Memórias de Família

Memórias de Família

A uma madrinha de guerra

Pedro Augusto Soares manda esta imagem para a sua madrinha de guerra

Pouco se sabe do combatente Pedro Augusto Soares que terá estado, segundo consta, em França, como membro do Corpo Expedicionário Português. O que restou da sua partipação é apenas este postal-fotografia que dirige à sua madrinha de guerra.

Nele, Pedro Augusto Soares remete a sua profunda amizade àquela que, em Portugal, esperaria uma palavra sua e lhe enviaria umas linhas de consolo e amparo em horas mais difíceis. “Seu affilhado de guerra, Pedro Augusto Soares. Minha madrinha Ofereço-te o meu retrato como prova d´amizade tem a desculpar em ser tam ensegneficante lembrança.» Na fotografia postal surge o soldado combatente totalmente fardado, pousando em pé para uma fotografia tradicional na sua época, junto de uma mesa. O postal pertence a Nuno Borges de Araújo, é de um familiar distante da sua mulher, de quem pouco se sabe.

No imaginário português o termo madrinha de guerra surge sobretudo associado à Guerra Colonial, mas o nascimento desta figura feminina a quem, na prática, cabia animar o espírito do combatente, nasceu em França precisamente na Primeira Guerra Mundial. São deste conflito os primeiros afilhados de guerra.

As madrinhas de guerra foram introduzidas em Portugal pela associação Assistência das Portuguesas às Vítimas da Guerra, presidida pela condessa de Ficalho, uma organização católica e monárquica. Desempenharam um papel de relevo na sua actividade mulheres como a Maria Amélia de Carvalho Burnay, Maria Josefa de Melo e Maria van Zeller. Apostou na formação de enfermeiras, contando com a colaboração técnica de Reinaldo dos Santos e Domítilia de Carvalho, contribuindo bastante para a constituição do Grupo Auxiliar das Damas Enfermeiras. Do ponto de vista assistencial, preocupava-se com o apoio às famílias dos soldados, promovendo, em 1917, a iniciativa “Venda da Flor”, através da qual foi possível recolher fundos importantes, referem informações disponíveis no portal sobre a Primeira Guerra Mundial do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.

A Cruzada das Mulheres Portuguesas acabaria por também adoptar esta figura com receio de que as mulheres católicas, através das cartas trocadas com os seus afilhados de guerra, os doutrinassem na religião católica.
 

  • José António Rebelo Silva, prior da freguesia de Colares desde 2006, ofereceu-nos uma missa que nos comoveu e, espantosamente, consolou.

  • Os dias contigo são os bocadinhos de manhã, tarde e noite que são avaramente permitidos aos mais felizes.

  • O que contam os descendentes de quem viveu a guerra de forma anónima? Cem anos depois do início da I Guerra Mundial, já sem a geração do trauma, a memória reconstrói-se e tenta-se a biografia portuguesa do conflito europeu.Durante três dias, os testemunhos chegaram ao Parlamento na iniciativa Os Dias da Memória.

  • Ao contrário da generalidade dos militares portugueses evocados nestas páginas, o contra-almirante Jaime Daniel Leotte do Rego (1867-1923) não precisa de ser resgatado do esquecimento

  • Joaquim de Araújo foi uma testemunha privilegiada de alguns dos mais duros combates da guerra em Moçambique

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