Derek Blyth é um “cidadão de Bruxelas” há mais ou menos 25 anos. Escolheu esta cidade e sente-se muitas vezes na obrigação de explicar porquê: as pessoas projectam em Bruxelas o que vêem de mau na Europa: burocracia, cinzentismo, ineficiência. Mas andando pelas ruas vê-se outra cidade: tolerante, multicultural, relaxada, simpática, acolhedora.
A cidade tem muito trazido por pessoas de fora – mas não as que trabalham nas instituições europeias, diz Derek Blyth. Com os alargamentos da União Europeia não houve grandes mudanças, apenas coisas pequenas: com a entrada de países escandinavos, “havia de repente pessoas a comprar lofts antigos e a transformá-los em apartamentos”, conta. “Não resultou”. Ou, com a entrada de Espanha, “várias regiões espanholas, como Astúrias ou Galiza, compraram edifícios abandonados e fizeram centros culturais – a maioria fechou com a crise.”
Escocês, Derek saiu do seu país em 1979, “o ano em que Thatcher chegou ao poder”, para fugir da crise. Via o Estado-nação como muito restritivo, a Europa abriu-lhe portas. Jornalista, hoje tem um guia sobre Bruxelas e faz visitas guiadas à cidade (metade dos seus clientes vem da Europa de Leste e outra metade do resto do mundo, nota).
Tem pena que o empenho na Europa tenha diminuído com a crise financeira. “Se há um problema, abandona-se o projecto?”, pergunta. Enquanto isso, os líderes europeus repetem que salvaram o euro, mesmo que isso tenha custado milhões de empregos, diz Derek, comentando: “Bom, não é isso que vai convencer as pessoas.”
Derek quer acabar a entrevista num local de Bruxelas. Andamos por ruas sinuosas, passamos pelo museu da roupa interior (há peças dos 19 presidentes de câmara do país e até uns boxers do ministro das Finanças, diz o nosso guia, explicando que “aqui os políticos não se levam muito a sério”) até que chegamos ao “centro da Europa”: a Grand Place. “Já foi espanhola, já houve um período em que foi francesa, e claro, outro em que foi alemã – uma vez e depois outra…”
Assim sublinha a altura especial que vivemos. “As pessoas pensam que a paz é o normal. Mas aqui o habitual tem sido a guerra. Somos privilegiados por viver num tempo excepcional. Temos sorte por todos os conflitos estarem contidos naquelas salas sem sol onde está Barroso reunido com os líderes europeus”.
A Grand Place é uma praça para pessoas, nota Derek. “Não tem uma estátua no meio com um homem em cima de um cavalo. Não tem polícia.” Tem esplanadas onde um café não custa o mesmo que uma refeição e ouvem-se vozes em línguas de todo o mundo.
“Para mim, a Europa é isto – pessoas a juntarem-se, a encontrarem-se, pessoas também de fora da União Europeia.” E assim acabamos a nossa viagem na Grand Place, coração da Europa.
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