Tamara Moyzes tenta explicar perante a descrença: na Hungria é proibido levar da floresta pedaços de madeira com mais de cinco centímetros. A razão é muito simples, diz a artista: “É mais uma lei contra os ciganos, porque eles fazem tradicionalmente trabalho com ramos e madeira”, conta.
O trabalho de Moyzes – nascida em Bratislava, a morar em Praga, com uma exposição em Berlim e hoje em Budapeste para apresentar o seu último trabalho – pretende mostrar esta discriminação dos ciganos através da lei. Está na Galeria 8, um pequeno espaço de arte cultural roma no 8º distrito de Budapeste, onde mora uma grande comunidade cigana.
Outro exemplo: é proibido tirar coisas do lixo. Esta lei penaliza os sem-abrigo (dormir ao ar livre também é proibido em algumas zonas de Budapeste) e os ciganos. Daí que os objectos na exposição sejam todos feitos com coisas tiradas do lixo. “É arte proibida”, diz Moyzes. “A ideia era mostrar o absurdo desta lei. Acabei por me focar mais na lei do lixo, mas também tenho um objecto, o cesto, que é uma referência à lei da madeira”, explica.
Este lixo não vem de um sítio qualquer, e sim de locais onde poderia ser o museu dos ciganos, mas onde não é, porque nenhum de vários planos foi para a frente. Nem sequer há uma representação dos ciganos nos museus de etnografia, diz Timea Junghaus, curadora da galeria, na inauguração da exposição, no Dia Internacional dos Roma.
Quadros na parede mostram edifícios e até alguns projectos de um museu que nunca existiu. Moyzes “apropriou-se” de objectos nesses lugares, desrespeitando a lei, modificou-os, e depois filmou-os nos lugares que não são o museu. Também há outra lei “chocante”, lembra-se: “É proibido filmar na rua sem autorização”, diz. “Em que outro país isto existe? Talvez na Coreia do Norte?”, comenta, meio a rir.
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