No entanto, fazer um bilhete de identidade rigoroso da poncha não é tarefa fácil. Tudo indica que a primeira a aparecer foi mesmo essa que hoje é conhecida como “à pescador”, feita de aguardente de cana (ou seja, rum), açúcar e limão. Mas a mais generalizada é a “regional”, com o mesmo rum e limão (e laranja, em alguns casos), só que com mel (e aqui dividem-se opiniões: mel de cana ou de abelhas?).
Há histórias que colocam as suas origens na Índia, onde é conhecida por pãnch e feita com aguardente de arroz. A ser assim, teria chegado à Madeira pela mão dos ingleses. Mas há também a teoria de que uma versão desta bebida já existia no tempo dos navegadores, com o limão (essencial para prevenir o escorbuto) a ser conservado em aguardente e açúcar de cana, ambos produzidos na Madeira.
Seja qual for a origem, o facto é que existem versões da poncha quer no Brasil (a famosa caipirinha, feita com cachaça, açúcar, lima e gelo), quer em Cabo Verde, onde se chama grogue. Mas poncha é mesmo na Madeira e tem até o estatuto de Indicação Geográfica Protegida. Isto para proteger um produto regional e, sobretudo, a produção local de rum.
Começam entretanto a aparecer muitas versões de poncha, com frutas como o madeirense maracujá, ou a tangerina (também da ilha) e outras, mais ousadas, como a pitanga ou o tomate inglês. Os mais rigorosos dirão que com tanta variedade de fruta, já não é bem uma poncha. Mas os mais criativos vão continuar a explorar os frutos da ilha. A única coisa em que é mesmo preciso manter um grande rigor é na aguardente. As ponchas que começam a aparecer com vodka e outras bebidas brancas já deveriam ter outro nome. Porque poncha que é poncha deve ser feita com aguardente de cana-de-açúcar, madeirense até ao tutano.
No meio das nossas viagens pela ilha, parámos para beber uma poncha“regional”, com amendoins, no Bar Arsénio, em Águas Mansas, Camacha. Das melhores que há na Madeira, disseram-nos. E pareceu-nos bem que sim.
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