta o leitor para a identificação com o narrador, Knausgård conta a continuação da descoberta da masculinidade e do corpo, numa idade em que termina os estudos secundários e arranja emprego como professor. José Riço Direitinho
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3
Bússola
De Mathias Enard
D. Quixote
Romance melancólico sobre a busca do sentido do Oriente. Uma longa e erudita divagação nocturna por geografias afectivas e culturais, de Damasco a Teerão, passando por Istambul. Num exercício narrativo perfeito, em jeito de récita que flui como a História, nele se entrelaçam de maneira profunda e subtil centenas de referências históricas, musicais e literárias. J.R.D.
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2
Manual para mulheres de Limpeza
De Lucia Berlin
Alfaguara
Toda a obra produzida por uma escritora numa espécie de autobiografia onde está representada a devastação feminina, ou melhor, humana. Manual para Mulheres de Limpeza é um volume de contos de quem viveu à margem e domina todos os códigos de sobrevivência. Contos irónicos, dramáticos, desconcertantes na escrita lapidar e despudorada de Lucia Berlin. I.L.
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1
Não Se Pode Morar nos Olhos de Um Gato
De Ana Margarida de Carvalho
Teorema
Partindo de um dispositivo muito simples e clássico – a encenação de um “huis clos” (neste romance, o palco é um espaço fechado entre “dois infinitos”, o céu e o mar, numa ignota e “intermitente” praia brasileira nos finais do século XIX) e a submissão de humaníssimas e banais personagens a condições extraordinárias e sobre-humanas (trata-se aqui, de um “cardume de náufragos” de um navio negreiro clandestino, forçados a improvisarem uma “comunidade” improvável) –, Ana Margarida de Carvalho alcançou, em Não Se Pode Morar Nos Olhos de Um Gato, um romance épico que é, simultaneamente, interior, telúrico e trágico-marítimo. Ficção que não se envergonha de dizer o seu nome, plena de invenção e peripécias, puro e prodigioso feito de linguagem, que dispensa outros amparos e cauções, o segundo romance da autora prodigaliza insinuantes e poderosas imagens: visuais, como a imagem de um ex-escravo que surge do mar, a cavalo, ou a do suplício de um banquete diante de esfomeados, a de certa ama levando consigo uma criança para o fundo do mar, ou a da maculada e humana concepção de uma das personagens nas penedias beirãs; mas também imagens auditivas (o que não surpreenderá, num livro cheio dos sons e das fúrias da Natureza) e até olfactivas. Em duas palavras: absolutamente magnífico. M.S.
Escolhas de António Araújo, António Guerreiro, Diogo Ramada Curto, Manuel Carvalho e Nuno Crespo
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10 ex-aequo
O Pós-Guerra Fria
De Carlos Gaspar
Tinta-da-China
De uma curiosidade voraz, munido de uma vasta cultura das relações internacionais e contando com a experiência de quem conhece por dentro os meandros da decisão política, Gaspar escreveu um dos melhores livros de história do presente. Claro e sistemático no uso dos conceitos e das teorias, o livro adopta como dois dos seus principais marcos a queda do Muro de Berlim (1989) e o 11 de Setembro (1991). Neste quadro, a questão principal não se inspira em qualquer suposto fim da história, mas em saber como pode a democracia sobreviver no interior da nova ordem internacional Pós-Guerra Fria. Diogo Ramada Curto
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10 ex-aequo
Os Nomes da Obra. Herberto Helder ou o Poema Continuo
De Rosa Maria Martelo
Documenta
Cinco ensaios através dos quais se é levado a um confronto intenso com a poesia de Herberto Helder. A conduzir esses ensaios a ideia de estar em causa em cada verso a metamorfose do autor em obra, isto é, aqui a ambição poética maior é a de ser poema e não poeta. Um processo de deslocação do nome do autor para dentro das fronteiras da obra que reaparece em muitos dos temas associados às obras de Herberto Helder. Nuno Crespo
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10 ex-aequo
Uma Coisa Não É Outra Coisa
De José Maria Vieira Mendes
Livros Cotovia
O princípio da lógica aristotélica que está na base do título deste livro serve para José Maria Vieira Mendes desenvolver uma longa e entusiasmante argumentação para mostrar que o teatro e a literatura são coisas diferentes e que a relação entre os dois abre para uma interessantíssima problemática. António Guerreiro
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10 ex-aequo
Heinrich Himmler, de (Publicações )
De Peter Longerich
D. Quixote
Nesta biografia de Himmler, baseada numa investigação de mais de uma década, reconstrói-se pari passu a trajectória do Reichsführer SS. Sem ceder a psicologismos interpretativos, tenta explicar-se o inexplicável: a vertiginosa ascensão de um homem marcado pelo trauma de não ter participado na Grande Guerra e com uma desmedida ambição de poder. Pelo meio, projectos e teorias fantasiosas, a edificação das SS, o silenciamento de inimigos reais ou imaginários: judeus, maçons, homossexuais, cristãos. Um livro esmagador. António Araújo
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7 ex-aequo
Tempo e Poesia
De Eduardo Lourenço
Fundação Calouste Gulbenkian
O núcleo primordial deste volume é o livro publicado em 1974 com o título Tempo e Poesia. Mas a quantidade de textos que o coordenador do volume, Carlos Mendes de Sousa, aqui reuniu é três ou quatro vezes maior. Devemos dizer sem hesitações que está aqui a parte mais importante do ensaísmo de Eduardo Lourenço. A.G.
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7 ex-aequo
Terra Negra
De Timothy Snyder
Bertrand
Um livro arrepiante que nos mostra como o nazismo, o holocausto e o genocídio não nasceram com o surto da violência da guerra ou do totalitarismo – estavam já discretamente inscritos no quotidiano das sociedades de Leste, onde o anti-semitismo alastrara, e foram teorizados em forma de síntese no Mein Kampf de Hitler. Uma leitura brutal da história europeia e um aviso para o presente: os sinais das múltiplas crises europeias ou do Médio Oriente são a prova de que, afinal, a história se pode repetir. Manuel Carvalho
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7 ex-aequo
Antes de Lutero
De José Adriano Freitas de Carvalho
Afrontamento
Eugenio Asensio explorou há muito as correntes de espiritualidade anteriores a Erasmo e ao erasmismo peninsular. Com a mesma erudição e profundidade, Freitas de Carvalho analisa neste brilhante livro sucessivas propostas destinadas à reforma da Igreja, anteriores a Lutero. Mais um contributo de peso da autoria do nosso maior historiador da cultura, da literatura e das correntes de espiritualidade. D.R.C.
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6
Melancolia e arquitectura em Aldo Rossi
De Diogo Seixas Lopes
Orfeu Negro
A experiência da melancolia, simultaneamente desesperante e criativa, tem sido na cultura ocidental motivo de muita produção filosófica, artística, poética. Neste livro, é no contexto da arquitectura e, mais especificamente, no da obra do arquitecto Aldo Rossi, em especial o Cemitério de Santo Cataldo em Modena, que a melancolia é pensada enquanto elemento gerador de espaço. N.C.
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5
Rebuçados Venezianos
De Maria Filomena Molder
Relógio D'Água
Se dissermos que este livro é sobre um vasto conjunto de artistas contemporâneos, abrangendo várias disciplinas artísticas, não estaremos nem pouco mais ou menos a dar uma ideia da dimensão e pluralidade de questões de estética e história da arte que atravessam, sob a forma de um pensamento jubiloso, este grosso volume. A.G.
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4
Da Crítica
Edição e organização de Bruno C. Duarte
Documenta
Nove textos sobre a crítica, de autores nacionais e estrangeiros, aos quais se juntam uma Introdução e uma Conclusão de Bruno C. Duarte. Desenvolvendo uma ideia de crítica que vem do Iluminismo e do Idealismo alemão, este é um livro de enorme envergadura e raro no nosso panorama intelectual e editorial. A.G.
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3
À Beira do Abismo, A Europa 1914-1949
De Ian Kershawl
D. Quixote
Um retrato admirável do período em que a Europa esteve à beira da autodestruição. Uma Europa com feridas abertas pela I Guerra Mundial, que procura a cura dos seus males no totalitarismo e banaliza a desumanização na II Guerra Mundial. Uma obra admirável, principalmente no período que vai da depressão dos anos 30 a 1949, escrita num registo em que o quotidiano das pessoas se cruza com as grandes decisões das elites, da autoria de um historiador que domina como poucos o nazismo e a biografia de Hitler. M.C.
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2
Fontismo: Liberalismo numa Sociedade Iliberal
De David Justino
D. Quixote
Se, no seu clássico livro A Formação do Espaço Económico Nacional (1989), Justino estudou a construção económica de um mercado nacional no século XIX, neste novo livro sobre o Fontismo centra-se na análise dos aspectos políticos e ideológicos entre 1850 e 1890. Neles, encontrou as origens intelectuais das políticas públicas da modernização, da organização do Estado implantado territorialmente e da identidade nacional constituída em antídoto das visões da decadência. Um livro profundo, escrito por um economista dobrado de sociólogo e historiador, numa fase de grande maturidade cívica e cultura interdisciplinar. D.R.C.
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1
Bíblia
Vol. I – Novo Testamento. Os Quatro Evangelhos, tradução do texto grego, apresentação e notas por Frederico Lourenço
Quetzal Editores
Noutro belo livro saído este ano, Ler a Bíblia no Século XXI, o Pde. Carreira das Neves explica a génese da Bíblia Grega: os judeus que emigraram em massa para o Egipto no século III a.C. decidiram traduzir as Escrituras hebraicas em grego, a língua que usavam. Septuaginta ou "Bíblia dos Setenta" porque, segundo a lenda, foram setenta os sábios judeus que a traduziram, a pedido de Ptolomeu Filodelfo. Em Alexandria, cada um dos sábios fechou-se no seu quarto, começando e acabando o trabalho ao fim de setenta dias. Quando o labor findou, deram-se conta de um milagre: em setenta dias, os setenta sábios haviam traduzido as Escrituras exactamente da mesma forma, palavra a palavra, sílaba a sílaba.
O trabalho de Frederico Lourenço, próprio de um sábio antiquíssimo, exigiu-lhe certamente mais do que setenta dias, mas o resultado final é milagroso. Pela primeira vez, em séculos, em milénios, os leitores portugueses podem ler a versão integral da Bíblia Grega. Se as setenta traduções dos setenta sábios de Alexandria eram miraculosamente idênticas entre si, o trabalho de Frederico Lourenço é ímpar, singularíssimo, absolutamente único. Num ou noutro passo, a tradução poderá, porventura, ser questionada e debatida por especialistas, biblistas ou teólogos; no fundo, por quem saiba – e esteja à altura – de compreender o grego clássico e os intrincados problemas da fidelidade da Septuaginta ao original hebraico. Mas louvores ou críticas só são possíveis, nunca o esqueçamos, porque esta tradução foi feita e doravante existe – a partir de agora, até ao fim dos tempos. A.A.
Escolhas de António Guerreiro, Gustavo Rubim, Hugo Pinto Santos e Maria da Conceição Caleiro
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9 ex-aequo
Políptico
De R. Lino
Companhia das Ilhas
É tempo de lembrar desta autora que publicou o seu primeiro livro em 1984 e esteve mais de vinte anos sem publicar. Eis, num só volume, os seus quatro livros publicados e um inédito, onde se manifesta um enorme fascínio pelas lonjuras geográficas e históricas, que ganham uma dimensão atemporal e quase mítica. António Guerreiro
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9 ex-aequo
O Jogo das Comparações
De Inês Lourenço
Companhia das Ilhas
“Vértebra/do mundo” são palavras finais de um dos poemas deste livro e, concisamente, são capazes de dizer mais. Nestes poemas se reúnem, com notável oficina, os lugares e as declinações do corpo. A infância é revista com lucidez nunca fria, o mundo não é palavra vã, e a dignidade não passou do prazo. Hugo Pinto Santos
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9 ex-aequo
Lançamento
De Margarida Vale do Gato
Douda Correria
Um nome próprio serve de título a cada um dos poemas deste livro, que se constrói como um álbum de família ou como uma enumeração de afinidades electivas. Mas estes poemas não são meras dedicatórias ou evocações: com muita discrição e subtileza (apoiadas numa grande mestria formal) avançam por domínios mais vastos. A.G.
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9 ex-aequo
Cordoaria Nacional
De Nunes da Rocha
Averno
Dois mitos debatidos: a Antiguidade grega e a portugalidade. Ambos enredados nas mesmas cordas (aludidas no título): enleio marinho, aventura vogante para o escuro e a morte, ameaça da penúria. Poema político e de um eu medido contra ásperos muros da vida. Um uso da língua que recrudesce ao elevar-se. H.P.S.
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9 ex-aequo
Pequena Indústria
De Ricardo Tiago Moura
Tea For One
Uma das mais afirmativas vozes contemporâneas, Ricardo Tiago Moura é um perito em operações discretas, que aqui homenageia os industriosos obscuros, fora dos focos, artesãos em segredo a que talvez possamos chamar poetas ou artistas. Oiça-se bem antes de querer decifrar: “sou chaminé / sou invisível: / meio vertical / vazio inteiro: / nulo de voz / ruína não é:” Gustavo Rubim
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8
Tresmalhado
De Jorge Roque
Averno
Raras vezes se olhou o mundo na escrita com tanta entrega. Raras vezes foi possível dizer desse mundo o que é do corpo e a ele volta. Uma revolta que parte dos fundamentos da ética conduz aos sentidos tensos do individual e do colectivo. Uma palavra despida que se possa ainda dizer sobre o descalabro. H.P.S.
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7
A Crisálida
De Rui Nunes
Relógio D'Água
Este livro reage, com a violência da sua linguagem, à brutalidade do mundo actual. Uma escrita rebelde à tirania dos formatos e que existe lá onde a palavra se faz combate consciente da desigualdade das armas. A sua capacidade de ler o atroz está na firmeza implacável de dizer o eu e de enfrentar o outro. H.P.S.
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5 ex-aequo
Víveres
De Miguel Cardoso
Tinta-da-China
“De onde partir para os dias? / Como aceder aos bens da terra?” São perguntas assim que fazem a ousadia deste livro único, um livro que usa e abusa do infinitivo para não mascarar a alta aposta que faz nos poderes do poema. Livro-diálogo com a poesia de hoje e com a mais antiga, o seu problema é a relação com os trabalhos e os dias, com a forma e a força da comunidade. G.R.
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5 ex-aequo
Noizz
De Rui Baiã
Companhia das Ilhas
Se esta poesia fosse voz, seria rouca. Não por defeito, nem efeito, mas pela dura guturalidade das suas afirmações. É como se o que ela diz emanasse de vísceras directamente, e a inteligência fosse um prumo apenas, também ele carnal. A dureza não é arte; decorre da articulação rente a um âmago doloroso. H.P.S.
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4
Ocarina
De António Barahona
Averno
Este livro prossegue um diálogo poético-religioso, às vezes com a dimensão de um canto. Há também muitos poemas de carácter mais “profano”, mas António Barahona instalou-se num território que nos obriga a pensar numa idade da inocência da poesia, em que a palavra poética emerge de um mundo não secularizado. A.G.
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3
Poesia 1990-2016
Eucanaã Ferraz
Imprensa Nacional - Casa da Moeda
Reúne a obra de um grande poeta brasileiro que presta homenagem a Portugal, aos seus lugares e poetas. Poesia do lado do objecto, das coisas mais simples cuja fímbria ilumina ficando essa cintilação a reverberar no sujeito. No leitor e nas margens da letra. A porta aberta da geladeira de noite, torna presente o escuro. Uma mestria oficinal marca a sua obra, move-se na versatilidade da prosódia como quem dança. Maria da Conceição Caleiro
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2
Nove fabulo, o mea vox / De novo falo, a meia voz
De Alberto Pimenta
Pianola
Com este livro, Alberto Pimenta alcança um posto elevado no seu longo percurso de poeta. Começa com um poema sobre a passagem do tempo, sobre o declínio e a expectativa da morte. Mas este canto dos fins inaugura outros tons e registos numa grandiosa orquestração onde se ouve o lirismo, o drama, o trágico, o cómico, a sátira. A.G.
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1
Letra Aberta
De Herberto Helder
Porto Editora
São só trinta e três poemas, mas, se nada mais houvesse, não era só o ano, era uma década de poesia escrita em português que se projetava no plano mais elevado. Olga Lima escolheu estes trinta e três inéditos e mostrou não ter sido em vão que partilhou a sua vida com um génio. Escolheu-os para assinalar um ano sobre a morte do poeta e fê-lo mostrando um Herberto nada póstumo, absolutamente vivo na proximidade do poema e na iminência ou na espera da morte: “e então espero mais vinte e quatro horas de mais nada / que como quando / um dia em que penso ou não penso / um que não passa tão certamente desatento (…)”. São poemas com uma contiguidade nítida a certas leituras, mais ou menos identificadas ou oblíquas e a precisar de adivinhação, poemas rasto do alimento quotidiano de um velho poeta, da sua muito especial aprendizagem com “águas que atravessam a manhã inteira”, circulação nada académica de águas que nunca solidificam, “oh obra-prima de que espécie de ensino / (…) e a verdade é isto: a mistura de exemplos e de enganos / que a mim mesmo infundo”. Aprenda-se. G.R.
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Cultura-Ípsilon
Em O Céu da Língua, Gregorio Duvivier é “tipo um cachorro procurando trufa”
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Cultura-Ípsilon
Fim-de-semana na TV: Dinastias animais, danças com Pite e O Mar Sem Fim
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Cultura-Ípsilon
Em 2025 o D. Maria II regressa a Lisboa, perseguindo a utopia
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Cultura-Ípsilon
A Vida Secreta dos Velhos ou o amor e o desejo depois dos 80