Viagem à Europa

Um comboio, duas mochilas, a Europa: em vésperas de eleições europeias vamos fazer um Interrail. Vamos parar aqui e ali, de Barcelona a Bruxelas, de Atenas a Berlim, de Sófia a Londres. Os pontos estão marcados no mapa, o espaço é para surpresa.

Amesterdão, Holanda

Vender e comprar flores em Amesterdão como se fossem acções na bolsa

O mercado de flores de Aalsmeer é conhecido como a Wall Street das flores. São leiloadas flores de milhares de produtores em duas salas, com compradores (grossistas ou vendedores de flores e plantas) alimentados a café a olhar para os ecrãs, de headset, a queixar-se quando não conseguem a flor que querem.

Estão a olhar para relógios, em forma de euro, em que um ponto vermelho vai indicando as licitações. Aqui, quanto mais tempo passa, mais o preço baixa, mas é tudo muito rápido: cada transacção demora em média quatro segundos.

“Se não são rápidos enquanto o preço ainda está relativamente alto, um dos colegas vai tirá-la mesmo em frente do seu nariz”, comenta José Hougee, do centro de visitas – o nome deve-se ao facto de se chamar Blum, flor, assim usa o do marido. “Se tivesse Blum escrito no cartão nem quero imaginar as piadas”, comenta.

Mal ganha a flor, o comprador (que tem um cartão de cliente – estão registados cerca de 3 mil no mercado) paga-a imediatamente através do seu cartão, e logo no andar de baixo as coisas começam a mexer – talões de encomenda com informação que fica num autocolante e os carregadores encarregam-se de levar a mercadoria a cada um dos guichets dos compradores. Cada corredor tem os números de alguns compradores, e assim este caos de atrelados de flores, que faz lembrar as motas de uma cidade asiática mas em relativo silêncio, está bastante organizado.

Para visitas de turistas, Hougee não se cansa de sublinhar que é essencial chegar cedo – eram 8h30 quando já nos estava a encaminhar para os relógios, porque a parte da transacção pode acabar rapidamente. A azáfama depois continua, mas tornar-se um mercado parecido com os mercados normais.

Com 85% das flores vendidas aqui a serem exportadas, e destas 75% a terem como destino o mercado europeu (Alemanha, França e Grã-Bretanha são os grandes compradores), a empresa beneficia da presença da Holanda n União Europeia. Aliás, a queixa até é que há regras que poderiam estar mais uniformizadas, diz Hougee.

A crise notou-se aqui mas apenas um pouco: “As pessoas começaram a comprar mais plantas. Mas já começamos a ver que é uma tendência que se está a inverter de novo”, comenta.

Quanto às flores, apesar de haver preferências variadas em diferentes países, os clássicos mantém-se. Uma rosa é sempre uma rosa e é a flor mais popular, seguida das tulipas locais e dos crisântemos. Quanto às diferenças, Hougee dá um exemplo: “Em Portugal por exemplo vocês compram cravos sozinhos. Aqui não, só se fizerem parte de um arranjo. O avô do rei usava um cravo branco na lapela. Quando morreu, o último produtor de cravos desistiu deles.”

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