Viagem à Europa

Um comboio, duas mochilas, a Europa: em vésperas de eleições europeias vamos fazer um Interrail. Vamos parar aqui e ali, de Barcelona a Bruxelas, de Atenas a Berlim, de Sófia a Londres. Os pontos estão marcados no mapa, o espaço é para surpresa.

Milão, Itália

O ourives que foi à história buscar um futuro

Aldo Citterio vem de uma antiga família de ourives. “Desde 1910, há mais de um século” que esta ourivesaria, onde já couberam duas, está na sua família, conta.

Estamos mesmo perto do Duomo, a catedral de Milão, na via Orifici (“rua dos ourives”), e a história é um dos modos que Citterio encontrou de tentar contrariar o negócio decrescente – não só por causa da crise, mas também da moda: os jovens já não compram jóias como os seus pais e avós.

O mercado italiano está parado, e é no internacional que Aldo Citterio está a apostar: “Até há dois anos, eram europeus que compravam. De há dois anos para cá, são mais russos, brasileiros, e asiáticos, sobretudo chineses e indonésios”.

No desafio de adaptar ao gosto estrangeiro mas não perder o cunho italiano, Citterio foi buscar inspiração ao ambiente que o rodeia e à história. Da loja vê-se uma exposição de desenhos de Leonardo da Vinci, e foi justamente aqui que a ourivesaria apostou: em trazer à vida o único desenho de jóia feito por Leonardo. “Ele passava aqui todos os dias”, nota Citterio.

A ourivesaria registou a adaptação do desenho da jóia – anel, pendente, brincos – e agora cá está ele, em ouro ou prata, jogando com as cores dos materiais, como o cliente quiser, feito em dois ou três dias. “Cinco séculos depois, o desenho ganhou vida.”

Mas Citterio não está muito optimista. Mesmo depois da crise, que há-de acabar, os jovens vão continuar a preferir gastar o seu dinheiro em viagens e tecnologia e não a comprar jóias, nota. Por isso, encolhe os ombros quando se pergunta se o filho, que está a estudar Economia na Escócia, irá herdar o negócio e profissão do pai. “Gostava que ele começasse fora do negócio da família”, diz Aldo Citterio. “Na verdade, até fora de Itália. O clima geral aqui não é muito entusiasmante, não é bom entrar numa profissão assim.”

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À esquerda, o anel com o desenho de Leonardo da Vinci