Madeira: É um elevador para o paraíso, por favor

Não existe alternativa – ou melhor, existe quando o mar está calmo. Mas hoje nenhum barco se atreve a navegar até aqui. As ondas batem contra as pedras negras da praia e cobrem o pequeno cais de espuma branca.

Será o elevador, portanto. Até porque o moderno teleférico, a brilhar de novo e de aspecto convidativo, ainda está em fase de testes e com o vento que sopra não é aconselhável usá-lo. Entramos por isso na caixa metálica com uma parede de vidro para o mundo e arrancamos com um pequeno solavanco. Lá em baixo vêem-se as casinhas da Fajã (incluindo a Casa do Marinheiro, onde iremos dormir) rodeadas pelo verde das bananeiras, das mangueiras, da vinha de Malvasia, dos abacateiros, das pitangueiras.

Junto às pedras negras frente ao mar, duas palmeiras altivas desafiam o vento. A espuma das ondas desenha incertos contornos brancos na orla da praia. Todo este cenário, de início liliputiano, começa a aproximar-se, gradualmente, dos nossos olhos, ganhando cada vez mais formas, detalhes, vida. Lá em baixo há pessoas e vivem, saberemos depois, pelo menos um gato, dois porcos e algumas cabras, e há abelhas pousadas nos maçarocos de um esplêndido azul arroxeado. Ao nosso lado a rocha mantém-se implacavelmente direita, agora recortada contra o céu.

Muitos comparam a Fajã dos Padres – onde para além das casas para alugar existe um restaurante – ao paraíso. Mas para chegar ao paraíso é preciso ter fé. E é impossível não pensar nos padres jesuítas que aqui viveram no passado, cuidando da vinha e desta terra fértil. Como seria descer até lá ao fundo quando não havia teleférico, nem sequer elevador?

Há plantas que crescem agarradas às paredes de rocha e parecem saudar-nos quando passamos por elas. E nós, pequeníssimos na nossa caixa de metal, pensamos em como tudo o que nos rodeia pode muito mais do que nós – a rocha, as árvores, o céu, as nuvens, a lua, o mar.

É preciso merecer o paraíso. Tocamos finalmente no chão.

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Daniel Rocha
Daniel Rocha