Engenheiro de formação, Edward Chlebus emigrou há meio século de uma cidade das margens do Báltico para Wroclaw, onde desenvolveu a sua carreira académica. Em vésperas da queda do muro tinha um visto para emigrar para a Áustria, mas decidiu ficar e hoje sente-se “feliz” por ter ficado. Desde 1990 que o seu papel principal tem sido o de fazer pontes entre a formação e a investigação e as necessidades de uma indústria que reúne muitas das grandes multinacionais da química ou do automóvel.
No período de 25 anos a Baixa Silésia foi capaz de transformar um sector industrial antigo, baseado nas minas ou nos têxteis, numa indústria moderna e competitiva. O que aconteceu?
Na transição do regime comunista para a democracia, a maior parte das indústrias desta região eram de facto antigas e pouco ecológicas. Como a partir daí tínhamos de seguir um modelo económico baseado no mercado, foi preciso acabar com as regras de protecção que existiam às empresas no tempo da União Soviética. Por isso, as principais mudanças foram de natureza política. Até 1990 vivíamos sobre o chapéu-de-chuva da União Soviética, eram os soviéticos quem definiam as estratégias de desenvolvimento económico para a Europa do Leste e estes países tinham de se submeter aos seus controlos. Quando o regime mudou, deram-se importantes passos no sentido de privatizar essas empresas, principalmente as que tinham potencial de mercado. A privatização na Polónia foi muito alargada, especialmente a das grandes companhias que em muitos casos foram imediatamente desmanteladas.
O que aconteceu depois das primeiras privatizações?
As empresas não eram competitivas. Sectores como o das minas, dos transportes pesados exportavam 80% da sua produção para a União Soviética. Não eram produtos muito desenvolvidos, não tinham qualidade porque o mercado soviético não tinha exigência. Como foram vendidas no mercado de capitais, começaram a desenvolver-se grupos de investidores e depois, com o tempo, surgiram novas companhias. O elemento crucial foi a privatização das médias e grandes empresas e em particular a liberalização da economia, que permitiu a muitas pessoas lançarem os seus próprios negócios.
Que papel teve o Governo no financiamento das novas empresas e na modernização das que foram privatizadas?
Não houve de facto uma ajuda directa do Governo. O Governo não ajudou assim tanto. Foi por isso que as companhias estrangeiras compraram as empresas que estavam a ser privatizadas e passaram a controlá-las. Foram estas companhias que lançaram a modernização que se seguiu e que criaram os mercados onde pudessem vender os seus produtos.
Os trabalhadores, que estavam habituados a trabalhar em indústrias protegidas, foram capazes de se adaptar às novas fórmulas de gestão, baseadas na necessidade de competir no mercado aberto?
Não correram grandes riscos. Já na altura os trabalhadores polacos tinham elevadas qualificações técnicas e tecnológicas. Não foram um problema. Pelo contrário, trouxeram grandes benefícios às novas companhias. Mas claro que, mais tarde, foi necessário dar um novo salto em termos de formação tecnológica. Foi assim que apareceram muitas universidades privadas. Na Baixa Silésia muitas companhias globais desenvolveram os seus centros de desenvolvimento aqui e cooperam connosco.
A atitude das universidades também teve que mudar, de modo a aproximar-se dos interesses dessas companhias?
Sim. Nós fomos os primeiros a abrir as portas a esses investidores, que tinham necessidade de trabalhadores altamente qualificados, especialmente engenheiros. Nos tempos do comunismo esta universidade tinha onze, doze mil alunos; hoje temos 32 mil estudantes nos nossos cursos tecnológicos e mudámos a nossa especialização, orientando-a para uma dimensão mais prática e mais ajustada aos requisitos da indústria. Temos acordos especiais com as companhias que permitem aos nossos alunos trabalhar a tempo parcial lá e continuar a estudar aqui. Temos módulos de estudo ajustados às necessidades de diferentes tipos de empresas: aeroespacial, produtos brancos, automóvel, transportes…
Quando eles acabam os seus estudos têm trabalho garantido nas empresas por onde passam?
Os nossos estudantes não têm problemas com o emprego.
Como é que a universidade se relaciona com as zonas económicas especiais?
Temos bons contactos com as administrações das zonas económicas especiais porque, para nós, é importante podermos dialogar com as empresas de diferentes naturezas que lá se instalaram, de modo a podermos definir melhor as nossas estratégias de educação ou de investigação. Na zona económica de Leignica, por exemplo, nos últimos três meses organizaram-se dois importantes clusters para a indústria aeronáutica e para o sector automóvel. Esses clusters implicam que haja uma grande cooperação entre as empresas e entre estas e a nossa investigação e desenvolvimento
Os benefícios fiscais são a principal razão para que essas zonas económicas especiais possam atrair investimento?
Nos primeiros passos é importante esse quadro fiscal mais favorável, ou os subsídios europeus geridos pelo Governo regional que apoiam até 50% os investimentos acima de um milhão de zlotys. Mas o que atrai mais as empresas é o rápido crescimento que a Polónia regista e o baixo risco que pesa sobre o investimento.
A indústria na região estabilizou ou continua a crescer?
Continua a crescer. Ainda não é oficial, mas sabemos que um grupo britânico vai instalar-se aqui com uma série de fábricas de componentes para automóveis. O clima para o investimento na Baixa Silésia é muito favorável. A cultura industrial é similar à alemã. Mesmo que os custos de trabalho subam 30 ou 40%, há empresas que garantem que não vão sair daqui. Porque a qualidade dos produtos daqui é muito elevada.
Há 25 anos, quando o comunismo acabou, acreditava que a Baixa Silésia pudesse vir a registar este nível de transformação?
Nos anos de 1980 eu estava pronto para emigrar para a Áustria. Tinha um acordo para emigrar, mas a minha mulher esperava pelo segundo filho e decidimos ficar. Um ano depois veio a revolução. E toda a sociedade fez um excelente trabalho e eu sinto-me feliz por ter ficado.
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