Exposições
Escolhas de José Marmeleira, Luísa Soares de Oliveira e Nuno Crespo
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10
António Bolota
Galeria Quadrado Azul, Lisboa
Esculturas que criaram passagens, abismos, escapatórias. Espaços sob os efeitos da luz e da escuridão, das linhas da geometria, com as condições da arquitectura. Na Galeria Quadrado Azul, António Bolota, artista cujo trabalho nasce da construção da cidade, confrontou o espectador não apenas com as ilusões e vertigens das esculturas, também o deixou, a sós, diante das situações, dos espaços e das possibilidades que constituem a realidade. Uma exposição memorável. José Marmeleira
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9
The Cold Man
João Louro
Galeria Cristina Guerra, Lisboa
Em The Cold Man, João Louro partiu de um verso de Oscar Wilde, “each man kills the thing he loves”, para ficcionalizar os testemunhos da vida de um suposto assassino, desde objectos comuns até à reprodução pintada em grande formato de capas de livros relacionados com o começo da modernidade. Era possível ver nesta paródia do documento policial uma metáfora da própria prática de coleccionar, bem como de um processo que o artista ali fazia ao sistema artístico no seu todo. Mais do que isso, “The Cold Man” provava a qualidade e a originalidade da obra deste artista, o que foi confirmado pelo convite que lhe foi feito, alguns meses depois, para representar Portugal na Bienal de Veneza de 2015. Luísa Soares de Oliveira
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8
Terra
Miguel Branco
Galeria Esteves de Oliveira, Lisboa
Nesta exposição, Miguel Branco apresentou desenhos de dimensões variadas, a maioria a carvão, que se distribuíam pela sala da galeria. Reconheciam-se alusões à história da arte e referências da grande pintura, mas eram as imagens de animais que se entregavam à contemplação dos espectadores. Retratos de chimpanzés, gorilas, macacos. Desenhos familiares mas imperfeitos, imprecisos mas soberanos. Miguel Branco deixou-nos um desenho do homem, nesta terra. J.M.
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7
Marwan: Primeiras Obras 1962-1971
Museu de Serralves, Porto
A exposição que suscitou compaixão no olhar do espectador devemo-la a Marwan, sírio exilado na cidade de Berlim. Em Serralves, o público teve a oportunidade de conhecer aguarelas e pinturas que comunicavam situações humanas de mágoa, saudade, exílio. Não, não sacrificavam o mistério ou a resistência das figuras, mas compunham uma obra que entre a tragédia e (alguma) esperança aproximava o espectador das telas. Sem o seduzir. J.M.
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6
Parques: os Cones e Outros lugares
Ricardo Jacinto
Centro Internacional das Artes José de Guimarães - Plataforma das Artes e da Criatividade, Guimarães
Ricardo Jacinto teve, em 2014, uma actividade expositiva invulgar. Entre Lisboa, na Appleton Square, e Guimarães, mas com destaque para esta última cidade, apresentou trabalhos e exposições que cruzavam memória, arquitectura, escultura e música. Parques: os Cones e Outros lugares retomou um projecto da primeira década do milénio onde um colectivo de artistas e músicos, em torno do autor, exerceu uma actividade notável que cruzava diferentes disciplinas artísticas em torno dos sentidos do espectador, eixo sensorial de toda a obra deste artista. L.S.O.
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5
Narrativa Interior
João Tabarra
Centro de Arte Moderna, Lisboa
No CAM, sinal certo do reconhecimento de qualquer artista nacional, João Tabarra, um dos nomes mais importantes da arte portuguesa dos anos 90, apresentou uma antológica do seu trabalho. Artista de excepcional cultura, Tabarra tem utilizado a fotografia como meio de questionar o estatuto do artista na sociedade em que vive. Através da auto-representação em imagens encenadas, atravessadas com frequência por um sentido de humor certeiro, esta exposição confirmou a justeza e a coerência de uma obra fulcral na nossa contemporaneidade. L.S.O.
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4
Este É o Lugar
Pieter Hugo
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
A primeira retrospectiva de Pieter Hugo, integrada no Programa Próximo Futuro, foi um dos momentos mais intensos do ano. Por causa dos rostos, dos olhos, dos corpos, das paisagens. De onde vinham as fotografias do artista sul-africano? Da África do Sul e da África subsariana, para acordar e assombrar o espectador. Em Este É o Lugar, na Gulbenkian, o outro fomos todos nós. Brancos, negros, albinos, velhos, africanos, europeus. J.M.
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3
Indépendance Cha-Cha
Ângela Ferreira
Lumiar Cité, Lisboa
Apresentada no Lumiar Cité, a notável exposição de Ângela Ferreira construiu-se sobre um conjunto de histórias que retomavam questões ou assuntos recorrentes na obra da artista. A arquitectura, o modernismo, a colonização europeia em África e o pós-colonialismo. E, ao mesmo tempo, revelava ao espectador a possibilidade de uma outra experiência da obra no espaço. Com o som, a música e canções sobre uma escultura. J.M.
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2
António Dacosta 1914-2014
Centro de Arte Moderna, Lisboa
Comissariada por José Luís Porfírio, a retrospectiva dedicada a António Dacosta não se limitou a comemorar o centenário do poeta, crítico e artista. Deu a conhecer uma obra que foi um eterno recomeçar na e com a pintura, muito para lá de movimentos e “ismos”. Com trabalhos inéditos e conhecidos, desenhos, ilustrações, documentação e textos. Dos horizontes imaginados pelo surrealismo à paisagem açoriana, uma travessia luminosa na arte portuguesa. J.M.
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1
Objectos Imediatos
José Pedro Croft
Cordoaria Nacional e Fundação Carmona e Costa, Lisboa
Para os críticos de arte do PÚBLICO, a melhor exposição do ano foi uma grande antologia de José Pedro Croft, que se desdobrava por dois espaços distintos. Na Fundação Carmona e Costa mostrava-se desenho, como é habitual nesta instituição. Na Cordoaria, por outro lado, há escultura e também algum desenho, já que ambas as disciplinas, embora distintas, se complementam na prática deste artista.
Para Croft, o desenho permite convocar a cor e a bidimensionalidade, que não são características tradicionais da escultura. Permite também exibir de modo óbvio os passos de um processo que se constrói no tempo através da repetição do gesto, da sobreposição formal, do assumir, enfim, do acaso ou do erro na construção de cada série, de cada peça. O que é notável no seu trabalho, para além do efeito de sedução imediata que cada peça produz em nós, espectadores, é a capacidade de criar cruzamentos não apenas entre a escultura e o desenho, mas também entre estes e a pintura ou, mesmo, a arquitectura: em anteriores individuais, tal como agora aconteceu, transformou completamente o espaço expositivo através da montagem e da escala das peças apresentadas.
Para Croft, essa vontade passa também pelo imaterial como pela matéria, pelo espaço vazio como pelo cheio, pelo silêncio como pela palavra: nas estantes de vidro ou espelho que nos mostra, tão importante é a esquadria de metal que enforma o objecto como o espaço intersticial que se estabelece entre este e o lugar. E, nos desenhos, tanto significado possui a folha de papel como os espaços vazados dentro dela.
Na Cordoaria, estas grandes linhas que atravessam todo o seu trabalho estavam bem presentes. Espelhos, acrílicos coloridos, molduras e estantes de metal, peças de chão ou de parede, mobiliário recuperado e, mesmo, grandes placas de mármore estriado (que, para os mais atentos, convocavam as primeiras obras que realizou, nos já longínquos anos 80) desenrolavam, obra após obra, uma inquietação que se adivinha para além de todo o fazer, de todos os resultados: a de responder à vontade de organizar e interrogar o mundo sem nunca romper o elo com a história da arte. No fundo, é esta sempre a condição da própria arte. L.S.O.