Viagem à Europa

Um comboio, duas mochilas, a Europa: em vésperas de eleições europeias vamos fazer um Interrail. Vamos parar aqui e ali, de Barcelona a Bruxelas, de Atenas a Berlim, de Sófia a Londres. Os pontos estão marcados no mapa, o espaço é para surpresa.

Barcelona, Espanha

A tarte como meio de protesto

Ele é o Agent Apple Pie - agente tarte de maçã. Dá a cara sem problema (ainda que para a sessão tenhamos tido que subir bem alto a um telhado/terraço bem no cimo de um prédio no bairro do Born) mas o nome é melhor não.

Afinal, o seu modo criativo de protestar pode acabar com alguma sanção, e ele sentiu-o na pele quando passou 13 dias preso por ter atirado uma tarte contra o CEO de uma empresa norte-americana, Charles Hurwitz, no final dos anos 1990.

“No contexto, pareceu-me que o preço a pagar – um pouco de tempo na cadeia – não era assim tão alto”, diz, confessando no entanto que quando atirou a primeira tarte em 1998 nos EUA (o alvo foi o economista Milton Friedman) “sabia que me quereriam castigar – mas não fazia ideia do que poderia acontecer”.

O agente não dá muitos pormenores sobre algumas das acções ou sobre o sucesso do “pie and fly” – atirar uma tarte e fugir. Mas defende que “less is more” – a ideia não é agredir a pessoa, sublinha, apenas manchar a sua imagem.

Os “alvos” sabem disto, e o agente tarte de maçã diz que se notou alguma diferença após as primeiras tartes em que os visados “ficavam visivelmente furiosos e isso ainda piorava mais a imagem”. Mais tarde, começaram a aparecer reacções mais simpáticas: “Sorriam, limpavam e diziam: ‘oh, cereja... teria preferido amora’. Claramente a máquina de relações públicas instruiu-os”.

Também defende cuidado na relação entre quem atira a tarte e quem a recebe: “Um grupo de brancos a atirar tartes a um negro talvez não seja a melhor ideia. Quatro homens a atirar uma tarte a uma mulher também não.” Há muitas mulheres a atirar tartes? “Há sim!”, diz o agente de maçã, que trocou a Costa Leste dos EUA por Barcelona depois de numa visita há sete anos se ter “apaixonado pela cidade”.

Desde que se lembra deste modo de protesto nos anos 1990 (sublinha que antes já nos anos 1970 se atiravam tartes com este objectivo), houve mais ou menos 220 pessoas que foram alvo de tartes, aponta. Admite que o seu grupo, a Biotic Baking Brigade, tem estado um pouco parado ultimamente. “Estas coisas têm picos inexplicáveis”, reconhece. “Mas não é por falta de razões para protestar – há todas as razões do mundo especialmente agora, em que o poder de usar o humor e a comédia como expressão política seria muito bem-vindo.”

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