Madeira: Pelas oito da manhã no Mercado dos Lavradores

É cedo quando chegamos ao Mercado dos Lavradores, no centro do Funchal. É verdade que os planos para chegarmos de madrugada e ver os vendedores a montar as bancas ficaram pelo caminho, mas oito é uma boa hora. Cá fora, as vendedoras de flores, vestidas com trajes tradicionais, já estão nos seus postos, rodeadas por uma explosão de cores.

Combinámos com uma amiga madeirense, que aqui costuma vir às sextas-feiras de manhã fazer compras antes do trabalho. É que, se o mercado se tornou uma das maiores atracções turísticas do Funchal – e daqui a pouco já vão começar a chegar os grupos de turistas – continua, felizmente, a ser frequentado pelos locais. É preciso, no entanto, saber em que bancas comprar para fugir das armadilhas para turistas, onde, entre dulcíssimos maracujás e outras tentadoras frutas exóticas, os preços disparam.

É muito antiga, anterior mesmo à existência do edifício, a tradição de aqui vender produtos da terra. Este foi, desde há muito, o ponto de encontro dos lavradores que, vindos de várias zonas da ilha, aqui apresentavam os seus produtos. Em 1940, com a construção do edifício, de mercado informal passou a ser um luxo, com instalações de fazer inveja a muitos outros mercados nacionais.

O projecto é do arquitecto Edmundo Tavares e o estilo é emblemático da época modernista, dos anos 40. Tomamos café numa loja nova, cheia de produtos de qualidade, regionais e não só, e com banca de gelados voltada para a rua. E, com dois vistosos ramos de flores num saco, entramos para o pátio interior, descoberto, do mercado. Aqui percorremos várias bancas, com a nossa amiga a servir de guia e a dar-nos informações que fazem toda a diferença: aquelas que nos permitem perceber quais os produtos que são, de facto, madeirenses, e quais os que são apresentados como tal mas vêm de paragens distantes.

O mercado tem a zona das flores, com mais de uma dúzia de floristas de traje típico. Espalhados pelos três andares, há dezenas de bancas e lojas de frutas e legumes que nos deixam fascinados. Anonas enormes, cachos de bananas, cestas cheias de pitangas, papaias, goiabas, abacates, nêsperas, inhame, couves, batatas, cenouras e, deixando turistas e “continentais” de boca aberta, as imensas variedades de maracujás, de diferentes cores, feitios e sabores, e o curioso fruto a que chamam monstera deliciosa. Já nos imaginamos no Brasil ou noutro país tropical e, meio atordoados, perguntamos como se usa, como se cozinha, como se come.

Passamos depois para a zona do peixe. Primeiro espreitamos do cimo das escadas, de onde se tem a melhor vista para as bancadas de pedra onde se estende o atum, o peixe-espada preto, o bodião e outros peixes dos mares da Madeira, para além das deliciosas lapas. Depois descemos e vemos tudo mais de perto.

Queríamos levar um pouco de cada coisa, mas temos um longo dia pela frente. A nossa amiga também vai trabalhar, mas ainda tem tempo para deixar as compras em casa, por isso pode levar algumas coisas. Comprou verduras numa senhora que “traz sempre coisas diferentes” e despede-se de nós, acenando, enquanto desce a rua com os ramos de flores coloridas a espreitarem da borda do saco.

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Daniel Rocha