Memórias de Família

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O velho guerreiro

Luís Veríssimo d’Azevedo estava casado pela terceira vez quando partiu para a frente

Luís Veríssimo d’Azevedo não era um jovem inexperiente quando partiu para a frente de guerra, em França. Nascido a 21 de Maio de 1866, em Leiria, Luís não só tinha idade suficiente para ter sido louvado por um rei português, pelo seu “selo e dedicação” no cargo de professor da Escola Central de Sargentos da Arma de Infantaria, como já estava casado pela terceira vez.

A sua vida militar tinha começado a 21 de Janeiro de 1886, quando se voluntariou para o Regimento de Infantaria 23. Daí até partir para França, já como major, passariam décadas e vários cargos. Quando embarca para França, a 20 de Junho de 1917, fá-lo como membro do Estado-Maior da Artilharia e como responsável pelo 1.º G.B.M. (Grupo de Baterias de Morteiro), do qual seria nomeado comandante a 5 de Setembro desse ano.

Na véspera de Natal de 1917, começa a gozar uma licença de 25 dias e, quando regressa à frente, em Janeiro de 1918, atribuem-lhe o comando interino da 1.ª Divisão. O seu desempenho foi notado e conduziu à sua promoção a tenente-coronel, ainda em Fevereiro, mas é a partir de Março, com o início da poderosa ofensiva alemã contra as linhas portuguesa e britânica que os louvores voltam a marcar a sua carreira.

Na sua ficha de combate, está referido: “Louvado pela forma como executou o bombardeamento das posições inimigas pelas 5 horas do dia 9 de Março, neutralizando a maior parte das baterias, pela excelente preparação do raid, pela maneira como as baterias do seu comando fecharam a barragem a coberto da qual a infantaria pôde operar.” O mesmo texto seria utilizado para referir uma intervenção similar dez dias depois, a 19 de Março. O sobrinho-bisneto do português, Ricardo Charters d’Azevedo, que levou a história do tenente-coronel à investigador Margarida Portela, do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, contou que Luís conseguiu manobrar a artilharia sob o seu comando, em pleno combate, sem provocar qualquer baixo nos soldados do Corpo Expedicionário Português.

Luís Veríssimo d’Azevedo também participaria na Batalha de La Lys e, de novo, voltaria a ser louvado, recebendo diversas condecorações. Recebeu a medalha comemorativa da Campanha de França e foi condecorado pelo rei Jorge V, de Inglaterra, com a Croix de Guerre avec Palme. A 3 de Maio de 1920 foi ainda agraciado com a medalha inglesa “Officer of the British Empire”.

Na recta final da guerra, o tenente-coronel foi ainda nomeado presidente do júri do Tribunal de Guerra em 24 de Junho de 1918, cargo que exerceu até 21 de Julho e, posteriormente, comandante militar de Chebourg. Com a assinatura do Armistício, Luís Veríssimo d’Azevedo não regressaria a Portugal de imediato, tendo permanecido em França até 1920, provavelmente envolvido no repatriamento dos combatentes portugueses. Embarcou, finalmente, rumo a Lisboa, 8 de Fevereiro de 1920, no navio Pedro Nunes.

O tenente-coronel iria reformar-se em 1936, antes de se iniciar o segundo conflito militar que atravessaria a sua vida. Morreu em plena II Guerra Mundial, a 31 de Maio de 1942, com 76 anos. Os seus louvores, em Portugal e no estrangeiro, descrevem-no como “um oficial zeloso, muito competente, muito cumpridor, enérgico e disciplinador”.
 

  • José António Rebelo Silva, prior da freguesia de Colares desde 2006, ofereceu-nos uma missa que nos comoveu e, espantosamente, consolou.

  • Os dias contigo são os bocadinhos de manhã, tarde e noite que são avaramente permitidos aos mais felizes.

  • O que contam os descendentes de quem viveu a guerra de forma anónima? Cem anos depois do início da I Guerra Mundial, já sem a geração do trauma, a memória reconstrói-se e tenta-se a biografia portuguesa do conflito europeu.Durante três dias, os testemunhos chegaram ao Parlamento na iniciativa Os Dias da Memória.

  • Ao contrário da generalidade dos militares portugueses evocados nestas páginas, o contra-almirante Jaime Daniel Leotte do Rego (1867-1923) não precisa de ser resgatado do esquecimento

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