Viagem à Europa

Um comboio, duas mochilas, a Europa: em vésperas de eleições europeias vamos fazer um Interrail. Vamos parar aqui e ali, de Barcelona a Bruxelas, de Atenas a Berlim, de Sófia a Londres. Os pontos estão marcados no mapa, o espaço é para surpresa.

Atenas, Grécia

Um café à espera de quem não tem dinheiro nem para um café

O quadro à entrada do café 6 tem uma espécie de corda de roupa e pequenas molas. Se nestas cordas houver pendurado um papel branco, quem passa e não tem dinheiro para um café sabe que tem um café à sua espera, que alguém pagou antes. No papel branco, está o nome da pessoa e a data em que foi feita a oferta.

O “Café à sua espera” é uma iniciativa da revista de sem-abrigo “Shedia” e é mesmo à medida do café 6. Este chama-se assim por ter seis sócios e ser um dos cafés-cooperativa que estão a surgir em Atenas como resposta à crise: sendo uma cooperativa, com o compromisso de reinvestir parte do lucro em projectos sociais, conseguem vantagens fiscais e algo que nenhum dos seus membros conseguiria fazer sozinho.

Yota Kandasi, 40 anos, conta que perdeu o emprego numa empresa de capas para sofás e em Dezembro de 2011 juntou-se com um grupo de outros cinco desempregados para fazer o café, que tem largas janelas luminosas, um balcão alto, livros que se podem levar emprestados, flores em cima das mesas de cores alegres, um menu cuidado apesar de ter preços um pouco mais baixos do geral em Atenas.

Nem tudo foi fácil, e hoje do grupo inicial restam três fundadoras e os seus maridos. Mas Yota faria tudo outra vez.

“Gosto muito do contacto com as pessoas”, diz. O café tem aulas de espanhol, em que quem estuda paga apenas mais pelo que consome no café nesse dia (o café paga sempre o mesmo ao professor). Tem concertos no Inverno (em breve será o último, porque com as janelas abertas, será demasiado barulho para os vizinhos). Organiza visitas guiadas a exposições em museus. E tem os cafés à espera. “Há muita gente a dar, e há muita gente a vir pedir”, diz Yota. “Se não houver nenhum papel, juntamo-nos e pomos um, para que o quadro nunca esteja vazio e haja sempre um café para quem não tem dinheiro nem para esse pequeno luxo.”

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