O ano vivido por Teresa Almeida: O sorriso de uma campeã

Quantos portugueses vão sentir saudades de 2014? Talvez não sejam muitos, mas no grupo daqueles que têm razões para olhar com nostalgia o ano que termina está Teresa Almeida. Fechou o ano com chave de ouro, conquistando um título mundial de bodyboard para juntar ao estatuto de vice-campeã europeia da modalidade. Foram meses preenchidos para a jovem de 22 anos, que interrompeu o mestrado para dedicar-se plenamente à paixão de quase uma década. O futuro reserva mais ondas para a bodyboarder da zona de Alcobaça: 2015 será o ano da aposta forte no circuito mundial, de maneira a continuar entre a elite do bodyboard.

Passaram duas semanas desde que, no campeonato realizado no Chile, Teresa Almeida inscreveu o seu nome nas páginas douradas dos campeões. É a segunda portuguesa a sagrar-se campeã mundial de bodyboard, depois de Dora Gomes em 1998. A jovem bodyboarder confessa que ainda não conseguiu voltar completamente às rotinas, mas encara as solicitações, que têm sido mais do que muitas, com um sorriso de orelha a orelha. “Acabar o ano com o campeonato mundial... não posso pedir mais nada. É a cereja no topo do bolo”, resume.

“É um título que nunca imaginaria ter aos 22 anos. Claro que são objectivos que temos assim que começamos a fazer desporto, mas ainda estou a menos de metade da minha carreira. Conseguir já este título é muito importante”, reconhece Teresa Almeida, que ainda assim não se deixa deslumbrar. O seu discurso tem tanto de irreverente quanto de ambicioso: “Facilmente se chega lá a cima, mas o mais difícil é conseguir continuar com os bons resultados. É nisso que me vou focar.”

Apesar dos feitos obtidos em 2014, a realidade circundante não é alheia a Teresa Almeida. “As pessoas da minha idade estão a acabar os cursos e deparam-se com a falta de emprego. Claro que isso é desmotivante. Tenho alguns colegas que estão a tentar construir vida lá fora”, diz a jovem atleta. Porém, de alguma maneira, a prática de bodyboard preparou-a para as dificuldades que surgem no caminho. “Já estamos mentalizados para isso. Se não conseguir aqui, facilmente vou lá para fora procurar”. Em termos estritamente desportivos, o ano que termina suscita uma reivindicação: “Merecemos que nos dêem mais visibilidade, porque de facto somos um desporto incrível. Temos óptimos resultados, como demonstrámos agora. Este campeonato que ganhei trouxe muita atenção para o bodyboard e acho que isso vai ser bom para todos nós”, salienta.

A meta para 2015 é “apostar forte no circuito mundial”. “A grande notícia seria ter o apoio de empresas que me ajudem a alcançar esse objectivo”, admite. Isto, porque, depois do título conquistado no campeonato organizado pela Associação Internacional de Surf (ISA, na sigla inglesa) — reconhecida pelo Comité Olímpico Internacional como o organismo que tutela o surf, bodyboard e outras modalidades relacionadas com ondas a nível mundial —, a prioridade passa por integrar a alta-roda do torneio organizado pela Associação dos Bodyboarders Profissionais (APB). “A APB engloba um circuito mundial, que passa por diversos países. No final desse circuito é atribuído um título de campeão mundial. A ISA organiza um campeonato de selecções, ou seja, cada país escolhe os atletas que leva na selecção e são atribuídos títulos colectivos e individuais. Foi esse título que eu ganhei, o título mundial feminino open. É só uma prova, todos os anos num país diferente. É como se fossem os Jogos Olímpicos do bodyboard e do surf”, explica Teresa Almeida.

“Participar no circuito mundial é o objectivo de todos os atletas de bodyboard. Competir com os melhores, passar pelas melhores ondas do mundo... é isso que todos ambicionamos. É nisso que vou apostar tudo. Se tiver os apoios necessários, 2015 vai ser completamente dedicado a isso. Acho que estamos no bom caminho”, diz a bodyboarder de 22 anos.

Este é um percurso que se iniciou quando Teresa tinha 13 anos e começou a pegar na prancha para enfrentar as ondas. “Foi na altura em que o meu primo começou a fazer. Eu também quis experimentar e no meu aniversário ofereceram-me uma prancha. Assim que começou a fazer calor comecei a ir com ele. Consegui sempre acompanhá-lo nas ondas e acho que isso puxou por mim”, lembra a campeã mundial.

“Nas primeiras vezes que vais surfar tens sempre aquele medo. Vais evoluindo e vais ultrapassando os teus medos. Mas o medo é uma coisa que devemos ter sempre, para estarmos cientes do perigo que corremos e dos riscos que não devemos correr. Isso é positivo”, ressalva Teresa Almeida, recordando as ondas da Nazaré, onde tudo começou. “A onda da Praia do Norte é a que mais ‘pica’ me dá para surfar. Não é só a melhor onda de Portugal, como está ao nível das melhores ondas de areia do mundo. Surfando ali, acho que estamos preparados para surfar qualquer onda”, sublinha.

A magia do bodyboard, na opinião de Teresa Almeida, é o facto de todos os dias serem diferentes. “Vamos surfar em praias diferentes e há sempre uma história que envolve esse dia. São pequenas coisas, mas que nos fazem divertir tanto”. E a recordação mais querida? “Aquela que me marcou mais, sem ser este título mundial, talvez tenha sido a do primeiro campeonato nacional que ganhei, em 2010, na Nazaré. Estava lá a minha família toda a ver e fui campeã nacional de sub-18. Foi uma grande festa.”

À medida que a fasquia competitiva ia subindo, as prioridades de Teresa foram sendo revistas. “No início de Novembro tomei a decisão de dedicar-me exclusivamente ao bodyboard e treinei o mês todo para o campeonato mundial. Foi uma boa decisão, acho que me preparei bem. Se conseguir entrar no circuito mundial, no próximo ano, vou dedicar-me a 100% a isso”, notou. Para trás teve de ficar o mestrado em Educação Física: “Estou no último ano, estava a fazer o estágio. Estava a dar aulas em Mem Martins, era professora de uma turma. Mas estava a ser impossível conciliar as duas coisas e tive de parar”, diz sem arrependimentos.

“Fiz natação de competição até iniciar o bodyboard. Faço surf mais na brincadeira, quando não há ondas que me façam divertir no bodyboard. E, de Inverno, gosto sempre de ir para a neve, adoro fazer snowboard”, conta. Mas é sempre ao mar que Teresa regressa. “A partir do momento em que estás ali na água esqueces-te de tudo. Podes ir para a água a pensar em todos os problemas que tens, podes ir chateado, mas estás ali e realmente esqueces-te de tudo. Não tens tempo para pensar noutra coisa senão naquilo que estás ali a fazer. Acabas por esquecer tudo, e isso é óptimo”, conclui com um sorriso. O sorriso de uma campeã mundial de 22 anos.

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Teresa Almeida é a segunda portuguesa a sagrar-se campeã mundial de bodyboard, depois de Dora Gomes em 1998 Miguel Manso
O título mundial conquistado em Dezembro no Chile é o ponto mais alto da carreira da atleta portuguesa ISA/Rommel Gonzales
Tiago Pimentel, Ricardo Rezende