As caras que marcarão 2015

Em ano de eleições legislativas e de lançamento de candidatos presidenciais, o PÚBLICO enumera as caras que poderão marcar 2015.

O ano que agora arranca é marcado por eleições. No início, de Outubro realizam-se legislativas. Os eleitores serão chamados a escolher sobre que políticas e que protagonistas desejam que conduzam o país durante a próxima legislatura (2015-2019). Paralelamente, perfilam-se os candidatos para a corrida presidencial de Janeiro de 2016. Momentos de escolha que se desenrolam sobre o pano de fundo de processos judiciais que poderão representar momentos de viragem na democracia portuguesa.

Alberto João Jardim
A data está anunciada, é já a 12 de Janeiro. Ao fim de 40 anos no poder, Jardim prepara-se para deixar a Quinta Vigia. Abre assim caminho a que o poder na Madeira possa mudar na prática. A Jardim, na liderança do PSD-Madeira sucede Miguel Albuquerque, ex-presidente da Câmara do Funchal. A incógnita para 2015 é saber se nas eleições regionais, que Albuquerque quer antecipadas, o poder continuará nas mãos do PSD ou irá, pela primeira vez, ser exercido pelo PS-Madeira, liderado por Vítor Freitas.

Ana Drago
Tudo indica que será candidata a regressar à Assembleia da República onde já foi deputada pelo BE, agora nas listas do Livre, depois do acordo que foi estabelecido entre o seu Manifesto (onde é acompanhada por Daniel Oliveira) e o partido de Rui Tavares. Tem frisado que o que importa são os conteúdos programáticos e as políticas e não tanto os lugares, resta esperar para ver se esse principio se manterá e como será uma eventual gestão do seu mandato na geometria variável do Parlamento, caso o PS venha a ganhar as eleições.

Aníbal Cavaco Silva
Será provavelmente o mais difícil ano da vida política de Cavaco Silva, este em que cumpre o final do seu mandato como Presidente. Poderá ficar cada vez mais reduzido a um papel de espectador. Limitado nos poderes de dissolução a partir de Setembro, terá de assistir à eleição e dar posse a um novo Governo, em princípio, no início de Outubro. Aquele que está na vida política desde que foi ministro das Finanças de Sá Carneiro, em 1979, e que como primeiro-ministro protagonizou uma transformação do país que apontava para o crescimento e a aproximação de níveis e padrões europeus, termina a sua carreira política depois de uma década como Presidente, em que assistiu ao degradar do regime e ao empobrecimento do país.

António Costa
É o ano do tudo ou nada para António Costa. Se perder as legislativas, perde o PS. Se ganhar, será primeiro-ministro e poderá então concretizar o seu modelo de governação. Até agora tem feito silêncio sobre as suas receitas e soluções quanto a questões centrais de governação, nomeadamente como enfrentará a dívida pública e garantirá financiamento e investimento. Com o aproximar da campanha eleitoral terá de começar a mostrar o seu projecto para o país.

António Guterres
É o nome que mais tem sido falado como presidenciável nas eleições de Janeiro de 2016. Nunca disse que era candidato, mas também nunca disse que não era. Logo é o nome que os socialistas - e não só - anseiam ver como confirmado na qualidade de candidato. Por mais que seja apontado como possível candidato a secretário-geral da ONU, a expectativa na esquerda está de tal forma consolidada que praticamente não há espaço para António Guterres dizer que não e esse espaço diminui com o passar do tempo. É, porém, possível que uma decisão só seja oficializada em cima das legislativas ou mesmo depois.

António Marinho e Pinto
Marinho e Pinto joga a sua existência política em 2015 e com este gesto poderá ser um protagonista de peso no xadrez político português. O seu PDR, um dos novos partidos a apresentar-se às legislativas, poderá ganhar um relevo que venha a ser decisor nos equilíbrios parlamentares da próxima legislatura, se nenhum dos partidos atingir uma maioria absoluta.

António Pinheiro Torres
Pinheiro Torres é um histórico militante da causa anti-despenalização do aborto. Agora, através do movimento Plataforma pelo Direito a Nascer está em vias de conseguir fazer discutir pela Assembleia da República um projecto-lei de iniciativa popular sobre o tema. O objectivo é diminuir o direito às mulheres a fazerem livremente aborto até às 10 semanas de gestação. Por um lado, propõe que acabe a gratuitidade deste acto médico no SNS. Por outro lado, pretende introduzir a obrigatoriedade do aconselhamento por psicólogos à mulher que deseja abortar. Em meados de Dezembro faltavam apenas cinco mil das 35 mil assinaturas necessárias para que estas restrições sejam lei. O debate promete polémica, a qual pode mesmo estender-se à campanha das legislativas.

António Pires de Lima
Já disse que não quer continuar no Governo e que deseja voltar à gestão empresarial privada, mas até ao final do seu mandato como ministro da Economia ainda terá bastante protagonismo, a começar pela odisseia da privatização TAP em que é a principal cara do Estado. Se Paulo Portas abandonar a liderança do CDS, Pires de Lima terá sempre uma palavra de  peso a dizer na sucessão, para a qual já clarificou que não está disponível.

Carlos Alexandre
É olhado como o super-juiz. E é de facto o mais mediático magistrado português. Pelas suas mãos passam investigações como o Monte Branco, a Operação Marquês, que envolve José Sócrates, e o inquérito à derrocada do GES/BES. É a ele que se devem imagens emblemáticas como as da detenção de um banqueiro com o peso de Ricardo Salgado para ser ouvido no caso Monte Branco ou as do interrogatório e prisão preventiva de um ex-primeiro-ministro como José Sócrates. Este ano será decisivo para si mas também para o país e para a Justiça portuguesa. Nas suas mãos está a credibilidade do sistema judicial.

Carlos César
O presidente do PS é uma das expectativas de 2015. Depois de 16 anos à frente do Governo dos Açores, Carlos César assume um papel na política nacional. Como número dois do PS, será ministro de Estado num Governo socialista ou presidente da Assembleia da República. É um dos nomes em carteira no PS para o caso da António Guterres não comparecer à chamada para a corrida presidencial.

Carlos Costa
Pode não ver o seu renovado à frente do Banco de Portugal, vítima da imagem de ser alguém que tapou o sol com a peneira. No inquérito parlamentar ao caso GES/BES irá estar em causa como face visível de um sistema de fiscalização que pode não ter funcionado e não apenas no caso Espírito Santo. Até porque há a noção de que eventuais falhas, a existirem, não são exclusivas de Carlos Costa, mas sim de um sistema de fiscalização anterior à sua entrada no BdP. Pense-se nos casos BPN e BPP.

Durão Barroso
Ao fim de uma década Durão Barroso deverá regressar a Portugal. E volta livre para a actividade política com apenas 59 anos. Será seguramente uma personalidade determinante no evoluir da política portuguesa, sobretudo à direita, a sua influência será real nas opções do PSD. E se não decidir prolongar a sua carreira de funcionário de instituições internacionais, há quem o veja como um possível presidenciável.

Francisco Louçã
Agora formalmente fora de qualquer órgão de direcção do Bloco de Esquerda, Louçã permanece como uma figura tutelar do partido que ajudou a fundar. A sua influência é ainda determinante, por isso lhe caberá a missão de tentar por alguma clarividência na actual direcção do BE sobre o caminho a seguir. Louçã é também um dos nomes de reserva da esquerda para a corrida das presidenciais.

Jerónimo de Sousa
O PCP parte para as legislativas de 2015 com um papel decisivo no que será o redesenhar da esquerda. Cabe ao partido liderado por Jerónimo de Sousa o dizer sim – ou não – a uma coligação que inclua toda a esquerda. Os apelos pela parte do PS estão lançados e é cristalino que o PCP é, do ponto de vista simbólico e real, o principal opositor a uma ampla unidade de esquerda, pelo menos no que toca a partidos parlamentares.

José Maria Ricciardi
Em 2015 poderá ficar consolidado como uma figura de referência na sociedade portuguesa. Depende de como conseguir gerir o papel que escolheu para si de paladino contra a corrupção. Mostrou ser senhor de uma coragem radical e uma frontalidade cortante. Fez o que ninguém acreditava que acontecesse: expôs os podres e as feridas infectadas do clã Espírito Santo. Optou pela lei e por mais que isso, pela ética, afrontado e denunciando os seus e pondo em cheque a família, quer a de sangue, quer a parentela. Espera-se que mantenha um papel central na desmontagem do caso GES/BES.

José Sócrates
De político que ascendeu a primeiro-ministro, passou a preso preventivo por alegados crimes de fuga ao fisco, branqueamento de capitais e corrupção. De político que se auto intitulou de animal feroz, fez já na cadeia de Évora ataques graves à honorabilidade e  transparência do sistema político e institucional que integrou e sobre o qual legislou. Entre muros ou em liberdade condicional, José Sócrates e as acusações que lhe são feitas, se se confirmarem, vão pairar em ano eleitoral sobre o partido de que foi secretário-geral, o PS, mas também sobre o sistema partidário em geral.

Luís Fazenda
Tem na mão a chave de muito o que pode ser a recuperação ou o afundamento eleitoral do Bloco de Esquerda. É o único fundador de primeira linha que resta na direcção. Na última Convenção apoiou intensamente Pedro Filipe Soares, há quem diga que é mesmo o seu mentor. Nas mãos e na experiência de Fazenda está muito do poder e da capacidade do que pode acontecer à esquerda nas eleições de 2015, já que a prestação eleitoral do BE será central para perceber os rearranjos à esquerda.

Manuel Carvalho da Silva
Olhado há anos como um potencial Lula português, o ex-secretário-coordenador da CGTP tem sabido gerir a sua carreira pós-sindical, mantendo uma intervenção cívica e também académica que o mantém como uma referência a ter em conta no que poderá ser a escolha de candidatos presidenciais pela esquerda.

Manuela Ferreira Leite
Se o PSD perder as legislativas, Manuela Ferreira Leite terá uma palavra a dizer na sucessão do actual presidente do partido e primeiro-ministro. O peso da anterior presidente do PSD para apoiar de forma decisiva uma candidatura à liderança advém-lhe não apenas de ter sido sempre uma crítica do actual Governo atenta e sustentada no ideário social-democrata, mas também do facto de ter sido ela que na sua anterior liderança protagonizou o separar de águas com Passos e a súbita conversão neoliberal do agora líder.

Marcelo Rebelo de Sousa
É o nome mais presidenciável no espectro partidário à direita e possivelmente um dos eventuais candidatos que melhor preparado está para conduzir uma campanha eleitoral, já que é muitíssimo popular e excepcionalmente mediático. Tem por outro lado o lastro político de ter sido um dos líderes do PSD que mais conseguiu ganhar à esquerda no plano doutrinário das mudanças do regime, veja-se a revisão constitucional de 1997, o primeiro referendo à despenalização do aborto e o referendo à regionalização, ambos em 1998. E factor de importância é que, por mais que o próprio afirme que Passos Coelho não o quer como candidato a Belém, o que é facto é que ele é o nome mais desejado no PSD. Só resta mesmo perceber se Marcelo estás disposto a ir a jogo.

Maria Luís Albuquerque
O próximo ano será central para Maria Luís Albuquerque, tanto como ela será central na vida portuguesa. Até Outubro irá continuar a gerir as contas públicas com mão-de-ferro e a determinar as finanças do Estado. Depois, tem o futuro em aberto. É uma figura em consolidação no Governo e em ascensão no PSD. E é vista mesmo pelos barões e elites dirigente do partido como a mais forte candidata a suceder a Passos Coelho na liderança do PSD, se as legislativas correrem mal ao actual primeiro-ministro.

Mariana Mortágua
Brilhou no firmamento parlamentar, nos debates do Orçamento do Estado para 2015 e na comissão de inquérito ao BES. É, aos 28 anos, uma se não a principal revelação política de 2014. Paradoxalmente, parece não ter qualquer peso na direcção do BE, apenas na sua bancada parlamentar. Resta agora esperar para perceber se a promessa se confirma. Se a resposta for positiva, Mariana Mortágua poderá vir a marcar a política portuguesa em 2015 e muito depois disso.

Paulo Portas
2015 será um ano decisivo na vida de Paulo Portas. Quer o CDS faça ou não coligação com o PSD, quer o CDS venha ou não a permanecer no Governo, este poderá ser o ano em que Portas deixe de facto a actividade política, nem que seja temporariamente. É claro que terá de assegurar que a sua saída não leve a um colapso do CDS e garantir que a passagem de poder ocorra de forma pouco turbulenta, o que depende do partido estar no poder ou na oposição. Mantendo a tradição da ruptura geracional do partido, na sucessão perfilham-se dirigentes com experiência de aparelho e de Governo e ambição política como João Almeida e Luís Pedro Mota Soares, que foram ambos líderes da juventude do CDS e secretários-gerais do partido. E ainda hipóteses politicamente menos consistentes como Nuno Melo ou Assunção Cristas.
 
Pedro Nuno Santos

É um dos nomes com futuro na política portuguesa e pode mesmo vir um dia a ambicionar a liderança do PS. Para isso terá de passar este ano uma prova de fogo: coordenar os deputados do PS na comissão de inquérito ao colapso do GES/BES. Pedro Nuno Santos terá de mostrar que os socialistas não tentam aproveitar o que poderão ter sido os erros do Banco de Portugal e de outras entidades reguladoras no colapso do GES. Mas terá também que demarcar o PS da fama de que os governos liderados por José Sócrates foram demasiado simpáticos com Ricardo Salgado.

Pedro Passos Coelho
É o ano do tudo ou nada para Passos Coelho. Depois de ter levado a carta a Garcia à frente do Governo, numa legislatura que poucos acreditaram que chegasse ao fim, o primeiro-ministro atira-se as legislativas com a atitude de quem está convicto de que pode ganhar. Irá gerir os destinos do país até Outubro, mas ao mesmo tempo irá liderar o PSD em ano eleitoral e caber-lhe-á ditar o tom do discurso para a reconquista do poder. Conta para isso com a sua famosa determinação e o seu também conhecido individualismo, mas espera poder ter a ajuda de bons resultados e bons indicadores da economia, na expectativa de que eles sejam uma garantia para os eleitores.

Pedro Santana Lopes
É um dos presidenciáveis da direita e aquele que com mais entusiasmo aparenta atirar-se à tarefa de procurar suceder a Cavaco Silva em Belém. Mas é simultaneamente o nome que menos entusiasmo colhe no PSD e aquele que mais aversão provoca no CDS. Apesar de ser um nome que parte em desvantagem nas sondagens, poderá vir a ser a hipótese que mais cedo se materialize. O próprio Santana tem dito que os candidatos a Belém devem apresentar-se em Abril.

Ricardo Salgado
Depois de ser olhado durante anos como Dono Disto Tudo e de se apresentar, em Dezembro, perante a comissão parlamentar de inquérito como a Vítima Disto Tudo, tal a atitude por si assumida de quem quer passar por entre os pingos da chuva sem se molhar, resta agora esperar para ver que estatuto ganhará Ricardo Salgado em 2015. É, neste início de ano, a cara da falência de um dos principais grupos financeiros portugueses e pelos piores motivos, já que ela está associada a alegadas irregularidade com contornos criminais na gestão do império Espírito Santo.

Rosário Teixeira
Será um dos procuradores do Ministério Público mais mediáticos em 2015. Está no centro do furacão do que é o combate à corrupção e da investigação do crime de colarinho branco. Com ele se joga a credibilidade da investigação criminal em Portugal, nomeadamente na investigação a José Sócrates sobre branqueamento de capitais, fuga ao fisco e corrupção. O risco de este processo se desfazer como um castelo de areia quando encher a maré viva da prestação de provas da acusação, torna-o numa importantíssima prova de fogo que a Justiça portuguesa encara.

Rui Rio
É uma das promessas mais anunciadas para 2015. É olhado como candidato a líder do PSD e como candidato a Presidente da República. Muito do protagonismo que ganhar depende do que seja o sucesso de Passos Coelho nas legislativas. Para liderar o PSD precisa que o lugar de líder esteja vago. Mas se a actual maioria se mantiver no executivo nada impede que Rio venha a ser o candidato a Presidente apoiado pela direita parlamentar em Bloco.

Rui Tavares
O Livre pode ser uma das surpresas das legislativas deste ano. A expectativa é a de saber se o novo partido liderado por Rui Tavares vai eleger deputados e quantos. A aproximação com o PS está já a ser trabalhada e tudo indica que se sentar em São Bento, Rui Tavares será um dos protagonistas da esquerda na próxima legislatura. A dimensão desse protagonismo dependerá de uma vitória do PS e da necessidade de entendimentos que António Costa tenha.

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