O presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Faria de Oliveira, refere “há uma tendência para se generalizar a toda a banca os problemas de uma determinada instituição”. E que, algum sentimento de falta de confiança "resultará do receio de que possam existir ainda vulnerabilidades por resolver". Contudo, defende, a evolução dos depósitos, que têm crescido, "mostra bem que há uma relação dos clientes com o seu banco que se mantém estável".
Nos últimos oito anos, vários casos a nível nacional, como o do BPN, BES e Banif (diferentes entre si), e também a nível internacional, afectaram a visão que as pessoas tinham dos bancos. A confiança nos bancos em Portugal foi afectada em que grau de profundidade?
Claro que os casos referidos afectam a reputação da banca. No entanto, há uma tendência para se generalizar a toda a banca os problemas de uma determinada instituição. Quando surgem casos próximos no tempo – ainda que por motivos distintos – esse sentimento agrava-se. Penso que alguma perda de confiança resultará do receio de que possam existir ainda vulnerabilidades por resolver. Contudo, a evolução positiva dos depósitos mostra bem que há uma relação dos clientes com o seu banco que se mantém estável. Por outro lado, o trabalho realizado pelos bancos e o reforço da supervisão realizado pelo Banco Central Europeu/Banco de Portugal devem criar mais segurança nos cidadãos.
Quais foram, ou têm sido, os principais factores com impacto negativo na confiança?
A confiança no sector tende a ser afectada por comportamentos indevidos, quando há uma percepção de alguma situação de fragilidade ou se existir um impacto para os contribuintes, decorrente de auxílios públicos que tenham de ser prestados à banca.
A 18 de Fevereiro, o líder da bancada parlamentar do PS, Carlos César, afirmou que o Banco de Portugal devia recuperar “a confiança por parte dos depositantes e dos utilizadores do sistema bancário, de forma a que o país viva com maior tranquilidade". Como analisa estas declarações?
A evidência mostra que o Banco de Portugal sempre actuou privilegiando a segurança dos depositantes. Quanto à confiança e à situação actual do sistema bancário (e sem esquecer o impacto dos casos recentes), é muito importante reconhecer que a questão de fundo que afectou a banca foi a crise da dívida soberana e a consequente recessão económica. Essa crise não resultou de problemas dos bancos, pelo contrário, estes resultaram dela. O sector iniciou em 2011 um processo de desalavancagem, recapitalização e reestruturação – um esforço significativo em período de crise económica, que precisa de ser completado. Importa que bancos, Governo, reguladores e supervisores trabalhem em conjunto para que se criem as condições para uma mais rápida recuperação da rentabilidade dos bancos e um aprofundamento da solidez do sistema. E que as autoridades sejam, nas medidas que tomam, consistentes com esses mesmos objectivos. Tal requer que os bancos consigam uma acumulação sustentada de resultados positivos que permita a geração orgânica de capital. Este deve ser considerado, indiscutivelmente, um objectivo de interesse nacional, pois os bancos são o coração da economia.
O facto de o principal banco, a CGD, ser de capitais públicos, é um dado tranquilizador?
Numa eventual reconfiguração do sistema bancário português, é, sem dúvida, importante a existência de uma CGD de capitais públicos, de dimensão adequada e muito sólida.
O que poderia minar mais, neste momento, a confiança dos depositantes?
Enquanto presidente da APB, a minha convicção é a de que o sector trabalha todos os dias para merecer a confiança dos depositantes. A actividade bancária funda-se na confiança dos clientes, implica responsabilidade (perante a sociedade e os depositantes) e as suas decisões implicam risco. A confiança nos bancos depende, naturalmente, do seu desempenho, mas está também intimamente ligada à percepção dos mercados e dos clientes e, naturalmente, à estabilidade política, macroeconómica e financeira.
Apesar dos vários episódios negativos que ocorreram, os depósitos dos particulares têm vindo a crescer. Isso tem a ver com o facto de os depositantes terem sido sempre salvaguardados até agora?
Seguramente que essa salvaguarda tem influência no comportamento dos depósitos. Mas mostra também que é distinta a percepção que as pessoas possam ter sobre a banca, como um todo, da que depositam no banco com quem trabalham.
Um caso que envolva os depositantes com mais de 100 mil euros, no âmbito das novas regras de bail-in, será, a ocorrer, o “teste de fogo” à confiança nos bancos?
Importa referir que, de acordo com as novas regras europeias quanto à resolução de bancos, na aplicação do bail-in, os depositantes com mais de 100 mil euros são os credores mais protegidos e, face aos mecanismos de salvaguarda previstos nessas regras, poderão não ser necessariamente atingidos. Seja como for, espero que essa situação nunca venha a ocorrer em Portugal.
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