É um dos mais conceituados peritos sobre envelhecimento da Europa. Tem um interesse especial por questões relacionadas com vida familiar e comunitária em idades avançadas. Coordena uma rede internacional fundada pelo Conselho de Investigação Económica e Social, dedicada à análise das relações entre envelhecimento e urbanismo, e é co-director do Institudo de Investigação Colaborativa sobre Envelhecimento da Universidade de Manchester, que tem trabalhado com a câmara municipal na estratégia para fazer da cidade “um óptimo lugar para envelhecer”. Parece-lhe óbvio que a sociedade tem de se preparar para o bem e para o mal.
O envelhecimento no Reino Unido é mais modesto do que noutros países europeus, mas inspira grande debate público.Já se fala em envelhecimento na Europa desde os anos 50. O debate varia com os anos e é diferente de país para país. No Reino Unido, não é tanto sobre a proporção de idosos, é mais sobre temas específicos, como o impacte de um número crescente de pessoas com um grande grau de necessidades.
O que fazer para as pessoas que estão a envelhecer se manterem independentes até mais tarde?
Há tendência para associar envelhecimento a dependência, mas a maioria dos idosos é independente. Se olharmos – e isto também é verdade em Portugal – para as pessoas de 60, 70, 80 anos, vemos que são activas na família e na comunidade. As pessoas não deslizam para a senilidade só porque atingiram 60 anos! Acho que é um problema a sociedade ter uma visão tão negativa do envelhecimento. A idade da reforma subiu e continuará a subir e espero que isso estimule um debate sobre as capacidades e as competências das pessoas mais velhas. Falar em pessoas mais velhas hoje é diferente do que era há 10 ou 20 anos. E o que é ser idoso? É muito diferente ter 60 ou 90 anos.
Por isso se fala em quarta idade...
Há essa discussão. Na terceira idade, as pessoas aspirariam a mudar de estilo de vida ou a desenvolver um estilo de vida que de certo modo já tinham. Na quarta idade, estariam mais preocupadas com problemas de saúde física e mental. No momento em que as pessoas se tornam, digamos, invisíveis é difícil encontrarem apoio, em particular se tiverem demência. Agora, essas questões são tão importantes que acho que temos de trazê-las para o centro do debate nacional. No Reino Unido, discute-se muito a demência, o impacto da demência, a forma como isso vai afectar os recursos públicos.
E maneiras de as pessoas se manterem nas suas comunidades, com controlo das suas vidas enquanto for possível...
Isso é muito mais interessante do que confiná-las às suas casas ou a instituições. Há uma grande mudança de mentalidade a fazer para aceitarmos que ter mais pessoas com demência é o resultado natural de ter mais longevidade. Temos que esperar coisas boas (mais pessoas que estão aptas) e coisas más (mais pessoas que não estão bem, que são muito frágeis). O desafio é ter políticas para as cidades incluírem uma diversidade de pessoas mais velhas, que podem querer ir aos museus, aos cinemas, aos concertos, ser activas, mas que lutam para se manterem envolvidas da maneira que sempre estiveram. As cidades modernas são muito orientadas para o comércio, para o lucro, para a juventude.
Como pode essa mudança ser feita?
O papel dos políticos é importante. Não basta dizerem: "precisamos de organizar serviços". Também têm de dizer: "queremos ter a certeza de que desenvolvemos políticas que são inclusivas, que garantem que as pessoas mais velhas fazem realmente parte da sociedade". Acho que se pode fazer campanhas contra o preconceito de idade, contra a violência sobre idosos, em favor dos prestadores de cuidados. Alargar estes debates é extremamente importante para que as percepções vão mudando. Eu diria que numa sociedade em processo de envelhecimento, provavelmente, a maioria das pessoas vai ter alguma forma de demência. Se olharmos para as pessoas de 90 anos, dois terços têm demência. Então, como sociedade, por que não nos prepararmos? Por que não dizermos: "Bom, vamos ser velhos, estamos a caminho de alguma forma de demência, queremos estar preparados"? Este debate é muito importante, mas é ofuscado por outros problemas, como a depressão.
E o isolamento, a solidão...
A solidão pode ocorrer em qualquer idade. É maior na velhice, claro, porque as pessoas já tiveram muitas perdas. O problema de dizer isso é que parece que a solidão faz parte do envelhecimento. Às vezes, as pessoas são solitárias porque têm uma deficiência e não podem sair. Se se enfrentar isso, enfrenta-se a solidão. Acho que muitos se escondem atrás do rótulo da solidão. O Reino Unido tem gasto muito dinheiro nisso. Os políticos adoram. Alguém levanta-se no Parlamento e diz: "Vou fazer algo contra a solidão". Ninguém discordará e provavelmente atrairá uma carga de votos. Imagine-se um político que se levanta e diz: "Quero ter a certeza de que as pessoas com deficiência não têm problemas em sair de casa". Quanto é que isso custa? Bom, é esta a ideia das cidades amigas dos idosos, como Manchester.
E dos bairros amigos dos idosos...
Sim. Acho que esse é um conceito muito útil porque 80% do tempo das pessoas com mais de 70 é gasto em casa e na vizinhança. O argumento é: se eu melhorar a qualidade de vida no bairro, vou melhorar a qualidade de vida dos idosos que lá moram. Trabalhando à escala de um bairro, posso definir metas muito realistas. Posso pensar em muitos aspectos concretos, como se fez em Old Moat, no Sul de Manchester: como ter uma variedade habitacional que inclua uma oferta apropriada a idosos, como garantir transporte público dentro do bairro, como melhorar o desenho do bairro para que as pessoas não se percam, onde colocar bancos? É preciso ter uma perspectiva de cidade e uma perspectiva de bairro, porque há coisas que se conseguem num nível e coisas que se conseguem noutro.
Manchester é uma espécie de farol das cidades amigas dos idosos. Quais as principais lições que podemos aproveitar?
Primeira lição: a colaboração com as universidades, com as organizações, com os grupos de voluntários é muito importante. As parcerias podem ser muito úteis em termos de difusão da mensagem, de angariação de recursos extra, de alcance de trabalho. Segunda lição: o apoio político é vital. Isso não é simples, porque não se está a fornecer um serviço directo, mas uma visão sobre envelhecimento na cidade. Terceira lição: deve tentar-se chegar aos diferentes grupos da população mais velha. É difícil em cidades como Manchester, que têm um grande número de grupos étnicos, de círculos eleitorais, mas é fundamental ter a certeza de que o trabalho que se está a fazer reflecte a diversidade da sociedade.
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