Viagem à Europa

Um comboio, duas mochilas, a Europa: em vésperas de eleições europeias vamos fazer um Interrail. Vamos parar aqui e ali, de Barcelona a Bruxelas, de Atenas a Berlim, de Sófia a Londres. Os pontos estão marcados no mapa, o espaço é para surpresa.

Marselha, França

"Esta cidade é demasiado liberal"

Myriam e Inès estão sentadas num degrau de uma porta a conversar animadamente. Myriam, a mais velha, acaba por fazer de porta-voz da conversa do alto dos seus 16 anos. Ainda não sabe bem que o fará depois do liceu, mas está a apontar para a política. E tem as suas opiniões, firmes, que vai disparando: “O que precisávamos aqui era de mais regras, de mais ordem. Esta cidade é demasiado liberal”, defende. Quando perguntamos em que sentido, explica: “Era preciso limites também à imigração: estas pessoas estão em França para ter trabalho, mas depois passam para a delinquência”, queixa-se.

Se votasse hoje, não sabe em quem votaria, mas sabe em quem não votaria: “No Presidente! Prometeu que faria tanta coisa e não fez nada”. Do partido de quem toda a gente fala, a Frente Nacional, encolhe os ombros e prefere não comentar. Já Inès, um ano mais nova, vai-se mantendo calada enquanto a amiga fala.

“Há pessoas que pensam que são superiores e isso não pode ser, somos todos humanos”. Por momentos, pensamos que pode estar a falar de ter origens estrangeiras (marroquina e argelina). Mas não é isso: “Não, isso aqui não faz qualquer diferença. Aqui há muitas culturas e isso é bom. É mais entre ricos e pobres, por exemplo; mas somos todos iguais, todos humanos”, diz. Esse sentimento aumenta quando falamos do lenço de Inès: “É complicado”, diz ela, falando pela primeira vez. “Ainda há quem pense que os muçulmanos são terroristas”, queixa-se. “Fiam-se muito nas aparências e confundem tudo.”

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