A frase que dá título a este texto não é nossa. Mas temos pena. Roubámo-la a uma marca de relógios que “em tempos” a usou em publicidade. Conhecem a sensação de encontrar alguém que escolhe as palavras certas para dizer ou escrever o que sempre pensámos? Foi essa inveja (da boa) que sentimos. Já foi há algum tempo…
Outro roubo: “Aqui, até o tempo descansa.” Desta vez, a ideia partiu de uma divulgação de alojamento em pousadas. Bem pensado, não?
Dimensão a que não podemos escapar, a palavra “tempo” é recorrente no nosso discurso: “Já não te via há tanto tempo”, “ao tempo que isso foi”, “dar tempo ao tempo”, “como o tempo passa”, “naquele tempo…”, “atrás do tempo, tempo vem”. Há uma expressão que muitos repetem e que causa irritação (da má): “Não leio mais porque não tenho tempo.” Sim, sim. Há um título de canção que causa nostalgia (da boa) por recordações de gente mais velha, Ó tempo, volta para trás.
Mas as melhores frases que ouvimos foram sempre de pessoas que nasceram há muito tempo e estavam de bem com isso. Como uma senhora pequenina e de bengala a quem bloqueámos a passagem, sem nos apercebermos, numa fila de cadeiras de uma sala de espectáculos: “Não se preocupe menina, eu tenho tempo.” Ainda assim, desculpámo-nos, com embaraço. “Olhe bem para mim. Mais do que ter tempo, eu sou o tempo”, disse-nos. E lá foi, com todo o tempo, até à saída do auditório.
Outra: “Eu sou mais velho do que o tempo.” Ouvimo-la a alguém com quase 80 anos, dez filhos e gargalhada sonora. Pedimos explicações e obtivemo-las: “A minha mãe sempre me disse que eu nasci antes do tempo. Só posso ser mais velho do que ele.” Ainda nos fez saber que não tinha medo da morte, mas tinha pena que ela chegasse.
Para alguns dos que ajudaram a fazer o PÚBLICO nestes 25 anos, ela chegou mesmo “antes do tempo”. Mais roubos (não nossos e dos maus): Ana, André, António, Artur, Carlos, Carlos, César, David, Eduardo, Fernando, Fernando, Francisca, Francisco, Franklim, Gonçalo, Graça, Guilherme, João, João, João, João, José Alexandre, Luís, Luiz, Manuel, Maria do Céu, Miguel, Mitó, Pedro, Samuel, Tereza, Torcato.
O tempo que partilhámos com eles é o que fica. Será essa dimensão vivida com alguém que também ficará de nós. Porque falar de tempo é quase sempre falar de memória (da boa e da má). O tempo é mesmo o que fazemos dele.
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