Música
Escolhas de Gonçalo Frota, João Bonifácio, Mário Lopes, Nuno Pacheco, Pedro Rios e Vítor Belanciano
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30
Sleaford Mods
Divide And Exit
Harbinger Sound
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29
Flying Lotus
You’re Dead
Warp, distri. Symbiose
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28
Kelis
Food
Ninja Tune, distri. Symbiose
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27
Thee Oh Sees
Drop Castle
Face Records
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26
Perfume Genius
Too Bright
Matador, distri. Popstock
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25
Ariel Pink
pom pom
4AD, distri. Popstock
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24
Criolo
Convoque Seu Buda
Sky Blue Music
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23
Adriana Calcanhotto
Olhos de Onda
Sony Music
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22
Marissa Nadler
July
Bella Union, distri Pias Iberia
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21
Timber Timbre
Hot Dreams
Arts & Crafts, distri. Pias Iberia
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20
Ricardo Rocha
Resplandecente
Mbari Música
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19
Legendary Tiger Man
True
Metropolitana, distri. Sony Music Portugal
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18
Batida
Dois
Soundway Records
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17
Mac DeMarco
Salad Days
Captured Tracks, distri. Popstock
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16
Angel Olsen
Burn Your Fire For No Witness
Jagjaguwar, distri. Popstock
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15
Bruno Pernadas
How Can We Be Joyful In a World Full of Knowledge
Pataca Discos
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14
Kate Tempest
Everybody Down
Big Dada
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13
Sensible Soccers
“8”
PAD / Groovement
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12
The Men
Tomorrow’s Hits
Sacred Bones, stri. Popstock
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11
Ty Segall
Manipulator
Drag City, distri. Flur
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10
Amen Dunes
Love
Sacred Bones
Love é uma variação espacial e psicadélica da folk, com uma especial apetência por melodias que se escondem à socapa nos interior dos nossos ouvidos, e por harmonias que nos impelem para cima da atmosfera, onde o ar é rarefeito e o cérebro delira. João Bonifácio
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9
FKA Twigs
LP1
XL Recordings, distri. PopStock
A britânica Tahliah Barnett, ou seja FKA Twigs, move-se entre fronteiras. O ambiente global é intimista, mas também pós-humano. Em cada canção ouvimos a voz de uma mulher, mas é também a voz de uma máquina, expondo vulnerabilidade. É essa hipersensibilidade digitalizada que atribuiu às canções uma carga emocional dual inesperada, assente em dinamismos rítmicos em câmara lenta, em contorcionismos intrigantes e em espaços de quase silêncio. Ao primeiro álbum encontrou a sua voz e foi capaz de discernir um mapa sonoro singular para lhe atribuir sentido. Vítor Belanciano
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8
War On Drugs
Lost in the Dream
Secretly Canadian, distri. PopStock
A música dos War On Drugs é uma velha história americana, a da viagem numa estrada sem fim à vista, calcorreando caminho porque nenhuma outra hipótese parece viável e ou atraente. Com Slave Ambient, o álbum anterior, ouvimos como Adam Granduciel tornou sua essa história: música envolta em neblina e construída como ponte entre o canto declamado de Dylan e o sentido grandiloquente de Springsteen. Lost In The Dream ainda é isso (mas mais). Tem o tom bombástico da produção dos anos 1980 e uma saturação sonora que dá à música um colorido garrido (construído com sintetizadores, linhas de guitarra sobrepostas, pianos e vozes subaquáticas). Tem canções, certamente, mas ouvimo-las como parte de um contínuo. É álbum com sabor a viagem. Estrada perdida – e não queremos encontrar o caminho de regresso. Mário Lopes
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7
Warpaint
Warpaint
Rough Trade; distri. Popstock
Durante um retiro criativo em Joshua Tree, as Warpaint retrocederam no protagonismo que as guitarras eléctricas andavam a reclamar em palco e partiram numa expedição rumo a uma pop tão insinuante quanto esquiva. As canções do disco homónimo confirmam esta como uma das mais inventivas e coesas secções rítmicas actuais e é a reboque da dupla Stella Mozgawa/Jenny Lee Lindberg que se vai infiltrando um tom negro surripiado ao r&b ou ao dub em temas que, passado quase um ano, soam intocados no seu misterioso magnetismo. Gonçalo Frota
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6
Capicua
Sereia Louca
Universal
Depois de uma promissora estreia, Ana Matos ascende ao Olimpo do hip-hop português com um álbum de vistas largas: tem sintetizadores g-funk; enxertos fadistas (Gisela João é convidada, Mísia é “samplada”) e de José Afonso; sabedoria nas batidas, capazes de se banharem sem pudor nas águas doces da pop; e letras com mundo e gente (da “mulher do cacilheiro” à própria Ana Matos em versão infantil de Vayorken, grandessíssima canção), debitadas por uma rapper em pleno de forma. Pedro Rios
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5
Rodrigo Amarante
Cavalo
Kartel - Mais um Discos
PopstockAo piano, à guitarra, ao violão, ao órgão, com escassos mas preciosamente medidos arranjos, Cavalo avança manso e belo. Quando se atinge o fim na forma da extraordinária balada Tardei, pouco importa se é um disco brasileiro ou americano, de agora ou de antes: é um lindíssimo satélite sem órbita, pairando a destempo e com modos tímidos a esconder a beleza. J.B.
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4
Amélia Muge
Amélia com Versos de Amália
Ed. autor; distri. LeveMusic
Cantar versos de Amália Rodrigues nunca antes musicados poderia facilmente cair no excesso de reverência ou na tarefa inglória de tentar imaginar como soariam as palavras da voz maior do fado se vocalizadas pela própria. Mas Amélia Muge não se deixa tolher por pudores e inventa um espaço em que os versos, mais fatalistas ou bem-humorados, surgem livres de qualquer sombra e se emaranham na sua visão muito ampla e particular daquilo que pode ser a música assente na tradição portuguesa. G.F.
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3
Run The Jewels
Run The Jewels 2
Mass Appeal
El P e Killer Mike. O primeiro, criador de hip hop enquanto ficção científica distópica. O segundo, homem de Atlanta, antigo protegido de Big Boi, dos Outkast, rapper de aguda consciência do quotidiano, representante do Dirty South de groove impoluto. O ano passado, surgiram de surpresa com o homónimo álbum de estreia. Este ano, regressaram (e foi melhor ainda). Voz activista, inspirados pelos NWA ou Public Enemy em que se formaram, e invenção (e reinvenção) sónica. O hip hop a continuar a dar passos em frente. Clássico instantâneo. M.L.
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2
Shabazz Palaces
Lese Majesty
Sub Pop, distri. PopStock
Ao segundo álbum os norte-americanos Shabazz Palaces inventam um vocabulário próprio, através de uma música densa e complexa, por vezes próxima da plasticidade do hip-hop e outras da espiritualidade do jazz. Depois de um primeiro álbum marcante (Black Up de 2011), o duo regressou agora com uma obra ocupada por um universo particular, feito de leras politizadas, atmosferas subaquáticas, electrónica borbulhante, batidas vagamente inspiradas no hip-hop e funk mutante. V.B.
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1
Grouper
Ruins
Kranky, distri. Flur
Gravado perto de Aljezur, no Sul de Portugal, o álbum da americana Liz Harris, ou seja Grouper, resultou de uma residência artística da galeria Zé dos Bois e da amizade com o seu programador musical Sérgio Hydalgo. É uma obra indissociável do espaço e tempo onde foi registado e a própria fez questão de o salientar. É daqueles objectos onde por vezes nos sentimos intrusos, feito de uma música artesanal mas intensa, iluminando a melancolia, com duas mãos acariciando um piano, enquanto uma voz parece remoer consigo própria.
Ao longo de dez anos e de tantos outros discos, Liz Harris foi trabalhando composições desconsoladas com influências do ambientalismo ou da música concreta, sempre com a preocupação de expor uma sonoridade simples e desnudada. Mas nunca tinha ido tão longe como nesta obra atravessada por muitos fantasmas. Dissolução das relações amorosas. Descrença no amor romantizado. Solidão. Um amontoado de ruínas emocionais – “maybe you were right when you said i’d never been in love”, canta em Clearing.
Há ruínas interiores e exteriores por aqui, pressentidas no cenário de degradação de algumas casas rurais ou no colapso do sistema financeiro e na crise económica. É um álbum de canções tristes, mas é a tristeza de quem não teme a inquietação, disponibilizando-se para lhe apreender os contornos, para melhor a superar ou reparar com calma.
Em momentos catárticos assim podemos escudar-nos defensivamente em sentimentos sombrios circulares, ou então, sem recusar a melancolia, transformá-la em qualquer coisa de palpável, orgânica e com horizonte. Liz Harris conseguiu-o. V.B.
Escolhas de Nuno Catarino e Rodrigo Amado
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10
Mergulho
Coreto PortaJazz
PortaJazz
Formado em 2012, o Coreto PortaJazz apresenta-se neste segundo disco sob a direcção do guitarrista António Pedro Neves. Integrando alguns dos instrumentistas mais interessantes da cena nortenha — João Pedro Brandão, Susana Santos Silva, José Pedro Coelho, entre outros —, o ensemble explora diferentes ambientes num trabalho de composição e orquestração que combina a força de uma big band com a criatividade dos instrumentistas. Música original e enérgica que se afirma como um dos mais representativos registos de uma associação que tem desenvolvido um trabalho notável. Nuno Catarino
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9
Zero
João Guimarães
TOAP
O saxofonista João Guimarães, que já tinha dado mostras do seu talento como instrumentista (Orquestra Jazz de Matosinhos, Fail Better, entre outros projectos), apresenta-se agora na condição de líder com um disco que é uma enorme surpresa. Zero apresenta-nos um octeto transnacional — ao saxofonista juntam-se Nico Tricot, Mário Santos, Susana Santos Silva, Travis Reuter, Jacob Sacks, Simon Jermyn e Allan Mednard — numa interpretação de composições complexas, sempre com alta intensidade e uma rara inteligência musical. N.C.
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8
The Imagined Savior Is Far Easier To Paint
Ambrose Akinmusire
Blue Note
Se o belíssimo som de trompete de Ambrose Akinmusire já tinha seduzido meio mundo, agora, com este terceiro disco, promete conquistar o restante. Treze temas originais que atravessam géneros, num disco onde não há só jazz: há soul, pop e spoken word, numa mescla bem conseguida onde a melodia está sempre no centro. Aqui está a consagração definitiva de Akinmusire como figura maior do jazz americano deste século. N.C.
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7
New York Concerts
Jimmy Giuffre
Elemental
Duas gravações inéditas do lendário inovador Jimmy Giuffre, reunidas numa única edição de dois CD, lançam nova luz sobre a sua “década perdida”. Uma edição histórica que nos permite compreender a evolução notável do pensamento e da acção de Giuffre, levando ainda mais longe os paradigmas explorados em Free Fall e desenvolvendo o seu característico jazz de câmara para territórios ainda mais austeros e abstractos. Contraponto, harmonia pontilística e melodias livres, na concepção musical visionária de uma das figuras mais injustiçadas da história do jazz. Rodrigo Amado
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6
Malus
Nate Wooley/Hugo Antunes/Chris Corsano
No Business
Os americanos Nate Wooley (trompete) e Chris Corsano (bateria) têm-se afirmado nos últimos anos como dois dos mais entusiasmantes instrumentistas em actividade. A eles junta-se neste trio o contrabaixista português Hugo Antunes, que confirma não só estar ao nível dos parceiros do trio, como se assume como uma das mais imaginativas vozes no seu instrumento, com uma linguagem que cruza o jazz e a música improvisada. Da imaginação de Antunes, Wooley e Corsano nasce uma música rica, de uma amplitude vastíssima. N.C.
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5
The Great Lakes Suites
Wadada Leo Smith
TUM
Nomeado em 2012 para um Pulitzer Prize em música, o trompetista e compositor Wadada Leo Smith reúne neste disco uma formação monumental — Leo Smith no trompete, Henry Threadgill em saxofone e flautas, John Lindberg no contrabaixo e Jack DeJohnette na bateria. Depois de Ten Freedom Summers (2012) e Occupy The World (2013), ambos enormes sucessos de criatividade e de estética, Wadada oferece-nos um novo acontecimento de ordem maior, longe de modas e tendências, consagrando-se como um dos mais vitais e importantes jazzmen deste início de século. R.A.
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4
Last Dance
Keith Jarrett & Charlie Haden
ECM
Parceiros desde os anos 60, Haden e Jarrett protagonizaram uma revolução silenciosa no jazz e encontram-se aqui para um diálogo final. O material que integra este disco foi recuperado das gravações de Jasmine (registado em 2007) e inclui melodias irresistíveis como My old flame, It might as well be spring ou Everytime we say goodbye que, na interpretação delicada de Jarrett e Haden, transpiram sentimento num ponto ideal de equilíbrio. Como aqui escrevemos há uns meses: “Derradeiro disco de uma colaboração mágica, a recordar-nos que a vida é, sobre tudo o resto, um poema.” N.C.
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3
Live at Village Vanguard
Marc Ribot Trio
Pi
Sessão alquímica protagonizada por Marc Ribot (guitarra), Henry Grimes (contrabaixo) e Chad Taylor (bateria). Uma música plena de referências, mas tão livre e orgânica como aquela que é composta no momento, em que os três músicos regressam ao espírito puro do jazz e constroem uma ode monumental à sua história. Em Live at the Village Vanguard, a magia está por todo o lado, particularmente nas diferentes abordagens que Ribot faz a cada uma das tipologias abordadas, sempre evitando o óbvio e o expectável. R.A.
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2
In Memory of Things Not Yet Seen
Eric Revis
Clean Feed
É o grande diálogo que ocorre actualmente no jazz, aquele que opõe tradição e modernidade, procurando um equilíbrio entre os ensinamentos das grandes figuras da tradição e os caminhos libertários abertos por iconoclastas como Ornette Coleman, Albert Ayler, Derek Bailey ou Cecil Taylor. Em In Memory of Things Yet Seen, Eric Revis faz-se acompanhar por uma super-banda — Bill McHenry e Darius Jones nos saxofones, Chad Taylor na bateria — e regista um álbum clássico na forma, no conteúdo, na progressão e no alcance. Com sucesso, lança-se na árdua tarefa de dar coesão a um repertório que inclui originais, improvisações livres, e ainda versões de Sun Ra e Sunny Murray. R.A.
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1
Mise en Abîme
Steve Lehman
Pi
Depois da enorme conquista que foi Travail, Transformation and Flow (Pi), que lhe garantiu um lugar como um dos mais prestigiados e visionários jazzmen da actualidade, o saxofonista e compositor Steve Lehman lançou Mise en Abîme e foi ainda mais longe num conceito descrito pelo New York Times como “uma explosão de futurismo urbano, hipnótico, cinético, caleidoscópico e funky”. Liderando a mesma banda, um octeto integrado por Mark Shim (sax tenor), Drew Gress (contrabaixo), Tyshawn Sorey (bateria), Jonathan Finlayson (trompete), Jose Davila (tuba), Tim Albright (trombone) e Chris Dingman (vibrafone), Lehman (sax alto e electrónica) actua como um xamã do século XXI, e procura converter os seus profundos conhecimentos de composição espectral e música electro-acústica no equivalente aural de uma ilusão óptica. As primeiras notas do disco, protagonizadas pelo sax alto do líder, revelam a enorme expectativa e excitação que paira no ar — por tudo aquilo que foi alcançado em Travail, mas também pelo percurso invulgarmente consistente de Lehman. Mas é com a entrada minuciosamente calibrada do ensemble que somos sugados para um vórtex de energia musical que brinca com os nossos sentidos. Ao longo de oito poderosos temas, que incluem três reworkings de composições de Bud Powell, somos confrontados com uma visão do jazz que se pode dizer perfeita, e em que se equilibram tradição, futuro, conhecimento, inovação e risco. R.A.