A 4.ª Brigada de Infantaria do Corpo Expedicionário Português (CEP) já tinha conquistado uma reputação de bravura na frente de batalha muito antes de lhe ser confiada, em Fevereiro de 1918, a defesa do sector de Fauquissart, em Laventie, na Flandres francesa, perto da fronteira com a Bélgica, onde ainda se encontrava nesse fatídico dia 9 de Abril de 1918, quando foi dizimada pelos alemães na batalha de La Lys.
Conhecida por Brigada do Minho, porque os seus vários batalhões tinham ali sido recrutados, a brigada suportara com denodo vários ataques inimigos desde o Verão de 1917, e os seus feitos chegaram a Portugal, onde um grupo de mulheres do Minho decidiu homenagear as tropas da região. Conta a Ilustração Portuguesa, no seu número de 5 de Agosto de 1918, que lhes foi “oferecida uma bandeira pelas senhoras daquela província”.
A dita bandeira, que a burocracia de tempo de guerra fez com que só chegasse ao seu destino meses depois, quando a Brigada do Minho já se encontrava em Laventie, tinha sido bordada, diz a revista, “pela filha do coronel Barbosa e pela esposa do capitão do [Batalhão] 3, Luiz Gonzaga do Carmo Pereira Ribeiro, hoje desaparecido em combate”.
O coronel Adolfo Almeida Barbosa era então o comandante da 4.ª Brigada. Condecorado pelo Governo inglês pelos seus feitos na guerra, sobreviveu ao conflito, chegou a general e veio a morrer em 1928. Luiz Gonzaga do Carmo Pereira Ribeiro não teve a mesma sorte. Após a batalha de 9 de Abril, foi dado como desaparecido em combate, mas o seu cadáver acabou por aparecer em Laventie. Foi inicialmente sepultado em Le Touret, mas os seus restos mortais estão hoje no Cemitério Militar Português de Richebourg l’Avoué, onde se encontram as campas de quase dois mil combatentes portugueses na I Guerra.
Morto em combate aos 32 anos, Luiz Gonzaga não está esquecido, e graças às investigações de um sobrinho-neto, Carlos Ribeiro, é hoje possível reconstituir o essencial do seu percurso militar.
Filho de Duarte Dias Pereira Ribeiro e de D. Deolinda Rosa da Silva Pereira Ribeiro, Luiz Gonzaga do Carmo Pereira Ribeiro nasceu a 21 de Junho de 1885 em Viana do Castelo, numa casa da então Rua de S. Sebastião (hoje de Manuel Espregueira) em cujo rés-do-chão funcionava a farmácia paterna, a Aurea Vianense.
A família vivera antes na Póvoa do Lanhoso, onde nascera o primogénito do casal, António Manuel Pereira Ribeiro, que veio a ser bispo do Funchal durante mais de 40 anos. A sua sagração como bispo, em Fevereiro de 1915, foi a primeira sagração episcopal ocorrida no país após a implantação da República.
Luiz Gonzaga tinha ainda outro irmão, Joaquim, que seguiria a carreira do pai e veio a ser director do Sanatório de Paredes de Coura, e duas irmãs, Conceição e Dores.
Segundo as informações prestadas por Carlos Ribeiro à investigadora Margarida Portela, do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova, o seu tio-avô Luiz Gonzaga alistou-se no Regimento de Cavalaria n.º2 de Lanceiros d’El-Rei em 1905, em plena monarquia, e ali se manteve até ao final de 1909, transitando em Novembro desse ano para o Regimento de Infantaria n.º3 de Viana do Castelo.
Dois meses depois, em Janeiro de 1910, obteve licença para se casar com Maria Isabel da Cunha Palhares, mãe dos seus três filhos: Maria Amália, Margarida Maria e António Manuel, o mais novo, nascido em 1915. Por essa altura, Luiz Gonzaga chegara já a tenente, e é nessa qualidade que embarca para França, em Abril de 1917, integrado na 4.ª Brigada de Infantaria do CEP. No final de Setembro é promovido a capitão, e em Novembro é proposto para receber a Medalha de Comportamento Exemplar, grau prata. Na mesma ocasião passa a acumular as suas funções com o cargo de ajudante de Brigada, que só manteve até Janeiro de 1918.
No início desse ano esteve em gozo de licença e passou algum tempo em Portugal com a família. Regressou ao serviço no dia 6 de Março. Um mês depois, tombava no campo de batalha.
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