Viagem à Europa

Um comboio, duas mochilas, a Europa: em vésperas de eleições europeias vamos fazer um Interrail. Vamos parar aqui e ali, de Barcelona a Bruxelas, de Atenas a Berlim, de Sófia a Londres. Os pontos estão marcados no mapa, o espaço é para surpresa.

Bari, Itália

Antes tocar funk do que falar de precariedade

Não se pode pedir a Marcello que diga mais ou menos quando voltou de Lisboa para Bari. Ele não tem datas para essa vida vivida em tanto sítio diferente, Lisboa-Bari-Botswana-Lisboa-Porto-Bari, ou é outra ordem? “É um pouco confuso”, ri-se.

Marcello lembra-se, no entanto, de muita coisa. Por exemplo: como foi no Intendente, zona em que morou em Lisboa, em que viu pela primeira vez alguém a tirar coisas do lixo. “Era algo que nunca me tinha acontecido”, lembra. “Agora vejo também aqui.”

Mas Marcello tem memórias de coisas boas de Lisboa, que conta num português intercalado com “pás”: “A criatividade, pá”, e ideias “muito giras” (“muito giro” é mesmo uma expressão que ficou quando fala em português).

Ele é o nosso anfitrião na curta visita a Bari, e vamos acabar a ver um ensaio da sua banda, os Psychodubfunkers, numa garagem de um parque de estacionamento numa zona onde não conseguiríamos voltar.

São um grupo de amigos que se juntam para tocar, e vão-se apresentando: “Fábio, designer gráfico… precário”. “Aldo, operário mecânico… precário”. Alessandro, "investigador agrónomo… precário”. Alessio, “patologista de medicina legal”… “precário!”, juntam os outros em coro. Marcello: “Fiz um doutoramento em Filosofia com o José Gil em Lisboa e de que me serve? De nada”.

Quanto à União Europeia, dizem que se sentem parte dela mas às vezes nem tanto. “Estamos na varanda a ver a Europa”, diz Aldo. “Não temos as mesmas leis aqui, antes tivéssemos”, queixa-se.

Mas não é bem disso que querem falar. Numa Itália que dizem parecer paralisada em termos de arte e cultura, preferem contar da alegria a fazer música. E foi isso que nos mostraram.

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