O que se pode dizer sobre esta viagem do TGV de Barcelona para Marselha? Uma das coisas é que alguém vai acabar a Grândola na carruagem-bar.
A primeira pessoa que encontramos é Kelli Bedrossian, que faz um som muito francês quando se lhe pergunta se se sente europeia. Depois diz: “Tenho dúvidas”, para acrescentar algo mais definitivo: “Não me sinto com uma identidade europeia, não”. E francesa? “Não!”. Porquê? “Penso apenas que tive sorte de ser francesa – olho para os países ao lado e estão todos cheios de problemas, enquanto em França se está bem”.
Escultora a trabalhar em bronze toda a vida e com trabalho exposto na Galerie Felix Marcilhac, em Paris, só quer falar na necessidade de abertura e não “de nos fecharmos”.
Para ela isso significa estar em Barcelona, de onde vem, para trabalhar na fundição durante um dia, e de poder fazer o mesmo noutros locais. “Adorava fazer isso em Lisboa – já lá estive e adorei a cidade.”
Nota que este TGV em que estamos é óptimo para esta abertura e para ligar as pessoas. “Mas só as que podem”, diz. “Porque esta viagem custa 90 euros, só de ida. Ida e volta, 180 euros”. Kelly olha para o lado e diz: “Se ouvirem outras pessoas, ouvirão visões muito diferentes. Tenho a certeza de que aqueles arquitectos – acho que são arquitectos – terão uma visão diferente”, e ao sair da carruagem bar antecipa-se, dizendo logo ao grupo que duas jornalistas estão a caminho para falar com eles.
Os quatro membros do Jornet Llop Pastor arquitectos não se importam nada de conversar e notam logo que ainda recentemente colaboraram numa exposição com o tema “A rua é nossa” no MUDE, em Lisboa.
“A minha primeira viagem europeia foi a Portugal”, lembra o arquitecto Carlos Llop. “Foi logo depois da revolução do 25 de Abril, eu era muito jovem, ia a um encontro da JEC [Juventude Estudantil Católica]” . À ida passou em Vilar Formoso, ainda se lembra, na volta veio com um comboio que passava por Irún para França, “cheio de imigrantes”. “Ainda me lembro da Grândola”, diz e de seguida começa a dar os passos iniciais da música e a cantar os primeiros versos sem um engano.
Hoje, é tudo diferente. Os arquitectos estão em trânsito para Marselha, onde vão trabalhar em urbanismo. “Isto é fruto da crise”, diz Sebastià Jornet. “Antes tínhamos trabalho em Catalunha e em Espanha, agora temos de tentar no estrangeiro.” Um concurso em Toulouse, outro em Marselha, onde vão colaborar com equipas da cidade. “A crise está a tornar-nos mais europeus.”
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