Empresas de recrutamento mais procuradas
Cada vez mais médicos e enfermeiros emigram através de empresas de recrutamento. A nacionalidade é uma das melhores referências no exterior.
Procura de novos desafios profissionais, necessidade de passar por uma experiência internacional ou simplesmente dar um pontapé na crise e contrariar o desemprego e os baixos salários praticados em Portugal. Estes são os argumentos mais comuns que levam cada vez mais médicos e enfermeiros portugueses a saírem do país, num passo que é dado, em grande parte das vezes, com o apoio de empresas de recrutamento. Duas destas intermediárias, ouvidas pelo PÚBLICO, asseguram ter o trabalho facilitado: fora do país a qualificação e desempenho dos profissionais de saúde portugueses é muito (re)conhecida e um excelente “cartão-de-visita”.
O director nacional da empresa Borboleta JobAbroad explica que estão desde 2011 em Portugal e que, desde essa altura, já ajudaram cem enfermeiros e médicos a ir trabalhar para outros países, representando estes últimos apenas uma dezena. A Europa é o destino mais comum, mas, no caso desta empresa holandesa, o Médio Oriente passou a ser nos últimos tempos uma aposta forte. Independentemente do destino, no caso dos enfermeiros, adianta Sérgio Gonçalves, como o número de profissionais interessados em sair é mais elevado, as ofertas não são tão atractivas como para os médicos, até porque normalmente saem do país mais novos.
Em todos os casos dão apoio na tradução de documentos, inscrição nas ordens profissionais estrangeiras e em toda a burocracia, viagem, alojamento e dados sobre o país de destino, ainda que praticamente só no caso dos médicos sejam comuns algumas ofertas como a passagem aérea ou uma visita prévia ao novo local de trabalho. “A percentagem de médicos que saem por necessidade financeira é muito mais pequena do que nos enfermeiros. Os médicos procuram muito enriquecimento curricular, enquanto os enfermeiros muitas vezes estão sem emprego. No caso dos médicos temos ofertas entre os 10 mil euros e os 15 mil euros por mês, mas que tem critérios como anos de experiência”, adianta o responsável da Borboleta JobAbroad, salientando os perfis diferentes entre as duas profissões. Para os enfermeiros os salários podem chegar, por exemplo, aos 3500 euros na Jordânia e triplicar em relação a Portugal na Irlanda e Reino Unido.
Em comum Sérgio Gonçalves destaca a “qualidade” dos médicos e enfermeiros portugueses como “cartão-de-visita”. “Tanto os médicos portugueses como os enfermeiros têm uma qualificação ao mais alto nível da Europa. Em alguns países os enfermeiros não tiram pontos, não tratam feridas, são quase equivalentes ao nosso auxiliar e, por isso, procuram os portugueses que pela sua qualidade e profissionalismo desempenham desde o início estas funções.”
No caso da empresa belga Moving People, especialista no recrutamento internacional de profissionais de saúde, a selecção em Portugal acontece desde 2010 e já conseguiram colocar perto de 200 enfermeiros na Bélgica, tanto na zona francesa como flamenga, explica Marco Costa, country manager da empresa. Foram também já colocados dois médicos e outros 20 estão em processo de colocação. Também apoiaram quatro dentistas e há mais 40 em avaliação.
“Cada vez mais sentimos que os profissionais de saúde não estão satisfeitos em Portugal e ultimamente temos sentido um aumento de interesse por parte de médicos especialistas em trabalhar em países como Bélgica e França. Primeiro por estarmos a falar de salários três a quatro vezes superiores e depois por serem países com um custo de vida relativamente semelhante ao de Portugal”, justifica Marco Costa, que diz que o aumento da procura da empresa por parte de médicos e de médicos dentistas cresceu sobretudo nos últimos três meses.
Do lado de quem procura portugueses, as necessidades são várias. Marco Costa destaca as carências na Bélgica em termos de cardiologistas, gastroenterologistas, oncologistas, psiquiatras, neurologistas, internistas (medicina interna), oftalmologistas e medicina física e de reabilitação. No caso de França, a procura é sobretudo de médicos de família. “Procuram especialistas com excelente formação, com um bom nível linguístico e que não sintam problemas de adaptação”, resume o responsável da Moving People, que assegura que os profissionais portugueses dão uma excelente resposta a estes critérios, ganhando um salário superior e “melhor qualidade de vida”.
Marco Costa garante que os que decidem emigrar são “reconhecidos pelo seu desempenho e qualidade” e “trabalham menos horas”. Após a integração, a empresa estima que um médico português que vá para a Bélgica possa ganhar valores superiores a 12.000 euros por mês. “Quanto a França, a Moving People garante contratualmente aos médicos de família que irão ter honorários superiores a 10.000 euros por mês”, acrescenta. Lembra que de momento há concursos abertos para especialistas na Bélgica, para médicos de família em França e para dentistas com mais de quatro anos de experiência também na Bélgica. No caso dos especialistas e dos dentistas, a empresa traduz e autentica de forma gratuita os documentos e autorizações necessárias para emigrar e oferece uma viagem ao país de destino, para visita e observação, disponibilizando ainda depois a viagem definitiva e apoio na instalação no país de destino.
Mas não é apenas pela parte financeira que Sérgio Gonçalves recomenda uma saída do país. Sobretudo para quem está desempregado ou em situação precária em Portugal, salienta que a emigração é uma oportunidade de “crescimento pessoal, profissional e aperfeiçoamento de um idioma”. “É diferente um enfermeiro dizer que terminou uma licenciatura em 2012 e que esteve num hospital em Oxford ou em Bristol ou dizer que terminou em 2012 e que foi voluntário na Cruz Vermelha ou que trabalhou num call center. A medicina e a enfermagem têm de estar sempre actualizadas e quem fica à espera de uma oportunidade em Portugal pode prejudicar-se. É como tirar uma carta de condução e não pegar num carro. Ao fim de alguns anos ninguém aceita boleia dessa pessoa”, diz o director da Borboleta JobAbroad.
Como conselho para todos, e tendo em consideração que há mais concorrência na hora de sair, lembra a importância de uma boa carta de motivação e de apresentação e olhar para a emigração como um momento de crescimento, justificando que “não se pode viver em contagem decrescente para vir a Portugal comer as sardinhas”. Sobre a candidatura lembra: “Os candidatos devem motivar o cliente, o hospital a que se estão a apresentar. Não podem dizer que se vão embora porque aqui em Portugal não se passa nada. O currículo somos nós em formato de papel, é a primeira imagem que uma empresa tem de nós.”
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